PT-PMDB

Defensores do mandato de Dilma contra impeachment chamam Temer de oportunista

Ciro Gomes diz a aliados que não há surpresa na postura, Lupi afirma que carta macula biografia do vice, e Dino mantém seu trabalho incessante para barrar o processo contra a presidenta

Agência Brasil

Ciro, Dino e Lupi: os três mosqueteiros de Dilma

Brasília – O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o presidente do PDT, Carlos Lupi (RJ), e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT-CE), considerados três fortes aliados de Dilma Rousseff, reafirmaram seu apoio após a divulgação da carta do vice-presidente Michel Temer enviada à presidenta ontem (7).

Para Lupi, a atitude de Temer é oportunista. Ciro, que chegou a chamar o vice de “patrocinador do golpe” no último domingo, evitou se aprofundar em declarações até agora, mas chegou a comentar com políticos próximos que não estranhou em nada o gesto do vice-presidente. Dino preferiu ater-se ao trabalho para fazer com que o pedido de abertura do processo seja rejeitado.

Mencionando trecho da carta em que Temer reclama que Dilma não confia nele, Lupi ironizou: “Quem é que confia inteiramente no PMDB, hoje”? Para o pedetista, a legenda consiste numa federação: “É o partido mais fragmentado do país e seus políticos levam em contas questões regionais, sem falar na nítida divisão observada durante as votações no Congresso”. Para ele, a carta de Temer soa oportunista, como que buscando um argumento que o leve a romper de vez com o governo e a passar a trabalhar pelo impeachment.

“Temer é o principal beneficiário dessa história, isso é inegável. Está tudo muito estranho e isso me cheira a oportunismo”, destacou. Apesar das declarações de Lupi e de ele ter sido o primeiro presidente de um partido da base aliada a declarar que sua legenda fechava questão no apoio à presidenta Dilma para rejeitar o processo de impeachment, o comportamento dos pedetistas também apresenta dubiedade em relação a votações de caráter importante para o governo no Congresso.

O dirigente pedetista, no entanto, afirmou que são questões diferentes e que agora a conjuntura é outra. “Uma coisa é fechar questão em torno do assunto com o qual nem todos os parlamentares concordam por questões de defesa histórica. Outra é a defesa do impeachment. O PDT está unido na decisão de não querer o impeachment”, assegurou.

Situação peculiar

Flávio Dino está sendo esperado para a reunião programada para hoje, às 17h, em Brasília com a presidenta e demais governadores – ocasião em que os jornalistas esperam receber dele algum posicionamento mais firme sobre como vê a atual situação PT x PMDB. As atenções se voltam para Dino porque, além de ele estar capitaneando um movimento entre os governadores nordestinos desde o início do ano, de apoio à presidenta, também se comprometeu de ajudar o Palácio do Planalto no que for preciso nas articulações com os outros políticos.

Dino não falou até agora sobre a postura de Temer, apenas repetiu suas declarações de que vai trabalhar para que a abertura do processo seja rejeitado.

Mas uma possível ruptura do PMDB com o governo pode vir a ter consequências positivas diretas para o governador. Primeiro porque Dino ganhou as últimas eleições após uma oposição de décadas aos peemedebistas do Maranhão, comandados pela família Sarney. E apesar do apoio formal do PT ao candidato do PMDB, vários petistas integraram a sua chapa e nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem Dilma, por questões estratégicas, compareceram ao palanque do seu adversário – numa forma nítida de contribuir com a sua vitória.

Depois porque, recentemente, Dino recebeu aceno do Palácio do Planalto de que os cargos e diretrizes do Executivo nacional para o estado, daqui por diante, passarão antes por ele e não mais pelos peemedebistas maranhenses. Flávio Dino possui bom trânsito com Michel Temer, de quem foi colega, quando deputado, entre 2007 e 2010 – e talvez por isso, procure ser mais discreto nas palavras que usará. Mas como sempre foi um político que deixou claras suas posições, ninguém espera que se manifeste de outra forma a não ser favorável ao PT nesta polêmica.

