Mais apoio

Prefeitos dizem que processo de impeachment nasceu ‘repleto de vícios’ e defendem Dilma

Carta de 14 chefes de Executivos municipais mostra insatisfação com o pedido de afastamento e ressalta que presidenta não cometeu crime de responsabilidade. Novas assinaturas serão endossadas nos próximos dias

Roberto Stuckert Filho/PR

“Não há atos ou fatos que respaldem o início de um processo dessa natureza”, destaca o documento

Brasília – A exemplo dos 17 governadores que declararam apoio à presidenta Dilma Rousseff na última semana, hoje (14) foi a vez de 14 prefeitos brasileiros divulgarem carta elogiando a presidenta e criticando o impeachment. O documento foi elaborado a quatro mãos pelos prefeitos do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), e de Goiânia, Paulo Garcia (PT), e assinado pelos demais, que expressaram suas insatisfações sobre a possibilidade de afastamento de Dilma, embora nem todos tenham ido até Brasília. O documento foi entregue durante a reunião que começou no início da tarde e ainda acontece, no Palácio do Alvorada, entre o grupo e a chefe do Executivo.

A carta congrega prefeitos de vários partidos, desde o PT ao PMDB, PSB, PDT, PSD, PP e PSB. Para Eduardo Paes, o movimento, mais do que um reforço no apoio a Dilma Rousseff, por parte dos prefeitos, expressa a reclamação dos chefes do Executivo municipal com a abertura do processo de impeachment da forma como aconteceu, que ele chamou de “processo explícito de disputa política do presidente da Câmara com a presidenta”, em referência ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

“Não se trata de ser aliado da presidenta ou não ser, a questão é de respeito às instituições. Não existe crime de responsabilidade contra a presidenta, mas no clima de barganha política o presidente da Câmara resolveu aceitar o requerimento de impeachment. Isso não é possível”, acentuou o prefeito carioca.

Instabilidade política

O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia, destacou a questão da instabilidade política que tende a aumentar ainda mais no país com essa perspectiva de impeachment. E ressaltou que o clima ruim “não é bom para ninguém”. Segundo Garcia, o período observado no país hoje em dia é muito instável e foi provocado por políticos que não têm credibilidade” (também numa menção a Eduardo Cunha). “Isso se reflete diretamente na sociedade”, assegurou.

O documento também tem a assinatura dos prefeitos de Campo Grande, Alcides Bernal (PP); Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT); São Luís, Edivaldo Holando Junior (PDT); São Paulo, Fernando Haddad (PT); Porto Alegre, José Fortunati (hoje licenciado do PDT); Rio Branco, Marcus Alexandre (PT); Fortaleza, Roberto Claudio (PDT); Palmas, Carlos Amastha (PSB); Macapá, Clécio Luiz (atualmente sem partido); Curitiba, Gustavo Fruet (PDT); João Pessoa, Luciano Cartaxo (PSD); e Boa Vista, Teresa Surita (PMDB). E a tendência, segundo Paes, é de o número de endossos ser aumentado até o final da semana.

Tanto é que outros representantes de municípios que ainda não assinaram, demonstraram apoio à empreitada e acenaram com esta possibilidade, por meio de assessores que também estão em Brasília. O presidente da Associação Matogrossense dos Municípios (AMM), o prefeito de Nortelândia (MT), Neurilan Fraga (PSD), foi um deles.

De acordo com Fraga, os prefeitos dos municípios atendidos pela entidade já conversaram com o Palácio do Planalto sobre formas de pedir aos parlamentares, no Congresso, ajuda ao governo na aprovação das matérias que vão contribuir com a economia o país, como o projeto de repatriação de recursos no exterior e a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).

O prefeito destacou que sabe que a população teme a criação de novos impostos, mas acredita que os recursos da CPMF, caso sejam corretamente aplicados, vão melhorar a situação das prefeituras e dos cidadãos de cada município.

‘Banalização do impeachment’

Na carta, os prefeitos afirmam ainda que o pedido de impeachment da presidenta teve início já marcado por vícios, o que demonstra “uma condução desvirtuada do processo”. E criticam o que chamam de “banalização do uso do dispositivo legal do impeachment, que fragiliza as instituições e atenta contra a democracia”.

“No pedido acolhido pela presidência da Câmara dos Deputados não há atos ou fatos que respaldem o início de um processo dessa natureza. A peça se apoia em ilações e suposições que tentam sem consistência jurídica imputar responsabilidade à presidenta da República, como em pedidos rejeitados anteriormente”, destaca o documento – que é apresentado como um manifesto em defesa da democracia e das instituições brasileiras.

 

Íntegra do documento
“Em defesa da democracia e das instituições brasileiras

Nós, prefeitos de capitais brasileiras, repudiamos o acolhimento do pedido de abertura de impeachment contra a Presidenta da República, acatado pelo presidente da Câmara Federal.

Devemos respeitar a vontade da população que conferiu à Presidenta da República o exercício de seu mandato. A Presidenta Dilma Rousseff tem demonstrado retidão institucional e compromisso público no exercício de suas funções.

Vale ressaltar que a análise do pedido de afastamento se inicia eivada de vícios, que denota condução desvirtuada do processo. Por isso, os efeitos foram responsavelmente suspensos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) até decisão do Plenário daquela instituição.

A banalização do uso do dispositivo legal do impeachment fragiliza as instituições e atenta contra a democracia. No pedido acolhido pela Presidência da Câmara dos Deputados não há atos ou fatos que respaldem o início de um processo dessa natureza. A peça se apoia em ilações e suposições que tentam sem consistência jurídica imputar responsabilidade à Presidenta da República, como em pedidos rejeitados anteriormente.

As dificuldades pelas quais passa o Brasil não serão superadas a partir do desrespeito à ordem constitucional. Pelo contrário, um processo com essas características fere e desestabiliza o País. Por fim, acentuamos que o diálogo nacional deve se apoiar primordialmente no respeito à civilidade democrática e ao resultado das urnas nas últimas eleições.”