Identidade

Encontro do PMDB tem críticas ácidas de militantes e políticos ao partido

Para integrantes, sigla precisa de nova atitude e se reaproximar da população e da militância. Juventude diz que documento 'Uma Ponte para o Futuro' acaba com sonhos e joga fora luta por Constituição

Pedro Ladeira/Folhapress

Provocado por jornalistas, Temer defendeu liderança de Dilma para unificar país. Cunha, vaiado, discorda

Brasília – É intenso e está causando surpresas entre os caciques do PMDB o debate e lavagem de roupa suja que acontece, desde o início da manhã, no congresso nacional do partido, que está sendo realizado no Hotel Nacional, na capital federal. Apesar de o encontro ter sido boicotado por integrantes da sigla que apoiam o governo e do mote, desde o início, ser a adoção de uma mudança de postura por parte dos peemedebistas, de forma a deflagrar o início da ida para a oposição em 2016, as primeiras falas foram marcadas por reclamações de parlamentares, políticos antigos e integrantes da juventude. E o que imperou até agora, foram as falas de que, antes de qualquer coisa, a sigla precisa mudar sua postura, se aproximar mais da população e abrir espaço para discussão entre os próprios militantes.

“Num momento de tanta gravidade que o Brasil enfrenta, temos de ter coragem para olhar na cara do povo brasileiro e falar dessa crise”, afirmou o vice-governador de Pernambuco, Raul Henry. “O que há de mais positivo no documento intitulado ‘Uma Ponte para o Futuro’, do PMDB, foi o fato do partido acenar com a abertura de um espaço para ouvir sua militância. Há muito tempo isso não acontece e precisamos ter consciência da importância de fazer isso, daqui por diante”, destacou Felipe Piló, da Juventude do PMDB, de Minas Gerais.

O presidente do PMDB do Espírito Santo, Lelo Coimbra, afirmou que o que é necessário para mudar os rumos do partido é a mudança de atitude por parte do PMDB e não o documento lançado pela legenda. “O PMDB está muito afastado da população. Precisamos entender que esse modelo atual de gestão está no fim do ciclo e é um declínio observado não apenas no Brasil, mas também em modelos de gestão de outros países, como na Venezuela e na Argentina. Precisamos de outro passo, de atitudes por uma nova política de alianças na legenda”, acentuou.

‘Acaba com os sonhos’

Vera Regina Giebmeyer, da Juventude Peemedebista do Paraná, disse que a juventude do partido se coloca contrária à forma como foi apresentado o projeto intitulado “Uma Ponte para o Futuro”. “Esse documento deveria ter sido construído com os integrantes do PMDB. É um programa que acaba com os sonhos e planos da juventude e joga fora 50 anos de luta da legenda, que ajudou a fazer a atual Constituição deste país, dando costas para o futuro brasileiro”, reclamou.

Suas principais críticas são para as propostas de desatrelar recursos para a Saúde e a Educação e mudanças em regras trabalhistas sugeridas no documento. “Queremos que o PMDB venha a discutir uma reforma tributária, um novo pacto federativo e não que proponha a retirada de recursos para áreas prioritárias. Não é por esse caminho que iremos construir uma sociedade melhor”, acentuou Vera.

O deputado Lúcio Vieira Lima (BA) foi outro a fazer uma avaliação pesada sobre a condução de alianças da sigla nos últimos tempos. Vieira Lima disse que muita gente tinha aproveitado o palanque no início do evento para criticar o PT e pedir o afastamento dos peemedebistas do governo, mas que ele via um erro nesses argumentos, porque as reclamações precisam ser feitas ao próprio PMDB e não ao governo.

‘Quem muito se abaixa’

“Quando a gente muito se abaixa o rabo aparece e é isto que está acontecendo agora. Queríamos esse afastamento (com o PT) desde a última eleição, mas o vice-presidente Michel Temer, com o seu esforço pessoal, insistiu e foi vitorioso na decisão de ser mantida a aliança. Agora eu pergunto aqui: como é que o PMDB lança um documento com propostas que são opostas ao que prega o PT, quando o partido tem integrantes em vários ministérios? Quando os ministros que lá estão são nada mais que peemedebistas funcionários do governo?”, ironizou.

Vieira Lima disse, ainda, que os peemedebistas não precisam pregar rompimento nenhum com o governo, “apenas independência, que é o que não acontece hoje”, afirmou. O deputado, que faz parte do grupo contrário ao PT e queria deixar a aliança desde o ano passado, também reclamou da mudança de formato do evento, que está sendo realizado apenas com a presença de integrantes dos diretórios. “Eu gostaria de participar aqui, hoje, de um evento em que estivessem mais de 5 mil pessoas e não apenas vocês”, afirmou, para uma plateia de aproximadamente 850 pessoas.

Apesar das reclamações e do discurso afiado com críticas que deixaram com cara de surpresos nomes como o vice-presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp (RO), a senadora Marta Suplicy (SP) e vários parlamentares peemedebistas, as mesas se preparam para a segunda etapa dos trabalhos. O senador Romero Jucá (RR) minimizou o clima de insatisfação. “Da crítica à contribuição tudo é importante. Nós vamos fazer com que o PMDB se orgulhe dos seus 50 anos, mas vamos indicar um caminho para que o Brasil avance”, ressaltou Jucá.

Há pouco, subiram ao palco para participar da segunda etapa das discussões o vice-presidente Michel Temer, o ex-presidente José Sarney (AP), os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ). Havia expectativa sobre como seria a reação da plateia a Cunha.

Cunha foi vaiado por um grupo de militantes antes de iniciar sua intervenção, em que defende o rompimento com o governo – posição que vem expressando desde que assumiu a presidência da Câmara. O encontro pode ser um termômetro do quanto a liderança do deputado se fragilizou após ser denunciado por corrupção e evasão de divisas para o exterior pela Procuradoria-Geral da República.

Antes, em entrevistas, o Temer havia sido provocado por jornalistas a apontar quem seria a liderança capaz de “reunificar o país”. O vice de Dilma defendeu o empenho da presidenta nesse papel.

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