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MST: agronegócio pode se beneficiar do escândalo da merenda

Programas que preveem aquisição de alimentos oriundos do modelo familiar podem sair prejudicados apos denúncias de esquema de corrupção. Apeoesp defende CPI

Eduardo Saraiva de Oliveira e Marco Cardelino/Alesp

Capez, ao lado de Alckmin, é acusado de receber propina nos contratos da Coaf com a Secretaria da Educação

São Paulo – “É da natureza do ‘tucanato’ todas as formas possíveis de fazer uma arrecadação financeira com corrupção em todos os programas. No metrô de São Paulo, em todos os programas de privatização e, em todos outros programas. Nenhum foi apurado”, diz João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em entrevista à Rádio Brasil Atual, ele lembra o esquema de corrupção envolvendo merendas das escolas da rede pública estadual de São Paulo e políticos do PSDB.

O MST teme que esse escândalo seja utilizado para os interesses do agronegócio, prejudicando a agricultura familiar no estado. Atualmente, existem programas estaduais, como o Alimentação Escolar, que prevê o uso de até 35% da verba para a compra de alimentos oriundos do modelo familiar. “Precisamos separar e defender os programas sociais, em nível estadual e federal, de compra de alimentos”, disse Rodrigues.

“Há uma pressão muito grande, em especial por setores do grande capital que atuam na agricultura, para acabar com esses programas, pois eles beneficiam o pequeno agricultor. Então, as acusações devem servir para pegar os culpados que se utilizaram desses programas para a corrupção, e não acabar com eles”, defende o coordenador.

A Cooperativa Orgânica de Agricultura Familiar (Coaf) é a principal investigada no escândalo da merenda, que envolve diretamente o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Fernando Capez (PSDB). A Coaf recebeu, apenas em 2015, R$ 11,2 bilhões da Secretaria da Educação, pela venda de suco de laranja para escolas. A cooperativa ainda é acusada de fraudar contratos de merenda e financiamentos públicos, com pagamento de propinas de até 10% para políticos tucanos.

Para a presidenta do Sindicado dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, o alto custo dos contratos é incondizente com a má qualidade das merendas. “Fazem estes contratos bilionários com merenda de baixa qualidade. Devemos fazer uma grande luta em torno desta questão.”

A Apeoesp propõe a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia para investigar o esquema que envolve nomes do núcleo político do governador tucano Geraldo Alckmin. Até o momento, a abertura da CPI conta com 19 assinaturas, sendo que são necessárias 32. Assinaram, por enquanto, os 15 deputados do PT e dois do Psol, do lado da oposição, além de um parlamentar do Solidariedade e do próprio acusado, Fernando Capez.

Para o líder do PT na Casa, Geraldo Cruz, a assinatura de Capez abre caminho para instaurar de fato a CPI. “O posicionamento do Capez coloca uma situação difícil para os deputados que não querem assinar. Afinal, quem está sendo acusado assina. Por que os outros não?”, questiona. “Vamos tentar convencer outros deputados, e também, conversar com movimentos sociais para fazer esta movimentação para instaurar a CPI.”

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