linha de frente

Em São Paulo, leitura de manifesto encerra ato pró democracia

Organizadores ressaltam que mobilização foi em defesa das instituições democráticas, pelo afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados e contra a política de ajuste fiscal do governo Dilma

Paulo Pinto / Agência PT

Passeata em defesa do mandato presidencial e contra ajuste fiscal de Dilma desce rua do centro de São Paulo

São Paulo – O ato de ontem (16) organizado por movimentos sociais, partidos políticos e entidades sindicais contra o impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff, foi encerrado com a leitura encerrando na Praça da República, onde foi lida a carta convocatória, assinada pelos participantes e organizadores para chamar a população ao ato.

Segundo o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, a manifestação pedia também o afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha PMDB-RJ) e mudanças na política econômica.

“O golpe não é contra a Dilma, mas contra as conquistas dos trabalhadores. As mesmas pessoas que estão apoiando o golpe são as mesmas que propõe a terceirização, acabar com a CLT, o décimo terceiro salário, acabar com a Previdência, a maioridade penal, políticas contra as mulheres, entre outros. O golpe é contra os trabalhadores”, disse. “Que acabe imediatamente a política de ajuste fiscal do Brasil. Essa política não deu conta da nossa economia, traz recessão e muito desemprego”, acrescentou.

Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), disse que o ato era também um recado à presidenta Dilma Rousseff. “Vamos estar de prontidão contra o impeachment. E vamos estar de prontidão contra essa política econômica. É a última chance que a presidenta Dilma tem para mudar sua política econômica e suas opções de governo. Se ela não entendeu isso hoje, não entendeu os recados das ruas, cada vez mais a governabilidade, na banca, ela já perdeu e vai perder a governabilidade das ruas se não entender esse recado”, disse.

Boulos afirmou ainda que a manifestação foi um sucesso. “Quem apostava que essa manifestação seria menor que a de domingo, da direita, se estrepou. Se a Polícia Militar está dando 50 mil pessoas hoje, e deu 30 mil no domingo, seguramente aqui tivemos mais de 80 mil pessoas na luta. E o clima da mobilização foi popular. Aqui, ao contrário de domingo, tem negro, tem pobre, tem nordestino, tem mulher, tem homossexual. Não é uma manifestação monolítica e elitizada como foi a de domingo”.

A professora Marcia Tripodi, de 38 anos, participou do ato e disse que estava ali “pela democracia”. “Entendo que uma presidenta que foi eleita com a maioria dos votos tem que ter o mandato dela respeitado. Contra ela não pesa nada, não há nenhuma prova”, afirmou.

Ao comparar com a manifestação ocorrida na mesma avenida, no último domingo, mas que pedia o impeachment da presidenta, Marcia disse respeitar as opiniões contrárias e que era preciso ter precaução. “Temos que ter cuidado como as coisas se conduzem para que a gente não caminhe para uma situação de golpe ou algo parecido”.

Com uma camisa vermelha e usando a bandeira do Brasil enrolada no pescoço, o arquiteto Vagner Cano, de 53 anos, disse que participava do ato por dever. “É obrigatório para quem não quer o golpe estar aqui”.

Leia a íntegra do manifesto:

CONTRA O IMPEACHMENT! NÃO AO AJUSTE FISCAL! FORA CUNHA!

O momento político pede muita unidade e mobilização popular. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aceitou a instalação do processo de impeachment da Presidenta Dilma, numa tentativa de chantagem a céu aberto. Tenta subordinar os destinos do país à salvação de seu pescoço. Não há nenhuma comprovação de crime por parte de Dilma, e o impeachment sem base jurídica, motivado pelas razões oportunistas e revanchistas de Cunha é golpe.

As ruas pedem: Fora Cunha! Atolado em escândalos de corrupção e representante da pauta mais conservadora, Cunha não tem moral para conduzir o processo de impeachment, nem para presidir a Câmara dos Deputados. Contas na Suíça, fortes acusações de lavagem de dinheiro são crimes não explicados por ele. Cunha será lembrado pelo ataque aos direitos das mulheres, pelo PL da terceirização, a proposta de redução da maioridade penal e por sua contrarreforma política. Os que querem o impeachment são os mesmos que atacam os direitos dos/das trabalhadores (as), das mulheres, dos /das negros (as) e disseminam o ódio e intolerância no país.

Ao mesmo tempo, entendemos que ser contra o impeachment não significa necessariamente defender as políticas adotadas pelo governo. Ao contrário, as entidades que assinam este manifesto têm lutado durante todo este ano contra a opção por uma política econômica recessiva e impopular. As consequências da crise econômica mundial estão sendo aprofundadas pelo ajuste fiscal promovido pelo governo federal, que gera desemprego, retira direitos dos trabalhadores e corta investimentos sociais. Não aceitamos pagar a conta da crise.

A saída para o povo brasileiro é a ampliação de direitos, o aprofundamento e o fortalecimento da democracia e as reformas populares. O impeachment representa um claro retrocesso na construção deste caminho.

Seremos milhares nas ruas no dia 16 de dezembro de 2015. Será o dia Nacional de Luta contra o Impeachment, o ajuste fiscal e pelo Fora Cunha. Convidamos a todos os Brasileiros e Brasileiras a fazerem parte desse bloco contra o retrocesso e por mais direitos.