Sucessão na Câmara

Jarbas acha ‘impróprio’ falar em suceder Cunha, mas não esconde interesse

Deputado descarta candidatura a prefeito de Recife e admite interesse pela presidência da Câmara.“Só que o cargo ainda não está vago”, diz. Governo trabalha com nome de Picciani, líder destituído do PMDB

Agência Senado

Jarbas é tido no meio político como o “mais tucano” dos peemedebistas pelo histórico de apoio aos governos do PSDB

Brasília – Um dos políticos mencionados nos últimos dias para substituir o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) demonstrou irritação com o assunto nesta segunda-feira (14), por considerá-lo “precipitado e impróprio”. Mas deu a entender que não descarta a possibilidade ao admitir que não vai mais concorrer à prefeitura de Recife em 2016, como vinha sendo discutido.

Hoje, o site 247 publicou que já estaria montado um acordo entre os principais articuladores do PSDB e do PMDB que levaria Jarbas ao comando da Câmara. O acordo já teria, inclusive, o aval do próprio Eduardo Cunha, que renunciaria ao posto em troca de apoio da oposição para escapar da cassação e da perda de direitos políticos. No fim de semana, até mesmo os jornais O Globo e Folha de S.Paulo argumentaram em editoriais que a presença de Cunha contamina o objetivo maior, que é a interrupção do mandato de Dilma Rousseff.

Antes de embarcar hoje à tarde da capital pernambucana para Brasília, Jarbas tentou desconversar. Disse, por meio de sua assessoria, que não pode concorrer a um cargo que não está vago. E que a vinculação de seu nome à sucessão do colega contraria a conduta “ética” de sua trajetória política e do discurso que vem propondo ao Legislativo.

Nos bastidores no Congresso, a intenção de Jarbas de disputar a eleição para prefeito de Recife era tida como empecilho desde que seu nome despontou para a sucessão de Cunha. Mas Jarbas passou a enfatizar com mais frequência seu desinteresse em ser prefeito mais uma vez – já o fora por dois mandatos (1986-1989 e 1993-1997).

Em recente entrevista a um jornal de Pernambuco, indagado se tinha disposição para concorrer à presidência da Câmara, já havia dito “disposição eu tenho, só que o cargo ainda não está vago”. Ontem, o deputado esteve no Marco Zero, no centro histórico do Recife, ao lado de outros políticos em manifestação pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Chegou a dizer que não seria momento de se pensar na sucessão e, sim, de ser resolvida a questão que envolve o presidente da Câmara – numa alusão ao processo de investigação contra Cunha que corre no Conselho de Ética e aos pedidos de representação para o seu afastamento feitos junto à Procuradoria-Geral da República.

Jarbas Vasconcelos é conhecido há anos como “o mais tucano dos peemedebistas”. Foi um apoiador declarado dos governos FHC na mesma intensidade com que tem sido opositor dos governos de Lula e Dilma. Sua ascensão à presidência da Câmara pode servir como uma forma de fortalecer a aliança PMDB-PSDB no movimento pela interrupção do mandato da presidenta.

Picciani

O Palácio do Planalto trabalha, por causa disso, com outra possibilidade para a o lugar de Cunha: Leonardo Picciani (RJ). Ele desembarcou em Brasília de manhã com o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, com objetivo de se reunir com integrantes da legenda. Eles reclamam da postura de alguns peemedebistas que assinaram a carta que ratificou a sua substituição na liderança, pelo deputado Leonardo Quintão (MG).

“O que foi feito ao deputado Picciani foi uma violência. A eleição (para líder) estava marcada para fevereiro. Respeito o desejo e o direito de o deputado Leonardo Quintão ser líder do PMDB. Espera a hora da eleição, coloca o nome e a maioria decide. Mas esse tipo de atitude de levar as coisas meio na mão grande é ruim para o PMDB”, reclamou o prefeito Eduardo Paes.

Outros peemedebistas, cujos cargos no primeiro escalão foram negociados por Picciani, como os ministros da Saúde, Marcelo Castro, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera, além de ocupantes de cargos no segundo escalão, ficaram de participar da reunião e até retornar para a Câmara para retomar o lugar de seus suplentes, que votaram a favor de sua destituição da liderança. Tudo para reforçar o coro pela volta do antigo líder e, assim, facilitar não apenas o apoio do PMDB à base aliada na rejeição ao impeachment como a substituição de Cunha por Picciani na presidência da Câmara, posteriormente.

O Congresso não saber sequer se terá recesso, nem se a saída de Eduardo Cunha acontecerá de forma rápida. Sua “tropa de choque” tem conseguido, com manobras diversas, empurrar a tramitação do processo no Conselho de Ética que pode levar a sua cassação. Ainda assim, tudo indica que a disputa pela sucessão do presidente da Câmara começou pra valer.


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