Crise política

Temer tenta evitar confronto para não ter nome ligado a tentativa de golpe

Vice-presidente foi procurado hoje por várias alas da sigla para discutir os problemas que envolvem sucessão de líderes, a executiva nacional e a substituição de Cunha, mas evitou dar declarações mais fortes

Janine Moraes/Câmara dos Deputados

Temer tenta ser discreto, mas procura intervir em todas as polêmicas que dividem seu partido neste início de ano

Brasília – O PMDB vive dias difíceis com grandes questões internas para decidir neste período de recesso do Legislativo. E mesmo com a realização de várias reuniões de deputados e caciques do partido com o vice-presidente Michel Temer – presidente nacional da legenda – as dúvidas são muitas e as divisões cada vez mais nítidas.

Fazem parte dessas articulações a fragilidade da aliança entre a sigla e o governo, a escolha do novo líder do partido na Câmara, em fevereiro, a votação do próximo presidente da executiva nacional, em março, e, por fim, o trabalho que já vem sendo negociado para escolha de um nome que possa substituir o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), investigado por contas não declaradas no exterior, abastecidas por dinheiro proveniente de corrupção – e cujo afastamento foi pedido pela Procuradoria-Geral da República.

Diante de tanta turbulência, o vice Michel Temer chegou a Brasília ontem para atuar como bombeiro em todas estas questões. Embora tenha designado seus dois fieis escudeiros, os ex-ministros e ex-deputados Eliseu Padilha e Moreira Franco para partirem para a linha de frente e de ter declarado que não quer se envolver diretamente em tais questões, Temer está mais empenhado do que nunca em acompanhar tudo e tentar evitar atritos dentro da sigla.

Os objetivos, segundo um parlamentar que conversou com o vice, são evitar um confronto direto com o Palácio do Planalto e não ter seu nome atrelado a qualquer manobra para aprovar o processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff – o que seria um claro desgaste para a sua imagem.

“O Michel não blefou quando disse que quer um 2016 de harmonia. Ele está preocupado tanto com a aliança com o governo, se para o bem ou para o mal, como também com a desunião reinante no partido”, afirmou este parlamentar. Na prática, a grande discussão da semana diz respeito à disputa pela liderança peemedebista da Câmara, cuja eleição está programada para fevereiro.

Divergências

O atual líder, Leonardo Picciani (RJ), tem contado com o apoio direto do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes para se manter no cargo. Só que Picciani trabalha para que, em função do abaixo-assinado contra ele que o destituiu por dez dias da liderança em dezembro passado, os acordos anteriormente firmados para a votação também sejam descartados. O grupo de peemedebistas que faz oposição a Picciani e ao governo, ligado a Eduardo Cunha, não aceita.

“Se eles descumpriram o trato na hora de encaminhar aquela lista, então o acordo não tem mais por que ser cumprido”, destacou Picciani. O problema é que o acordo feito pela executiva nacional do partido foi de que o líder da legenda só poderia ser reeleito se contasse com dois terços do total de votos da bancada. O grupo ligado a Picciani, quer que a eleição aconteça por maioria simples – a metade dos votos mais um.

“Não vamos aceitar. A lista pedindo a destituição dele teve um propósito claro que foi combater os desmandos da sua atuação na liderança. Não tem nada a ver com o acordo firmado anteriormente e não se justifica que o sistema de votação venha a ser desfeito”, rebateu um dos maiores adversários de Picciani, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB) – que disputou a liderança com ele no ano passado e perdeu por um voto.

A questão pesou para Michel Temer porque, ao procurarem o vice-presidente para pedirem apoio na condução de outro líder para o partido em fevereiro, os parlamentares da legenda que são oposicionistas insuflaram ainda mais as especulações de manobras para atuação contra o governo e de fim da aliança PT-PMDB.

E apesar das negativas de Temer, é sabido que um dos motivos da carta em tom melancólico enviada por ele à presidenta Dilma Rousseff no início de dezembro continha críticas diretas à maior atenção dada pelo Palácio do Planalto a Picciani do que a ele próprio como vice-presidente.

Executiva nacional

Na ala que trabalha pela mudança do atual líder há uma outra divergência: entre os deputados Leonardo Quintão e Newton Cardoso, ambos de Minas Gerais e ambos já negociando apoio entre os pares e trocando farpas publicamente em seu estado.

Enquanto essa negociação caminha, Temer tem outro pepino pela frente, que é enfrentar a condução da executiva nacional do partido, cuja primeira reunião do ano está prevista para o início de março e deverá indicar um novo presidente nacional.

O vice tem pretensões, até para assegurar seu poder, de ser reconduzido, mas nos bastidores do Senado, é tido como certa a articulação de uma chapa com nome ainda a ser escolhido, por parte dos senadores Renan Calheiros (AL), Romero Jucá (AP) e Eunício Oliveira (CE) – que não estariam satisfeitos com a condução dos trabalhos por parte do vice-presidente na executiva nacional do PMDB.

A terceira fogueira que os peemedebistas têm para apagar diz respeito à crescente iniciativa do deputado do partido, Jarbas Vasconcelos (PE) em concorrer à presidência da Câmara numa possível substituição a Eduardo Cunha.

Jarbas – considerado o mais tucano dos integrantes da legenda – tem apoio dos partidos da oposição e da ala oposicionista da legenda. Portanto, não é visto com bons olhos pelo grupo da sigla que apoia o governo, inclusive por já ter se declarado favorável ao impeachment e ter dito que a presidenta Dilma deveria renunciar.

O clima é de desarmonia. “Ele (Michel Temer) veio direto para Brasília esta semana para participar de várias reuniões e tentar ouvir mais do que dar conselhos. Está preocupado com a situação e espera que nas próximas semanas, com esse período em que os parlamentares estão mais nos seus estados, os ânimos de todos sejam arrefecidos”, afirmou um interlocutor próximo ao vice-presidente.

Mas a agitação em torno de todos estes temas deixaram a agenda do anexo do Palácio do Planalto e do Palácio do Jaburu (onde reside o vice) intensa. Somente hoje, Temer teve reuniões isoladas com o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, um grupo de deputados do PMDB da ala governista e um segundo grupo de deputados do PMDB da ala que quer emplacar um substituto para Picciani em fevereiro. Ainda está previsto um encontro do vice, no Jaburu, até amanhã, com senadores do partido.

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