luta armada

Morre aos 90 anos líder guerrilheira Zilda Xavier Pereira

Em janeiro de 1970, prenderam Zilda no Rio e a torturaram à exaustão, mas nenhuma informação sobre a guerrilha foi obtida. A companheira de Marighella disse mais tarde que ele não era homem para ser traído

reprodução

Zilda Xavier e Carlos Marighella: a primeira-dama da guerrilha e o revolucionário

São Paulo – Morreu hoje (22), em Brasília, Zilda Xavier Pereira, militante contra a ditadura civil-militar que integrou o comando da Ação Libertadora Nacional, maior organização guerrilheira do país. Seus filhos Iuri e Alex Xavier Pereira, também guerrilheiros, foram assassinados por agentes da ditadura. Zilda, que completava 90 anos neste domingo, foi companheira do revolucionário Carlos Marighella, assassinado por policiais comandados por Sérgio Paranhos Fleury, aos 56 anos, em 1969, na capital paulista.

O velório começará às 13h30 de amanhã, na capela 5 do cemitério Campo da Esperança, em Brasília. O sepultamento está marcado para as 15h.

Zilda Paula Xavier Pereira nasceu no Recife em 22 de novembro de 1925. Em maio de 1945, recém-chegada ao Rio, entrou para o Partido Comunista Brasileiro (PCB). O partido foi declarado ilegal em maio de 1947, e ela adotou o nome de guerra Zélia, reverência à sua camarada Zélia Magalhães, assassinada a bala por policiais em maio do ano anterior, quando participava de um protesto no largo da Carioca.

Zilda foi uma das dirigentes da Liga Feminina da Guanabara até a associação ser banida pelo golpe de Estado de 1964. Na casa dela, Marighella reuniu-se com sargentos antes do encontro deles com o presidente João Goulart, em 30 de março daquele ano.

Em 1967, Zilda, o ex-marido e os filhos acompanharam Marighella na ruptura com o PCB. A família foi pioneira da Ação Libertadora Nacional. No Rio, a ALN se estruturou em torno dos Xavier Pereira. Eram guerrilheiros, empenhados nas ações armadas e na logística da ALN, Zilda, seu ex-marido, João Batista, e os filhos Iuri, Alex e Iara. Todos Xavier Pereira. Na ALN, a identidade de Zilda era Carmem.

Segundo narra hoje o blogueiro Mário Magalhães, depois de abril de 1964, é possível que ninguém tenha passado tanto tempo com Marighella quanto Zilda. O último “aparelho” dos dois, no bairro carioca de Todos os Santos, jamais foi descoberto pelos agentes da ditadura. Zilda zelava pela segurança de Marighella na clandestinidade.

Mário Magalhães diz que das pessoas que conheceu, poucas tiveram perdas como Zilda: Marighella, em 4 de novembro de 1969, quando o guerrilheiro foi fuzilado em São Paulo. Ela estava no exterior.

No final de janeiro de 1970, prenderam Zilda no Rio e a torturaram à exaustão, mas nenhuma informação sobre a guerrilha foi obtida. Depois, ela diria que guardou seus segredos para honrar a memória de Marighella: “Eu via o Marighella na minha frente. Pensava: ‘Carlos Marighella não é homem para ser traído, eu jamais trairei Carlos Marighella”’. Ele já estava morto.

Zilda sentiu dores nos joelhos, decorrentes do pau-de-arara, até o fim da vida. Com ajuda de companheiros e amigos, escapou do hospital em que a haviam internado, depois da simulação de surto de insanidade. Era 1º de maio de 1970, e ela só regressaria do exílio em 1979.

Quando Zilda estava fora do Brasil, agentes da ditadura mataram seu filho Alex, aos 22 anos. Em seguida, Iuri, com 23.

Com informações do Blog do Mário Magalhães


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