Comissão de Orçamento

Apesar de apelos da base, Dilma entrega com antecedência defesa sobre contas

Embora iniciativa tenha sido vista com apreensão por parlamentares, que achavam melhor esperar mais um pouco, presidenta argumentou que medida mostra positividade do governo em relação às suas contas

Roberto Stuckert Filho/PR

Iniciativa de antecipação da defesa foi apontada pela presidenta, na reunião da coordenação política, ontem (3)

Brasília – Embora em meio a desconfianças na base aliada e entre integrantes do Palácio do Planalto de que pode não ser a melhor estratégia, o governo decidiu se antecipar e entregou hoje (4) a sua defesa com todos os argumentos sobre o parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) que rejeitou a prática das pedaladas fiscais no exercício de 2014. O parecer tramita na Comissão Mista de Orçamento que, munida do documento recém-chegado, passará a avaliar se concordará ou não com o relatório do tribunal em relação às contas da presidenta Dilma Rousseff.

A defesa elaborada pelo governo, com mais de 50 páginas, foi entregue formalmente ao presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, no final da manhã. Dentre os argumentos apresentados, conforme informou a assessoria de Jaques Wagner, o Executivo destaca, no texto, considerações sobre os nove itens recomendados pelo TCU ao governo e apresenta, em anexo, notas técnicas do Tesouro Nacional e do Banco Central.

O ministro Jaques Wagner destacou a importância do direito ao contraditório. “Na democracia, o contraditório é a graça de tudo. Você perde num tribunal, recorre para outro tribunal, ganha, recorre para outro, pode ganhar ou perder. A vida é assim. Nós tivemos uma instância que tem um relatório prévio (o TCU)”.

Segundo Wagner, o julgamento do Congresso é lastreado em base técnica. “Não me peçam para dizer que existe interpretação única da lei, porque a arte da democracia é o contraditório. Para isso, existem os advogados e o juiz. O que vale, agora, não é a nossa defesa, é o julgamento da CMO, afirmou. Já o advogado-geral da União, Luís Adams, ressaltou que não houve prejuízo para a União nas contas do governo referentes a 2014. De acordo com ele, “não há elementos que justifiquem sua rejeição, como deseja o TCU”.

No último dia 21, logo depois de receber o parecer do TCU pela rejeição das contas da presidenta, Renan Calheiros decidiu abrir um prazo de 30 dias para o governo apresentar sua defesa, podendo este período ser prorrogado por mais 15 dias.

Mesmo assim, o Executivo decidiu acelerar a entrega desse documento. A estratégia, que segundo fontes do Palácio do Planalto foi capitaneada pela própria presidenta, foi vista com preocupação por muitos deputados e senadores e teve como objetivo passar a imagem de que o governo não tem interesse em adiar esse prazo e está confiante na aprovação das contas.

A iniciativa foi apontada pela presidenta aos seus ministros, na reunião de ontem, da coordenação política, como uma forma de passar otimismo para o país nesse período de crise política. E, ao mesmo tempo, dar um sinal positivo para levantar a confiança do mercado financeiro. Mas vários parlamentares, principalmente senadores, demonstraram preocupação e destacaram, no mesmo encontro, que a medida é arriscada – já que o Executivo teria bem mais tempo para trabalhar as votações sobre o tema na comissão de Orçamento.

A avaliação que esse grupo faz é de que, hoje, não há certezas dentre os integrantes da comissão nem sobre a possibilidade de aprovação nem de rejeição ao parecer do TCU e não haveria motivo para precipitações.

Ao receber o documento, Renan Calheiros evitou fazer comentários sobre o assunto e disse que repassará o quanto antes o material para a presidenta da comissão, a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que acompanhou a entrega. Assim que receber formalmente o material, ela o encaminhará para o senador designado para a relatoria do caso, Acir Gurgacz (PDT-RO).

Gurgacz  terá, logo que receber as informações, prazo de 40 dias para apresentar um relatório preliminar. Depois deste parecer prévio, a ser apresentado pelo senador, os deputados da comissão possuem 15 dias para apresentar emendas ao texto. E, depois, há um período de mais 15 dias para que seja entregue o relatório final do senador Gurgacz.

Após a entrega do relatório final, os integrantes da comissão possuem mais sete dias para a votação da matéria. Diante de tantos prazos, a senadora Rose de Freitas, no entanto, disse que esse período será antecipado, porque o intuito dos deputados é trabalhar com agilidade em relação à matéria.

A senadora afirmou que o objetivo da composição atual da CMO é fazer um trabalho de análise técnica, com base nas informações encaminhadas tanto pelo TCU como pelo Executivo, procurando evitar considerações e julgamentos de ordem política. Mas como se sabe que, se vierem a ser rejeitadas, as contas de Dilma podem dar fundamento à aprovação de algum pedido de impeachment contra ela, tanto oposição como base aliada viram com certa apreensão a entrega dos documentos. Os dois lados prometem trabalhar para apresentar emendas e acompanhar de perto os trabalhos da comissão, daqui por diante.

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