Baixa no governo

Saída de Eliseu Padilha acende luz amarela do Planalto sobre posicionamento do PMDB

Secretário que deixou o cargo é articulado e bem entrosado com o Congresso. Informações de bastidores são de que sua postura teve caráter pessoal, relacionada a disputa de cargos com outros gaúchos

Pedro França/Agência Senado

Estopim teria sido disputa com petistas no Rio Grande do Sul, onde Eliseu Padilha deve buscar mandato em 2018

Brasília – Articulado e bom conversador, o gaúcho Eliseu Padilha é considerado um dos peemedebistas mais entrosados com a Câmara e o Senado, pelo trânsito que possui com integrantes de várias legendas. Embora esteja sem mandato, ele possui experiência como deputado, como ministro (já foi titular da pasta de Transportes, no governo Fernando Henrique Cardoso) e é aliado de primeira linha do vice-presidente Michel Temer. Tido como amigo fiel dos amigos e boa fonte para os jornalistas, essa fama o levou a ser retirado, em 2013, da Fundação Ulysses Guimarães para ocupar uma assessoria na vice-presidência da República – justo para ajudar no relacionamento sempre conturbado entre PT e PMDB e atuar, como foi mencionado na época, como um “algodão entre cristais”. Nesta sexta-feira (4), Padilha jogou a toalha do governo de vez.

Ele entregou o cargo de secretário nacional da Aviação Civil, que tem status de ministro, e evitou dar entrevistas até o momento. Mas deixou um rastro de especulações sobre se sua saída pode representar a primeira baixa no governo por parte do PMDB, abrindo caminho para uma debandada dos integrantes da legenda do Executivo. Líderes petistas e peemedebistas negam, e Padilha fez chegar à imprensa, por meio de pessoas próximas, que  a confusão se resumiu a pedidos não atendidos por cargos para sua base eleitoral, no Rio Grande do Sul.

Mas a verdade é que, depois que assumiu a secretaria, tudo pareceu mudar no entrosamento entre o ex-deputado e o Executivo. Eliseu Padilha não conseguia evitar nos bastidores, desde o início do ano, seu descontentamento por ser recebido pouco pelo Palácio do Planalto e por não ter retorno de muitas demandas que fazia. Para completar, em abril, chegou a se envolver numa desastrada saia-justa sobre a saída do então ministro da Articulação Política, o deputado Pepe Vargas (PT-RS).

Isso porque, ao ser sondado numa solenidade oficial sobre a possibilidade de passar a ocupar o cargo de Vargas, Padilha abriu a boca antes da hora e vazou para os jornalistas o convite. O gesto, de acordo com assessores do gabinete presidencial, teria irritado de forma profunda Dilma Rousseff. Ainda mais porque ele não aceitou o convite e contou sobre a recusa, antes mesmo do então titular da pasta ter saído.

O estopim, desta vez, teria sido a disputa de cargos com petistas que também possuem base eleitoral no Rio Grande do Sul, estado por onde Padilha tem pretensões de concorrer a um mandato eletivo, em 2018. Foi o caso, principalmente, do atual ministro do Trabalho e Previdência, Miguel Rossetto.

Deputados ligados ao agora ex-secretário dizem que tudo resultou na indicação de três nomes para o segundo escalão do Executivo que não foram atendidos. Sendo que o que teria sido considerado mais grave seria uma vaga na Agência Nacional de Aviação Civil, órgão vinculado à pasta de Padilha – onde ele dava como certo que a escolha da pessoa a ser nomeada seria de sua responsabilidade.

Ao saber da mudança de planos por parte do Palácio do Planalto, Eliseu Padilha pediu uma audiência com a própria presidenta para buscar um entendimento, mas foi atendido pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. E saiu afirmando, tanto a Wagner como a quem estivesse disposto a ouvir, que não gostou. “Que tivessem me informado desde logo que a presidenta não me atenderia”, reclamou – como contaram pessoas com quem ele trabalhou até ontem.

O fato de um secretário com status de ministro não ser atendido pela presidenta não é o mais sério, considerando-se o temperamento de Dilma, o momento tumultuado pelo qual passa o país e, principalmente, o conhecimento mais do que público em Brasília de que alguns ministros do primeiro governo, como Moreira Franco (PMDB-SP), chegaram a passar quase três anos sem conseguir uma audiência a sós com a presidenta.

O ex-senador e atual secretário municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT), ainda hoje guarda essa mágoa e afirma esperar ser chamado para um encontro com Dilma até o fim do mandato dela.

Luz amarela

Considerando-se o poder de articulação de Padilha e o bom trânsito que ele possui com o Congresso, sua saída ajudou a acender uma luz amarela entre a base aliada. O ex-ministro foi aconselhado por peemedebistas a se recolher, evitar declarações e esperar a poeira baixar, para depois decidir se quer ajudar nas articulações da base pró ou contra o impeachment (já que sempre há uma dubiedade sobre votações polêmicas do Congresso, quando se trata do PMDB).

Sua conduta, no entanto, é marcada por dúvidas sobre a própria postura do vice-presidente Michel Temer – que há meses adota um estilo de “morde e assopra” no seu apoio ao governo e à presidenta. Ontem mesmo, enquanto Dilma Rousseff reuniu 23 ministros com o objetivo de discutir estratégias para derrubar o impeachment, Temer pediu para ter uma conversa pela manhã com a presidenta e evitou a reunião, alegando compromissos oficiais em São Paulo.

De acordo com o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), que minimizou a questão do ex-secretário, a posição de Padilha teve caráter individual e, mesmo o motivo não tendo sido divulgado oficialmente, isso ficou bem claro nas conversas já tratadas entre peemedebistas sobre as razões que o levaram a deixar o cargo. “Não foi uma movimentação partidária. Vamos tratar do caso com o PMDB na próxima semana, mas é uma decisão pessoal do ministro que deve ser respeitada”, afirmou Machado.

Tudo isso provoca ainda mais desconfianças e preocupações na coalizão PT e PMDB. Por enquanto, o que se sabe mesmo é que Padilha está em Porto Alegre, onde cumpre agenda política e ficará até domingo.

Sua assessoria confirmou que ele já formalizou a saída do cargo. Avisou a amigos que a partir de segunda-feira pretende cuidar de uma das missões que mais o empolgaram nos últimos tempos e que não tem executado com o devido empenho com que gostaria: cuidar melhor da filha temporã, nascida no ano passado. Enquanto Padilha curte a família, o Palácio do Planalto dá sinais de que os tempos no governo estão longe de descansos e atividades mais lúdicas.