Indignação

Confusão na Esplanada atrapalha sessão sobre vetos no Congresso

Parlamentares reclamaram que Marcha das Mulheres Negras foi interrompida com tiros por policial que está acampado há dias em frente ao local. Eles pediram a Renan que grupo saia da área

Waldemir Barreto/Agência Senado

Policial civil foi preso por ter disparado quatro tiros para o alto durante a Marcha das Mulheres Negras

Brasília – Por pouco a sessão conjunta do Congresso Nacional, que vota hoje (18) a continuidade da apreciação dos vetos presidenciais, não foi encerrada de forma intempestiva. Vários parlamentares pararam a discussão dos temas da pauta para protestar contra notícias sobre tumultos observados durante a Marcha Nacional das Mulheres Negras, realizada desde o início da manhã na Esplanada dos Ministérios. Com o intuito de marcar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), o evento foi louvado por diversos deputados e senadores e contou, durante sua abertura, com participação de vários deles. Mas foi alvo de confrontos entre policiais e pessoas acampadas em frente ao Congresso com as manifestantes.

A deputada Benedita da Silva (PT-RJ), uma das primeiras a comentar o tema, denunciou que foram lançados explosivos contra a marcha, que estava prevista para seguir até o Congresso para que as mulheres fossem recebidas pelos presidentes da Câmara e do Senado. “Somos mulheres pacíficas, e nosso direito está sendo cerceado por grupos que monopolizam o acesso ao Congresso”, afirmou.

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), por sua vez, propôs que o acampamento montado por integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) – que pede o impeachment da presidenta Dilma Rousseff –, localizado em frente ao gramado do Congresso, fosse revistado. O intuito de Chinaglia foi verificar se tinha saído de lá a bomba de efeito moral ou qualquer outro artefato que teria atingido algumas das manifestantes.

O deputado lembrou que, no último final de semana, a polícia militar do Distrito Federal apreendeu uma pistola, sprays de pimenta e armas brancas com um dos acampados. Foi o início de uma discussão acirrada. Até agora, não foi divulgado o número de pessoas que ficaram feridas com a confusão, embora tenha sido confirmado que vítimas foram levadas para atendimento médico.

‘Desmobilização’

Alberto Fraga (DEM-DF), da oposição e integrante do grupo de parlamentares que apoia o pessoal do MBL, partiu em defesa dos manifestantes acampados e disse que as informações eram de confronto das participantes da marcha com a polícia, sem nada ter a ver com o acampamento em si. “Esse acampamento está incomodando porque é contra a presidente Dilma. Vocês querem usar o episódio para desmobilizar o movimento”, acentuou.

A líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), destacou que o problema vem desde o início da instalação das barracas pelo MBL, porque seus integrantes foram autorizados pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de forma arbitrária, a ficarem na área. E para isso, Cunha descumpriu um ato do Congresso Nacional de 2001, que proibia a realização de manifestações ou barracas naquele local.

O presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que reconhecia a proibição e a gravidade da situação. Calheiros reclamou de não ter sido informado e não ter participado dessa decisão de revogar o ato, tomada por Cunha. Ele ficou de conversar sobre o assunto e tomar providências a respeito do acampamento.

Como a fala do presidente não ajudou a acalmar os ânimos, Renan ameaçou encerrar a sessão. Afirmou que não considerava uma sessão conjunta do Congresso o espaço apropriado para esse tipo de discussão, uma vez que estava na pauta a votação de matérias importantes para o país que há meses esperam apreciação dos parlamentares.

Quatro tiros

Há pouco, em meio ao tumulto dentro do Congresso, chegou a informação oficial da Polícia Militar de que um policial civil foi preso por ter disparado quatro tiros para o alto durante a marcha. A PM confirmou que o homem faz parte de um acampamento montado em frente ao Congresso, mas não o do MBL. Ele integra o acampamento montado um pouco atrás, formado por um grupo que defende a volta dos militares ao poder e em área que é permitida pelas presidências da Câmara e do Senado.

De acordo com a PM, o policial que atirou é de Sergipe e argumentou ter se sentido ameaçado pelos integrantes da marcha. “A marcha vinha sendo realizada lindamente e contou com a presença de perto de 20 mil mulheres. O objetivo do evento foi mostrar o respeito pela ancestralidade, de forma pacífica”, disse Jandira Feghali, ao reclamar do gesto do policial e pedir maiores providências.

“Enquanto estamos reunidos aqui, acontece um tumulto imenso lá fora. Peço ao presidente que sejam tomadas as medidas necessárias para acabar com esses acampamentos localizados em frente ao Congresso Nacional”, apelou o deputado Ivan Valente (Psol-SP). Na última sexta-feira, a bancada do PT na Câmara divulgou nota fazendo o mesmo tipo de solicitação, depois que foi divulgado o conteúdo da apreensão das armas que a PM fez entre os acampados do MBL.

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