Reviravolta

Com saída de Quintão, disputa por liderança do PMDB fica polarizada

Deputado mineiro deixou candidatura depois de ficar acertado que ele poderá suceder o líder no cargo. Eleição agora terá apenas Leonardo Picciani, do Rio, e o paraibano Hugo Motta

abr

Picciani e Quintão: desistência foi negociada por intermédio do vice-presidente Michel Temer

Brasília – Quando a temperatura aparentava esfriar um pouco mais no frágil relacionamento dos parlamentares e políticos do PMDB, uma nova negociação mudou as articulações para a liderança do partido na Câmara. Desta vez, a novidade, divulgada hoje (22), foi a saída do deputado Leonardo Quintão (MG) da disputa. Quintão tinha se lançado como candidato próprio à liderança da legenda na Casa no início da semana e, com outros dois candidatos, a previsão era de um pleito apertado, com a sigla cada vez mais dividida e possibilidade de um segundo turno.

Com a desistência dele, a eleição fica polarizada. Concorrem o atual líder, Leonardo Picciani (RJ), e o deputado Hugo Motta (PB). Picciani conta com o apoio do Palácio do Planalto, a quem ajudou na condução e aprovação de matérias de interesse do governo no Congresso em 2015. Já Motta saiu candidato com o apoio do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que é desafeto de Picciani e trabalha contra o governo. Acontece que o deputado paraibano é visto também com certa simpatia pelo Executivo, por vir adotando uma postura considerada neutra em sua atuação parlamentar – mesmo tendo o nome de Cunha por trás.

Conforme informações da liderança do PMDB e de peemedebistas da base governista, a desistência de Quintão foi negociada com Picciani, com o intermédio do vice-presidente, Michel Temer. E consistiu num acordo segundo o qual fica confirmada a indicação de Quintão para a liderança do partido em 2017. Ou antes disso, ainda este ano, caso Eduardo Cunha seja obrigado a se afastar do cargo de presidente. Nesta hipótese, Picciani deixará a liderança para se candidatar à presidência da Casa, em substituição a Cunha.

De acordo com o deputado mineiro, ele resolveu voltar atrás na decisão por conta da reafirmação do compromisso feito no ano passado por Picciani de que ele será indicado candidato à liderança como seu sucessor. Quintão não falou em outros acordos, nem se lhe foi prometida alguma outra compensação, como indicação de aliados para composições importantes nas comissões técnicas da Casa pela liderança do PMDB.

Ele confirmou, no entanto, que chegou a tratar sobre o assunto com Temer, em reunião na qual o vice pediu que trabalhasse pela unidade da legenda. “Vou atuar agora pela recondução do nosso vice-presidente à presidência da executiva nacional do PMDB e para evitar novas divisões na bancada, que só atrapalham o PMDB como um todo”, afirmou.

Contradições

O anúncio de Quintão causou surpresa, não apenas devido à oposição que ele vinha fazendo até ontem (21) a Leonardo Picciani – a quem acusou várias vezes de ter rompido com acordo feito no ano passado –, e principalmente depois dele ter assumido por um período de poucas semanas a liderança do PMDB, em dezembro, num movimento que destituiu Picciani (e foi desfeito, logo depois).

Leonardo Quintão, segundo um deputado da base aliada, teria ficado bastante irritado, também, com a postura de Eduardo Cunha de preferir trabalhar pela candidatura de Hugo Motta, em vez de apoiar a sua candidatura – o que é avaliado como um fator que pode ter contribuído para a sua decisão.

Hugo Motta, por sua vez, disse que não se posicionará nem contrário nem a favor do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e pediu audiências com o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) para conversar sobre sua conduta e participação na disputa.

A posição de Motta, que demonstrou um caráter mais equilibrado caso ele seja o vencedor da eleição, deixou animadas fontes do Palácio do Planalto. Mas ao mesmo tempo, provocou dúvidas entre os integrantes da bancada, uma vez que o parlamentar também afirmou que indicará para a comissão do impeachment “metade de deputados ligados ao governo e metade formada pelo lado oposicionista dos peemedebistas”.

A eleição para a liderança do PMDB está marcada para 17 de fevereiro, e o vencedor será o que receber a maioria dos votos pelo sistema de maioria simples (metade dos votos mais um). Como a oficialização das candidaturas poderá ser feita até 3 de fevereiro, muitos políticos acham que novas mudanças neste pleito poderão ser observadas até lá.

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