Abertura do Congresso

Wyllys vê covardia em deputados que vaiam Dilma e poupam Cunha

Presidenta enfrentou protestos ensaiados de parlamentares. 'Motivos das vaias não são erros de Dilma, mas o fato de ser mulher', disse deputado. 'Nenhum macho da oposição de direita ensaiou vaias a Cunha'

Wilson Dias/Agência Brasil

Dilma cumprimenta Cunha sem entusiasmo, durante chegada à sessão que encerrou recesso legislativo

Brasília – O deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) criticou acidamente os parlamentares da bancada oposicionista que vaiaram a presidenta Dilma Rousseff, hoje (2) à tarde, no Congresso. Em um gesto de interesse na aproximação entre Executivo e Legislativo, Dilma decidiu enfrentar pessoalmente o clima de hostilidade instalado desde o início de seu segundo mandato.

Em sua página na rede social, o parlamentar fluminense – que não integra a base governista – descreveu que os “aplausos efusivos” da maioria dos presentes ao plenário da Câmara “engoliram a fracassada tentativa da oposição de direita (PSDB, DEM e PPS) de iniciar uma vaia contra a presidenta”. Segundo Wyllys, a oposição não desistiu. “Esta oposição mal disfarça sua misoginia, machismo e falta de educação em relação a Dilma”, disse.

“Acabou há pouco a sessão solene de abertura dos trabalhos do Congresso Nacional em 2016 com a entrega da mensagem feita pela presidenta Dilma. Já na chegada, ela firmou posição: cumprimentou friamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ao passo que foi carinhosa com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski”, descreveu Wyllys para em seguida observar que nenhum presidente (“Todos homens até a chegada de Dilma”) foi tão hostilizado em sessão de abertura do ano legislativo.

“Logo, o motivo dessa tentativa de ‘avacalhar’ a liturgia, antes sempre respeitada, não são os erros de Dilma, mas o fato de ela ser mulher. Nenhum dos machos da oposição de direita ensaiou vaias a Cunha, formalmente denunciado por crime de corrupção e lavagem de dinheiro… Dá vergonha de ver esses homens de terno preto e cabelos brancos se comportando como alunos do fundão do Ensino Fundamental. Vergonha!”, reiterou o parlamentar.

Durante a sessão, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) enviou mensagem também pela redes sociais em que ressaltou a importância da presença da presidenta. “Quebrando uma tradição de anos, que os presidentes não comparecem, ela veio pessoalmente mostrando coragem, altivez e afirmação de sua liderança”, disse. Jandira registrou com perplexidade “algumas figuras da oposição que não conseguem perceber a relação institucional (…) com alguns cartazes panfletários contra a CPMF e pessoas vaiando o Minha Casa, Minha Vida e tentativas de desqualificar a presidenta”.

Dilma fez questão de ir e ler a mensagem do Executivo ao Congresso, como forma de demonstrar sua intenção de estreitar o diálogo com os parlamentares e a sociedade civil. Chegou a – num gesto de descontração poucas vezes visto no plenário Ulysses Guimarães – distribuir beijinhos e em seu discurso pediu parceria e apoio ao Legislativo. Mas também teve de encarar o outro lado dessa receptividade, protagonizado pelos oposicionistas.

O gesto dos opositores instalou um ambiente poucas vezes observado com um presidente da República dentro do Congresso, quando pediu apoio para a votação das propostas de prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) e da recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Neste momento, cartazes com a frase “Xô CPMF” foram levantados e vários deputados se posicionaram de costas para ela, numa cena visivelmente ensaiada.

Sem se deixar abater, embora deixando de lado o semblante risonho que apresentou na entrada do Congresso, a presidenta prosseguiu afirmando que espera contar com o Legislativo para fazer o Brasil chegar a patamares mais altos, de forma a alcançar a estabilidade fiscal que assegure a retomada de investimentos. “Este ano queremos construir uma agenda com o Congresso que priorize o ajuste fiscal e leve o país a um cenário de maior confiança na economia brasileira”, ressaltou.

Dilma também destacou que este ano proporá ao Congresso reformas para aumento do gasto primário e que combinem metas mais flexíveis de resultados com limites mais restritivos de gastos. Ela enfatizou que esse processo já foi iniciado no ano passado, com as mudanças nas regras de seguro-desemprego e do abono salarial, entre outras medidas. De acordo com a presidenta, nesse ajuste, os programas prioritários estão garantidos e a visão do Executivo é reformar, mas ao mesmo tempo preservar mais os programas sociais, o que levou a vários aplausos dos deputados e senadores de apoio ao governo.

Previdência futuro

“Uma crise é um momento muito doloroso para ser perdido. Neste momento nos cabe buscar a sustentabilidade da Previdência Social dentro de um contexto de futuro para a população. Em 2050, teremos uma população em idade ativa similar à atual, mas a população com idade acima de 60 anos será três vezes maior do que hoje. E precisamos pensar nessa perspectiva de futuro”, destacou Dilma.

Ao mesmo tempo em que tocou num ponto considerado polêmico, a presidenta acrescentou que uma eventual reforma só sairá após ser “amplamente discutida com todos os setores da sociedade, os parlamentares e o fórum dos trabalhadores que trata do tema”.

“Não queremos tirar qualquer direito dos brasileiros, mas é preciso dizer para todos que a reforma da Previdência não é uma questão de governo e sim de Estado”, afirmou.

Ao falar na proposta de recriação da CPMF, Dilma fez um apelo para que os parlamentares que se posicionam contrários à matéria “procurem pensar no país e se ater aos dados, uma vez que a arrecadação da União tem apresentado quedas nos últimos anos”. “Debateremos o quanto for necessário este assunto com a sociedade. Muita gente tem dúvidas e argumenta suas posições, mas o que peço é que levem em conta dados e não opiniões.”

A presidenta concluiu o seu discurso externando a preocupação do governo com medidas de estímulo e incremento ao setor energético e o combate firme que fará ao longo do ano para acabar com a epidemia do Zika vírus e a microcefalia. Saiu conduzida, como é de praxe, pelo presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Renan e o presidente do Judiciário, ministro Ricardo Lewandowski, ganharam beijos de cumprimento da presidenta. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e desafeto declarado do Palácio do Planalto, recebeu um cumprimento de mão.

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