Alta temperatura

Câmara tem sessão quente por causa da situação de Eduardo Cunha

Enquanto Psol diz que Cunha não tem legitimidade mais para presidir a Casa, PSC manifesta apoio ao deputado e líderes do PSDB e do PT brigam entre si. Clima é tenso e confuso na sessão

Gustavo Lima / Câmara dos Deputados

Líder do PSDB disse que esperava que o presidente apresentasse sua defesa de forma mais consistente

Brasília – A Câmara dos Deputados vive um início de noite nesta quarta-feira (11) permeado por discussões ácidas entre os líderes partidários, por conta da manifestação feita há pouco pelo líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), no plenário, sobre a postura do partido em relação a Eduardo Cunha. Além de levar Sampaio a entabular uma briga com o líder do PT, Sibá Machado (AC), a fala do líder tucano repercutiu entre os demais parlamentares. E levou a manifestações de integrantes de outras legendas que disseram que suas bancadas se mantêm favoráveis à permanência de Cunha no cargo, como André Moura (PSC-SE) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Ao justificar a decisão dos tucanos, Sampaio disse que o PSDB esperava que o presidente apresentasse sua defesa de forma mais consistente sobre as contas secretas na Suíça e acentuou que a sigla agiu dessa forma porque “sempre agiu com uma postura ética”. Mas destacou que a atitude dos tucanos nada tem a ver com o pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff – depois de especulações dando conta a posição divulgada pela manhã tinha sido uma espécie de vingança por Cunha estar atrasando a avaliação dos pedidos de impeachment. E salientou que o partido vai continuar lutando para tirar Dilma do cargo. Dessa forma, Sampaio provocou rebatimentos fortes de colegas.

Sem legitimidade

O primeiro a falar depois do líder do PSDB foi o deputado Chico Alencar (RJ), líder do Psol na Casa. Ele disse que achava estranho o fato de a sigla ter divulgado uma nota se afastando de Cunha e, ao mesmo tempo, continuar fazendo o que chamou de “eterno jogo de criticar e amenizar o discurso, de acordo com a conveniência”.

Alencar afirmou que, mesmo com todas as dificuldades e críticas que o seu partido faz ao governo, o momento não é de se falar em impeachment, porque Cunha não tem legitimidade para tocar um processo de afastamento da presidenta da República. “O momento, agora, é de as legendas assumirem a gravidade desta situação, verem a crise pela qual passa este parlamento de frente e trabalharem para acelerar o processo que investiga as contas do presidente desta Casa”, ressaltou.

Já o líder do PT, Sibá Machado (AC), demonstrou irritação com Carlos Sampaio nas críticas feitas ao governo Dilma quando pediu o impeachment. Sibá Machado disse que as reclamações do líder tucano sobre a formação do governo da presidenta parecem desconsiderar que governadores do seu partido e o próprio ex-presidente do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, também precisaram fazer coligações com outras siglas para montarem seus governos.

Desvio de dinheiro

Machado ainda acrescentou que Carlos Sampaio foi citado num blog da internet como parlamentar que teria doado a si mesmo dinheiro não identificado em sua campanha, mesmo destacando que não sabia se a notícia tinha veracidade. E o convidou a provar que houve desvio de dinheiro por parte do PT na última campanha eleitoral. A discussão entre os dois líderes quase virou um bate-boca com proporções maiores, mais foi abafada pela interferência dos outros deputados.

Logo depois, foi a vez de André Moura (SE), líder do PSC, subir ao plenário. Moura saiu em defesa de Cunha. O deputado amenizou a briga entre Sibá Machado e Carlos Sampaio ao pedir a palavra para manifestar apoio ao presidente, disse que o parlamentar tem o direito à defesa e ao contraditório, além de todas as prerrogativas para permanecer no cargo até que o processo que corre contra ele chegue ao final.

O líder do PSC também destacou que não considera correto nem possível “politizar a questão e, dessa forma, atrapalhar os trabalhos legislativos”. E enfatizou a Cunha que ele conta com o apoio dos parlamentares da legenda. Foi acrescentado por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que disse se unir à fala do líder do PSC, mas criticado pelo vice-líder do governo, Sílvio Costa (PSC-PE), que sempre foi desafeto do presidente da Câmara.

“Esse manifesto do deputado André Moura não representa a mim, que também integro o PSC. Acho esse seu discurso um grande equívoco e uma indignidade, uma vez que não fui consultado nem houve reunião entre a bancada para que ele se posicionasse dessa forma como líder do partido”, protestou.

Glauber Braga (Psol-RJ) disse que a sessão que está em curso, para apreciar o projeto que trata sobre a repatriação de recursos, não tem condições de ser presidida por Cunha, em razão de o deputado ter confessado, poucos dias atrás, que possui dinheiro no exterior e pode vir a ser um dos beneficiários da proposta em discussão.

“Peço a vossa excelência que por favor se retire deste plenário e peça ao vice-presidente da Casa (Waldir Maranhão, PP-MA) para presidir a sessão no seu lugar”, enfatizou Braga. Eduardo Cunha disse que não receberia a sugestão de Braga como questão de ordem. E a sessão prossegue em alta temperatura.

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