Congresso da CUT

Mujica condena cultura do mercado e prega unidade e jornada menor

'A única luta que se perde é a que se abandona', diz líder uruguaio, em referência ao momento brasileiro. 'Temos de lembrar às futuras gerações que somos responsáveis pelo mundo em que vivemos'

RICARDO STUCKERT/ INSTITUTO LULA

Dilma cumprimenta Pepe Mujica, convidado especial da abertura do 12º Concut, em São Paulo

São Paulo – Destaque da abertura do congresso da CUT, ontem (13) à noite, em São Paulo, o ex-presidente do Uruguai José Mujica, atual senador, fez referência ao momento difícil vivido pelo Brasil, receitando persistência e unidade. “Eu sei que vocês, brasileiros, estão passando por um momento difícil. Mas durante a minha vida aprendi uma coisa fundamental: a única luta que se perde é a que se abandona.”

Exaltado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chamado de “dom Pepe” pela presidenta Dilma Rousseff, Mujica disse que é disse que é preciso avançar na unidade e na integração sul-americana como forma de fazer frente ao capitalismo globalizado. Defendeu, inclusive, a criação de universidades integradas como forma de potencializar a produção de inteligência no continente. “Já chegamos tarde à era industrial. Não podemos ficar para trás na era do conhecimento e da informação, que vai definir o futuro”, alertou. “Isso não significa hipotecar a pátria nem perder nossos sentimentos de nacionalidade. mas construir uma casa maior, que possa proteger a todos.”

Segundo ele, é preciso se preocupar com o salário, direitos e democracia, mas também pensar no amanhã. “Temos de lembrar às futuras gerações que somos responsáveis pelo mundo em que vivemos.” Da mesma forma, observou, os jovens de hoje precisam saber o que já aconteceu. “A liberdade é fruto da dor dos lutadores sociais que vieram antes de nós. O que se conquistou não caiu do céu. É fruto do heroísmo de gerações de lutadores sociais que nos precederam.” Por isso, é preciso pelear (lutar) pela democracia, “que está longe de ser perfeita”.

O líder uruguaio criticou a chamada cultura de mercado, que obriga as pessoas a correrem “como loucos”. E disse que os trabalhadores devem lutar por salários melhores, mas não podem se iludir. “A verdadeira pobreza é gastar a vida preocupado em viver acumulando, acumulando, acumulando. É preciso fazer as coisas que você gosta e ama. Se você não conseguir a felicidade com pouco, nunca a conseguirá.”

Mujica defendeu transparência na administração pública e nos balanços das empresas privadas. “O Estado tem de se encarregar de mitigar as desigualdades”, diz Mujica, acrescentando: “Desde sempre, quando você põe a mão no bolso de um poderoso para cobrar impostos, acaba por ganhar um inimigo de classe”.

Ao fazer menção às diferenças jornadas de trabalho em todo mundo, o ex-presidente observou que os analistas econômicos apontam a luta sindical por redução como um fator que afeta a competitividade. “Enquanto houver desigualdade nas jornadas e nos direitos, não há como competir, Então se impõe o desafio de lutar para que haja uma única jornada de trabalho em todo o mundo.”

O ex-presidente diz reconhecer as dificuldades diante de um mundo no qual impera o poder do capital financeiro, mas ressalta que enfrentar essa realidade pressupõe aumentar o potencial da América Latina. “Não estou olhando para o meu mundo, porque tenho 80 anos, estou olhando para os que estão por vir.”

Com informações de Paulo Donizetti de Souza e Vitor Nuzzi

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