Saia justa

Em meio a caciques, Cunha é vaiado e faz discurso discreto

Deputado foi recebido no congresso do PMDB por gritos de 'Fora Cunha' de alguns militantes e foi pouco aplaudido

Pedro Ladeira/Folhapress

Cunha vê partido com muitos candidatos a prefeito em 2016 e com nome próprio para o Planalto em 2018

Brasília – Durante a chegada do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao salão onde é realizado o congresso do PMDB, há pouco, o deputado recebeu vaias de integrantes da legenda, contrapostas por aplausos tímidos e breves, saídos de um grupo mais ligado a ele, que aparentou ter ido lá para barrar qualquer protesto maior que viesse a ser observado. Caciques da legenda, como o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney entraram juntos no local, para evitar maiores manifestações. Até porque a grande preocupação do partido, até ontem, era a repercussão da possível ida de Cunha ao evento e o desgaste que poderia causar, no momento em que os peemedebistas preparam um programa de governo para o país.

O deputado, entretanto, em tom irritado, já havia afirmado que iria, por não ter “nada a temer”. Eduardo Cunha chegou de cara sisuda ao local, um dia após o relator do processo contra ele, no Conselho de Ética da Câmara, deputado Fausto Pinato (PRB-SP), ter dado parecer favorável para o início das investigações que podem levar a sua cassação. Ao entrar, ouviu gritos de militantes pedindo sua saída da presidência da Câmara, minimizados logo depois pelos parcos aplausos.

Cunha falou de forma breve, mantendo o discurso que tem adotado desde que anunciou seu rompimento com o governo, em julho passado. Afirmou que esta terça-feira (17) está sendo dado um grande passo para o partido, embora não seja o que se esperava anteriormente, mas porque marca a discussão que começa a ser feita em cima de um programa para o PMDB.

“Independentemente de se concordar ou discordar do texto que será discutido a partir de hoje, o PMDB agora tem um programa, tem uma proposta para o Brasil sair da crise. Quero lembrar que o partido tem condições de apresentar candidato próprio em 2018 e apresentar o maior número possível de candidatos a prefeito em 2016”, ressaltou.

Discussão nas bases

Também alvo de expectativas, mas por outro motivo, Renan resolveu participar do congresso e chegou acompanhado do vice-presidente Michel Temer, a estrela principal do evento. O presidente do Senado tinha dado a entender que não compareceria por não concordar com o teor do documento “Uma Ponte para o Futuro”, com propostas do PMDB para o país, que começa a ser discutido a partir de hoje. Nos bastidores do Senado e em jantares com o peemedebistas, ele tem apontado vários itens que diz considerar inviáveis.

O senador alagoano disse que esse era apenas “um primeiro passo” para a legenda discutir o documento com as bases. “É importante que se diga sim à democracia. Temos de transformar as alianças políticas em alianças programáticas, deixando de lado as lembranças de conchavos”, destacou.

O ministro Eliseu Padilha, da Aviação Civil, afirmou que o evento dá início ao trabalho do partido no sentido de conhecer, com a avaliação do programa e sua discussão, o que pensam os integrantes da base peemedebista em todo o país. “O PMDB adota, agora, uma atitude de partido político e mostra que é muito maior do que qualquer aliança que tenha sido feita”, acentuou.

Já o ex-presidente Sarney disse que a legenda abandona a pecha de uma legenda sempre acusada de fazer articulação para se dedicar à formação de ideias. “Com esse documento estamos dando início à modernização do PMDB”, ressaltou.

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