Área proibida

Acampados do Congresso resistem a ordem de saída; prazo acaba amanhã

Apesar do pedido para que acampamentos da frente do Congresso sejam desmontados, alguns manifestantes insistem. Governador diz que se houver resistência, fará ‘uso da força’ para manter a segurança pública

marcello casal jr/abr

Manifestantes continuam acampados no gramado do Congresso

Brasil – Depois de uma semana tumultuada por votações polêmicas, protestos contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e da Marcha Nacional das Mulheres Negras, que resultou em prisões e pessoas machucadas, as atenções do Congresso Nacional estão voltadas hoje (20) para as barracas dos grupos que estão acampados no gramado da Esplanada dos Ministérios – em área bem próxima ao espelho d’agua (que fica praticamente em frente aos plenários da Câmara e do Senado). Na noite de ontem, eles foram avisados que devem sair de lá até a noite de amanhã (21), mas apesar de alguns já terem desmontado acampamento, outros insistem e avisam que só saem com uma ordem judicial.

A decisão de pedir a desmobilização dos acampamentos foi tomada depois de pedido feito pelo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, que ontem foi ao Congresso para conversar sobre o assunto com Cunha e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A administração e responsabilidade do gramado localizado do ponto onde ficam as bandeiras dos estados até a entrada da chapelaria, pertence ao Congresso Nacional. E no trecho a partir das bandeiras até o início da Esplanada dos Ministérios, ao governo do DF.

“Não dá para desmobilizar as barracas numa área e manter a outra”, explicou Rollemberg. Ele afirmou que tomou a iniciativa de procurar Calheiros e Cunha depois que foi avisado pelas forças de segurança do seu governo sobre o perigo observado naquele trecho. Segundo o governador, ele foi alertado para a possibilidade de conflitos de proporções ainda maiores que os já observados até agora, caso estes acampamentos não sejam desmontados rapidamente.

Estão na área próxima ao espelho d’água – que desde 2001 é proibida para acampamentos e teve o uso autorizado por conta de uma exceção aberta por Cunha – integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), que pede a apreciação, pela Câmara, do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Do outro lado estão montadas barracas de pessoas que pedem a volta do regime militar – grupo que tem apresentado maior resistência à saída. Foi deste segundo acampamento que foram disparados quatro tiros na última quarta-feira (18), durante a passagem da Marcha das Mulheres Negras.

Um terceiro acampamento foi montado até a noite de ontem por trabalhadores da CUT, num grupo formado, em sua maioria, por filiados da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTT). Segundo as pessoas que ocuparam essa área, o movimento deles consistiu num ato “em defesa da democracia, contra a pauta de retrocessos nos direitos trabalhistas que tramita no Congresso e, sobretudo, contra o golpismo dos outros agrupamentos”, conforme acentuaram. Eles já acataram a ordem e saíram do local.

Policiais e militares

Numa posição oposta, o coordenador do chamado “Movimento Patriota Nacional”, Felipe Porto, disse que os integrantes do movimento não vão deixar as barracas tão facilmente. Porto ressaltou que não dá para apontar como motivo para a saída deles o fato de usarem armas porque a maioria das pessoas que está lá é formada por militares e policiais, tanto aposentados como da ativa e, portanto, possuem o direito ao uso desses armamentos.

Porto afirmou ainda que, no momento, as barracas são as suas casas e, por isso, estão dispostos a “defender a propriedade”. “Ninguém tem medo. Estamos aqui por uma causa patriótica”, acentuou, ao exigir uma ordem judicial para que sejam desmontadas as barracas.

Desde o início da manhã, toda a área onde estão localizados os dois acampamentos que restam vem sendo acompanhada de perto por contingentes de policiais e integrantes de forças de segurança do DF, além da polícia legislativa. O prazo, de 48 horas para a saída completa destes grupos, ainda não acabou. “A orientação que recebemos foi só de ficar de plantão e manter a ordem. Vamos aguardar eles retirarem as barracas com calma até a noite de amanhã. Estamos otimistas que vão se convencer e acatar ao pedido sem tumultos”, acentuou o policial militar Jorge Cardoso.

‘Mais rigor’

Quando comunicou a decisão tomada ao lado do presidente do Senado e do governador do DF, Eduardo Cunha afirmou que a partir de agora o intuito é adotar maior rigor em relação aos acampamentos a serem instalados em frente ao Congresso Nacional, em função dos atos violentos observados nas últimas semanas.

Renan Calheiros, por sua vez, destacou que o ato para autorização do acampamento do MBL não partiu dele (e deveria ter sido tomado conjuntamente, conforme estabelece o regimento comum da Câmara e Senado). Calheiros repetiu o discurso feito na última quarta-feira durante a sessão plenária, de que não concorda com a instalação das barracas num local que há 14 anos é proibido para manifestantes.

O governador Rodrigo Rollemberg reiterou que embora defenda a liberdade de expressão, o que está em jogo, neste caso, é a segurança das pessoas que circulam naquelas áreas. Rollemberg afirmou que se os manifestantes não saírem pacificamente, ele usará “os meios necessários para retirá-los do local”, por considerar que “o Estado pode usar a força para cumprir a Constituição”. A expectativa, portanto, é grande em torno da retirada de todas as barracas.