Manobras

Mesmo acuado, Cunha dá sinais de que trabalha para se manter no cargo

Parlamentar ofereceu almoço a líderes partidários em que mostrou seu passaporte; é considerado o responsável indireto por troca de cadeiras no colegiado do Conselho de Ética

Antônio Cruz/Agência Brasil

Paulinho da Força, forte aliado de Eduardo Cunha, deve passar a integrar o Conselho de Ética da Câmara

Brasília – Acuado por todos os lados, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu hoje (10) mais sinais de que está se articulando para manter-se no cargo. Após dizer ontem que nunca renunciaria, Cunha ofereceu um almoço em sua residência oficial para lideranças de todos os partidos, como forma de se aproximar mais das bancadas e amainar os ânimos em relação à sua situação. Por outro lado, o deputado Wladimir Costa (SD-PA), que desde o início do ano integra o Conselho de Ética, renunciou ao colegiado. Sua vaga deverá ser ocupada por Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força Sindical, aliado de primeira hora de Cunha.

O motivo da troca tem razão de ser e aponta como principal articulador da manobra o próprio Cunha. É que, entre os aliados do presidente da Câmara, nos últimos dias, as avaliações sobre o seu caso eram de que, se a votação do processo de investigação que corre contra ele no Conselho de Ética fosse agora, Eduardo Cunha correria o risco de perder por apenas um voto, uma vez que dentre os integrantes, possui bom relacionamento – e até ajudou na campanha – da grande maioria.

Sendo assim, com a substituição de Wladimir Costa, que não tem muita experiência nesse tipo de atuação, por  um nome como Paulinho ou o suplente de Costa no Conselho, Genecis Noronha (SD-CE), esses deputados ligados a Cunha acreditam serem maiores as possibilidades do grupo que o defende se organizar nas votações que o órgão tem pela frente.

Oficialmente, no entanto, Wladimir Costa argumentou que este não foi o motivo da sua saída. Disse que está de licença médica e pediu a renúncia por motivos de saúde. Como ele é do Solidariedade e há dias vinha sendo especulada esta troca, as apostas são no nome de Paulinho, mas o partido ainda não confirmou uma indicação para a vaga.

Embora sem comentar essa mudança nem fazer qualquer referência ao Conselho de Ética, Cunha não deixou de tratar, no almoço em sua casa, das denúncias feitas contra ele de ter, ao lado da esposa e de uma das filhas, contas secretas na Suíça.

Segundo parlamentares que participaram do almoço, o deputado mostrou aos colegas seu passaporte com 37 carimbos de entradas em países africanos como Zaire e Congo, na década de 1980, como prova de que está falando a verdade quando afirma que fez fortuna em venda de carne enlatada e outras mercadorias para esses lugares. Ele repetiu, ainda, que os ativos referentes a esse patrimônio são administrados por empresas de Trust e as contas dessas empresas não estão no seu nome.

Sonegação fiscal

Embora a declaração tenha sido criticada desde a última sexta-feira por deputados e senadores, que acham que ao dar a declaração de ter negócios no exterior, Cunha praticamente confessou ter praticado o crime de sonegação fiscal, ele insiste que não é detentor de contas no exterior. Para vários magistrados, a jurisprudência internacional atribui ao detentor do Trust a responsabilidade por contas bancárias abertas para gerenciamento desses negócios, tese que está sendo refutada pela defesa de Eduardo Cunha.

Ao ser questionado sobre o assunto, o relator do processo que investiga Cunha no Conselho de Ética, Fausto Pinato (PRB-SP), disse que já está elaborando seu relatório prévio e que tem previsão de apresentá-lo na próxima semana. A entrega do relatório corresponde à próxima etapa para o andamento dos trabalhos do conselho, pois precisa detalhar o mérito do pedido de investigação como um todo.

Após o resultado desse parecer de Pinato e sua votação pelo conselho é que serão marcadas oitivas e audiências públicas para apurar melhor o caso, assim como será solicitado o pedido de apresentação de defesa por parte do presidente da Câmara.