Disputa

Jucá se apresenta como alternativa para o comando do PMDB

Senador é visto como ponto de consenso para acalmar disputas internas entre Temer e Calheiros. Mas há temor de que, por ter apoiado Aécio, ele dê mais poder à ala oposicionista do partido

Memória EBC

Até convenção do partido em março, muitas emoções

Brasília – Na disputa pela presidência nacional do PMDB, o dono da bola não é Michel Temer, nem Renan Calheiros. Segundo informam aliados, ambos concordam que, para a sigla não se esfacelar nem perder cargos no governo, precisam chegar ao que está sendo chamado de mais um “acordão”. A única forma de o PMDB seguir “unido”, mesmo com todas as suas divisões e fragilidades, seria levar um fiel da balança a presidir a sigla. Esse nome, discute-se, é o do senador Romero Jucá (RR).

Segundo o “acordão”, Jucá seria candidato a vice em chapa única encabeçada por Temer. Pouco tempo depois, assumiria o comando enquanto Temer for vice-presidente da República – que ficaria licenciado do cargo da executiva. O senador, por conta disso, mesmo em férias e fora do país, continua sendo procurado. E seu gabinete dá sinais de que as atividades parlamentares estão a toda, apesar do recesso.

Michel Temer preside a sigla há 15 anos, e já não tem mais os apoios que tinha antes no Congresso Nacional. Não garante votos necessários nem quando está atuando para ajudar o governo, nem quando trabalha para se manter omisso na apreciação de matérias com as quais não concorde.

Ele e seu grupo, formado pelos ex-deputados Eliseu Padilha (RS) e Moreira Franco (RJ), entre outros, consideram que perder o comando da executiva nacional peemedebista o tornará um vice-presidente ainda mais “decorativo” do que já reclamou ser em carta enviada a Dilma Rousseff em dezembro.

Renan Calheiros (AL), por sua vez, a outra ponta desse cabo de guerra, pretende demonstrar mais força para continuar a presidir o Senado e se equilibrar na balança de denúncias que envolvem a Operação Lava Jato, na qual teve o nome citado diversas vezes.

Renan também vê uma oportunidade única de acumular poder na presidência do partido e junto ao Palácio do Planalto neste semestre – uma vez que, caso o processo de impeachment passe na Câmara, caberá a ele, como presidente do Senado, conduzir a votação que dará a última palavra do Congresso sobre o tema (a dos senadores).

Encontros secretos

Nessa questão interna, o que se tem visto é uma troca de farpas comum entre ambos nos últimos meses e notícias sobre encontros secretos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com Temer, sobre apoio dos senadores à recondução do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Além de encontros em separado de Temer e de Calheiros com Jorge Picciani (pai do líder peemedebista e presidente do diretório regional da sigla no Rio de Janeiro).

Confusão? Falta de nitidez sobre quem está do lado de quem? “Não tem importância. O PMDB sempre foi assim mesmo”, brincou um senador. “Ali é como se diz em sociedade, tudo se ajeita”, disse rindo um deputado do PTB que já pertenceu à sigla.

Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), ninguém quer dividir “ainda mais” o partido. Existe uma corrente que acha mais coerente o vice-presidente, pelo cargo que ocupa, ficar fora dos trabalhos da executiva nacional. “O que estamos tentando é buscar um consenso dentro de todas as nossas divergências. Não vamos trabalhar para tirar o vice Michel Temer do cargo de qualquer forma, não é assim”, afirmou.

Oliveira deu a entender que, embora seja favorável à saída de Temer, considera plausível o acordo, caso Jucá tope assumir interinamente.

Jucá, por sua vez, mesmo de longe, manda recados por meio de pessoas próximas. Diz que o PMDB “é muito pulverizado e tem questões internas diferentes, por levar em conta coligações e interesses das bases estaduais, bem mais que as outras legendas”. Considera naturais as articulações em curso, e tem acentuado que quer conversar.

Estilo camaleônico

Uma dificuldade dessa formatação da chapa da executiva nacional do partido para o governo (que tem trabalhado para tentar manter o PMDB coeso e vinculado à base aliada) é a forma camaleônica como o senador de Roraima se movimenta no cenário político.

Ex-líder do governo no Senado e no Congresso em duas legislaturas diferentes, Romero Jucá já foi do DEM e do PSDB antes de se filiar ao PMDB. Apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a presidência da República em 2014, e não a chapa Dilma/Temer. Considera-se político “independente” e que tem bom trânsito com Temer e com Calheiros. Em política, é comum o eufemismo “independente” estar associado a uma ausência de interesses programáticos que resulta em conduta pragmática.

As especulações sobre o acordo já começaram a respingar, com o anúncio hoje (15) da saída do senador Ricardo Ferraço (ES) da sigla – ele reprova a permanência na base governistas e deve se filiar ao PSDB. “Ingenuamente, cheguei a acreditar que esse afastamento (entre PMDB e governo) se daria, mas o que temos visto é a insistência na manutenção de uma aliança espúria, sem perspectivas de novos rumos”, disse.

Outro entrave para o acordão é a questão do tempo que levará para Temer se licenciar e a definição sobre os demais cargos da executiva. Comentários que circulam no Senado são de que o vice-presidente pretende ficar pelo menos até agosto; o grupo de Renan acha muito, teria de ser logo após a eleição.

Eunício Oliveira, por esse acerto, continuaria como tesoureiro nacional do partido e seria apoiado por Calheiros ser o candidato do PMDB à presidência do Senado em 2017. Temer, por outro lado, ao abrir a vaga para Jucá, não deu sinais de que deixará de trabalhar pelo seu próprio candidato ao Senado em 2017.

Também é questão a ser tratada o fato de Temer ter anunciado uma série de viagens pelos estados a partir de fevereiro, em campanha pela sua recondução. Para o grupo do PMDB governista, a viagem será pretexto para alardear sua disposição em assumir o cargo de Dilma, num apoio ao impeachment – o que seria o erro a ser evitado pelo vice.

A ala peemedebista de oposição ao governo, mais concentrada na Câmara, acha que a permanência de Temer na condução do partido tem dado mais espaço aos grupos chamados “independentes” e tirado a hegemonia dos “caciques”. Os deputados procurados dizem preferir aguardar a retomada dos trabalhos legislativos, em fevereiro para se manifestar.

Renan Calheiros, mencionado nos últimos dias em delação do ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, por recebimento de propina em contratos da estatal, tem se mantido quieto e evitado falar sobre as duas questões: as denúncias e a convenção do partido, em março.

Até lá, estão previstos a escolha ou recondução das lideranças do PMDB na Câmara e no Senado e o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o pedido do Procurador-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, para afastar do cargo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Ou seja, muita coisa está para acontecer. Inclusive os arranjos para as eleições municipais deste ano envolvendo os muitos peemedebistas com muitos interesses distintos em muitos municípios. O PMDB tem os prefeitos de um quinto 5.570 cidades do país, onde votam 23% dos eleitores brasileiros.

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