‘Sem surpresas’

Ciro Gomes, que deflagrou as acusações contra Temer e, segundo informações de bastidores, foram suas declarações ácidas dos últimos dias que levaram o vice-presidente a tomar a atitude de escrever a carta à presidenta reclamando do governo, preferiu se recolher até agora. Gomes foi acusado por aliados de Temer de ter agido a pedido do Palácio do Planalto, o que os ministros da coordenação política desmentem.

Mas políticos aliados do ex-ministro contaram que, ontem mesmo, em conversas reservadas, ele repetiu que considera o vice-presidente “sócio do golpe contra Dilma” e afirmou que não se surpreendia com a iniciativa, que via como mais uma forma de acelerar o rompimento do PMDB da base aliada para deixar a legenda livre e trabalhar pelo impeachment.

No domingo, Ciro Gomes chegou a questionar ao proferir acusações contra Michel Temer: “Quem vocês acham que vai assumir se a presidenta Dilma Rousseff deixar o cargo? É claro que Temer está trabalhando pelo impeachment”, disse – numa fala que repercutiu durante todo o dia de ontem.

Na carta encaminhada à presidenta Dilma, vazada para a imprensa ontem à noite, Temer disse que ficou chateado pelas declarações de que estaria conspirando contra a presidenta porque tem demonstrado lealdade ao governo em todos esses anos como vice-presidente. Mas reclamou que nunca houve confiança da presidenta dele, que ele tem ocupado um cargo meramente decorativo e que perdeu todo o protagonismo que tinha nas articulações com o Congresso Nacional.

Para completar, queixou-se de políticos ligados a ele terem tido cargos e demandas preteridas e citou, entre esses, os ex-ministros Eliseu Padilha, Edinho Gomes e Moreira Franco.

‘Confissão de suspeitas’

Para o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), a carta foi uma confissão, por parte de Temer, do que muitos peemedebistas da ala favorável à coalizão com o governo já suspeitavam e uma prova de que ele não busca o fortalecimento do partido, mas sim, o benefício do seu grupo político dentro do Executivo. “Se ele reclama tanto que o seu cargo é decorativo, porque quis continuar sendo vice na chapa, na última eleição, e por que liderou, enquanto presidente nacional da sigla, o movimento na executiva nacional para o PMDB manter-se unido ao PT?”, questionou Picciani.

A oposição, em meio a essa mais nova polêmica no país, avalia que a carta não deixa dúvidas e representa um caminho para a debandada do PMDB do governo e da base aliada. Líderes do PT minimizaram o tema no Congresso Nacional esta manhã. Sibá Machado (PT-AC) disse há pouco que a questão é de “entendimento” e considerou que todas as reclamações feitas pelo vice podem ser contornadas com mais diálogo e iniciativas do governo em relação aos seus pedidos.

Mas nem todos pensam assim.  No momento, senadores petistas realizam uma reunião que tem como um dos principais itens da pauta avaliação da situação política que envolve os peemedebistas e o próprio Temer.

No Palácio do Planalto, as informações de bastidores são de que a presidenta Dilma Rousseff tem sido aconselhada por ministros a evitar falar sobre o assunto ou responder a Temer (postura que ela mesma teria considerado a mais correta). A intenção é não dar argumentos para que, em caso de uma ruptura, Dilma seja vista como a pessoa que deflagrou a crise, uma vez que a iniciativa da carta foi do vice e não da presidenta.

Uma incógnita, no entanto, que está sendo discutida entre as lideranças do Senado com todo o cuidado, é o comportamento do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

Entre políticos da base aliada existe um comentário antigo para defini-lo, que é o de que “Dilma sabe que pode contar com o seu apoio nas horas difíceis do Executivo no Congresso, mas também tem certeza de que ele nunca dará a vida por ela ou pelo governo”. Dentro desta definição, resta saber qual será o posicionamento do senador – que até agora tem evitado meter a mão nesta cumbuca.

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