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País precisa ‘enxotar’ intolerância política, defende Jaques Wagner

Em evento da revista 'CartaCapital', ministro-chefe da Casa Civil pede tolerância política e diálogo e afirma que 'agenda do governo hoje é a da economia e da produção'

© Eduardo Lopes / CartaCapital

O ministro Jaques Wagner, durante debate: “A democracia só prospera num ambiente de tolerância”

São Paulo – O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse hoje (26) que a sociedade brasileira precisa “enxotar” qualquer tipo de intolerância, incluindo a política. “A democracia só prospera num ambiente de tolerância”, ressaltou, durante discurso em evento promovido em São Paulo pela revista CartaCapital.

Jaques Wagner afirmou que a crise atual não aponta para nenhuma catástrofe – “mas para um momento de dificuldade contra o qual estamos trabalhando de forma dura”– e que aumento do diálogo e defesa da democracia são ideias que têm de ser debatidas. Segundo ele, o governo está ciente da gravidade do momento atual e tem como prioridade hoje a economia, com destaque para a questão fiscal. “Do ponto de vista do governo, nossa agenda é a da economia e a da produção”, disse. “As outras que surgirem responderemos pontualmente.”

Para Wagner, que assumiu o cargo no último dia 7, após a primeira reforma ministerial do governo Dilma, ainda que a crise econômica seja grave, a dificuldade mais dura enfrentada atualmente pelo país é a crise política. Para contorná-la, disse o ministro, é preciso criar um ambiente que favoreça a conversa entre as diversas forças políticas da sociedade.

“A democracia só funciona em um espaço de diálogo, em um ambiente de tolerância pelo contraditório”, disse Wagner. Ao pedir mais espaço para a divergência política, o ministro afirmou que a polarização “empurra o País para as piores soluções”.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo enfatizou a importância do debate sobre a reforma tributária que, na sua avaliação, precisa ser mais racional e justa. Ele disse que o trabalhador que recebe até cinco salários mínimos gasta 55% da sua renda com impostos, enquanto nas camadas mais ricas da população essa despesa diminui. “É um sistema muito regressivo”, afirmou.

O economista mostrou sua preocupação com a opinião de alguns colegas de que a ampliação dos direitos sociais e econômicos deve ser suspensa. Mas lembrou a necessidade de sua continuidade estar amparada na administração racional dos gastos públicos. “Os desequilíbrios da estrutura tributária brasileira vem desde 1965. Precisamos de uma outra reforma que transforme o sistema de forma racional e justa.”

Outro participante da premiação, o economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto avaliou também a atual conjuntura política do país. Ele ressaltou que a presidenta Dilma Rousseff não cometeu nenhum desvio de conduta que justifique pedido de impeachment encabeçado por setores conservadores da sociedade, incluídas suas representação partidárias. “As ‘pedaladas fiscais’ sempre existiram nos estados, nos municípios, na União. Se houvesse desvio de conduta, não haveria problema com o impeachment. Mas, na forma que está sendo levantada a hipótese, não há justificativa. Isto é uma tapetão inventado. O Brasil não é uma pastelaria“, destacou.

Delfim afirmou ainda que aceitar o resultado das últimas eleições seria “um processo didático para a oposição”.

Luiza Trajano, dona da rede de lojas de varejo Magazine Luiza, também posicionou-se contra o afastamento da presidenta. “A eleição terminou no ano passado e parece que este ano começou um novo ano eleitoral. Vamos parar de pensar no poder e pensar num projeto para o Brasil.”

Com reportagens da Agência Brasil e da CartaCapital