Mobilização

Lula: unidade, atuação no Congresso e papel da mídia são decisivos contra golpe

Movimento social, partidos e entidades sindicais fazem 'reunião organizativa' em São Paulo para traçar estratégia e estabelecer agenda contra golpe de Estado

Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

“Para construir a unidade é preciso ter uma bandeira realmente única entre nós”, disse Lula em São Paulo

São Paulo – Inúmeras entidades da sociedade civil, partidos políticos e representantes de diversos setores do movimento sindical promoveram hoje, no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, uma “reunião organizativa” para iniciar discussões e estabelecer estratégias de ação contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou três pontos – segundo ele, fundamentais – que os setores progressistas devem considerar nos debates e nas mobilizações: as ações políticas de deputados progressistas ou contra o impeachment dentro do Congresso Nacional, a atuação na mídia no processo e a unidade do movimento social, sindicalismo e partidos contra o golpe.

“Não podemos perder de vista a ação institucional dentro do Congresso. A gente pode colocar milhares ou até milhões de pessoas na rua, e acontecer o que aconteceu nas Diretas Já. O movimento social, os partidos políticos, as entidades da sociedade civil têm um peso importante de mobilização, até para politizar a sociedade brasileira, mas é preciso saber construir a maioria que precisamos no Congresso para evitarmos ser pegos de surpresa”, disse o ex-presidente.

Lula afirmou ser necessária, nessa mobilização, a participação dos ministros Ricardo Berzoini, Jaques Wagner, da presidenta Dilma, de presidentes de partido, deputados e senadores. “Temos que ter uma contabilidade” (dos votos).

Em segundo lugar, é preciso prestar atenção no “comportamento da nossa gloriosa e democrática imprensa”, afirmou. “A imprensa pode ter um papel extraordinário de ajudar a informar corretamente a sociedade, informar o que está em jogo, o que seria muito bom.” Porém, a mídia pode fazer “uma opção” e ter uma “tendência para esse ou aquele lado”. “Se ela fizer uma opção, é importante que fizesse uma opção pelo lado decente da política brasileira, pelo respeito à democracia e o Estado de Direito.”

Em terceiro lugar, na opinião do ex-presidente, o movimento contra o impeachment não deve perder de vista a unidade. “Para a gente construir a unidade é preciso ter uma bandeira realmente única entre nós, independentemente de cada entidade continuar com sua bandeira.” Essa bandeira, disse Lula, é a luta pela manutenção da democracia, pelo Estado de Direito e pela soberania do voto popular.

Ele usou uma imagem para ilustrar a necessidade de unidade na conjuntura de crise. “É como se estivéssemos andando num trem descarrilado. Não temos agora que ficar brigando em qual vagão a gente vai. A gente tem que colocar o trem no trilho. Quando estiver no trilho, a gente vai brigar para ver qual o vagão, se de primeira, de segunda, de executivo”, defendeu. “O dado concreto é que, para reconstruir o direito de brigar outra vez, a gente não pode permitir que haja um golpe de Estado via impeachment.”

Agenda

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo reúnem-se hoje para traçar estratégias e agenda para a continuidade do movimento, que, segundo Lula, já começou maior do que as Diretas Já em 1984.

A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, disse que o movimento iniciado da manhã de hoje deve se inspirar na vitória dos estudantes secundaristas de São Paulo, que provocou o recuo do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no projeto de reorganização das escolas no estado. “O movimento estudantil mostrou que ninguém é invencível. Alckmin não é invencível, Eduardo Cunha não é invencível e a direita não é invencível”, afirmou Carina.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, afirmou que “aqueles que querem o impeachment são os mesmos que trabalham contra os interesses dos trabalhadores no Congresso Nacional, os que votam leis contra as mulheres, os negros e as crianças”. O dirigente acrescentou que “o Brasil não precisa da agenda de Eduardo Cunha, mas retomar o caminho do crescimento, da geração de emprego e renda”.

Para o presidente do PT, Rui Falcão, desde a semana passada, com o processo de impeachment desencadeado, Eduardo Cunha conseguiu a proeza de unir a esquerda. Segundo ele, a luta pelo Estado de Direito precisa “abarcar” todos os setores sociais, incluindo deputados e senadores. Ele lembrou ainda os governadores do Nordeste, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), como forças políticas que já estão participando ativamente da defesa do mandato de Dilma Rousseff.

Representando o PDT, Luiz Antônio de Medeiros, secretário de Coordenação das Subprefeituras em São Paulo, garantiu que seu partido está “empenhado com todas as suas forças na manutenção do mandato de Dilma”.

O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, afirmou que foi ao evento contra o impeachment em função de decisão pessoal, não em nome da central. O secretário-geral da UGT, Francisco Canindé Pegado, afirmou representar a entidade e seu presidente, Ricardo Patah: “A UGT é contra o impeachment e vamos defender o mandato (da presidenta da República) até o fim”.

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