efeito dominó

Para Frei Betto, governos progressistas falharam ao não politizar conquistas sociais

Vitória de Maurício Macri na Argentina, pode ser a primeira peça da volta da política neoliberal

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Segundo Frei Betto, após derrota progressista na Argentina, Brasil pode ser o próximo a eleger política neoconservadora

São Paulo – “A vitória eleitoral empresário neoliberal Maurício Macri é mais um passo da América Latina rumo ao período neoconservador”, afirmou o escritor Frei Betto, ao falar na manhã de hoje à Rádio Brasil Atual sobre o os governos progressistas latino-americanos.

Frei Betto conta que houve um processo de desmonte das políticas neoliberais no continente que esteve em voga nos anos 1980 e 1990, após a eleição de Hugo Chávez na Venezuela. “A eleição de Chávez foi seguida pelas vitórias de vários presidentes progressistas, como Lula no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Manuel Zelaya em Honduras, Michelle Bachelet no Chile, Evo Morales na Bolívia, e Pepe Mujica no Uruguai.”

Segundo o escritor, as eleições desses presidentes permitiram que a América Latina alcançasse melhores condições sociais. “Houve uma inclusão de amplos setores da população com a redução da miséria absoluta, embora não tenha ocorrido um avanço  significativo da redução desigualdade social.”

Para Frei Betto, o momento é preocupante, pois os governos progressistas falharam no trabalho de garantir a eles sustentabilidade, formação e organização política de suas bases eleitorais. O assessor de movimentos sociais afirma que o principal erro dos governos desses país foi não complementar a inclusão econômica com a inclusão política. “Os benefícios aos mais pobres vieram como iniciativa de Estado, e não como conquista do povo. Não se tratou de organizar o ‘pobretariado’, não conscientizou o oprimido, não fez dos eleitores os protagonistas políticos.”

“Com exceção do Evo Morales, o que se viu foi um concerto desafinado, ainda que políticas sociais tenham sido implementadas com êxito, as reformas estruturais quando feitas – o que infelizmente não foi o caso do Brasil –, em outros países não foram suficientes para criar uma alternativa a esse modelo desenvolvimentista consumista. A economia permaneceu com todas as características neocoloniais, e não se criou um mercado interno sustentável”, diz.

Frei Betto acredita que há a possibilidade de mudar o cenário. Caso contrário, a vitória de Macri pode ser o primeiro passo para a volta neoliberal na América Latina. “A Argentina pode ser a primeira peça do dominó desse processo progressista a tombar; as próximas poderão ser o Brasil e a Venezuela. Porém, o cenário só vai mudar na América Latina quando a esquerda ‘perder a vergonha’ de ser de esquerda.”

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