REBAIXAMENTO DO BRASIL

Parlamentares falam em união do Congresso para ajudar país, mas não dizem como fazer

Ambiente na Câmara e no Senado é de tensão e troca de farpas. Oposição diz que quer ajudar, mas que saída tem que partir do governo. Cunha se isenta de culpa e omite manobras em votações

Lula Marques/Agência PT

José Guimarães (PT-CE) classifica a situação como “uma travessia difícil” pela qual o país está passando

Brasília – O rebaixamento do Brasil na agência de risco internacional Standard and Poor’s monopoliza os debates do Congresso hoje (10). Apesar de um dia tenso, marcado pelo lançamento de um movimento contra a presidenta Dilma Rousseff, pela votação de temas polêmicos como a reforma política, parlamentares da oposição e base aliada trocam farpas entre si, mas todos destacam que a resolução da crise econômica deve passar por um acordo no Congresso daqui por diante. Reconhecem também que é necessário haver entendimento entre eles. Mas, apesar desse discurso, ninguém apresentou fórmulas ou intenção de fazer essa “pacificação” acontecer de forma concreta.

O relator da proposta de Orçamento Geral da União para 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirmou que o momento requer um movimento rápido do governo em relação ao Congresso para serem construídas soluções legislativas que ajudem no corte de despesas. “É preciso um movimento firme e articulado com o Congresso. Nosso pedido é que o Executivo rapidamente se entenda e procure trazer suas alternativas para conversar com os líderes desta Casa. Nós, na comissão (mista de Orçamento), estamos empenhados em ajudar o Brasil”, destacou.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chamou a situação de “uma travessia difícil” pela qual o país está passando, disse que diálogos são construídos e retomados todos os dias, e que a base aliada está “confiante na retomada do crescimento”.

O líder do DEM, Mendonça Filho (PE), um dos expoentes do movimento lançado hoje que pede o impeachment da presidenta, disse que a oposição tem interesse em colaborar para amenizar o quadro, mas ao mesmo tempo, foi irônico em suas palavras. “Nossa disposição é ajudar, mas o governo tem que mostrar o caminho, e da forma como a situação se encontra, perde cada vez mais o comando da agenda política e sua capacidade de interlocução com o Legislativo.”

Irresponsabilidade

Para a líder do PCdoB, Jandira Feghali (RJ), a situação está sendo usada de forma irresponsável por políticos que não estão interessados em ver o país sair da crise. “Ontem, quando foi divulgada a notícia do rebaixamento, tive a sensação que o mundo tinha acabado e todos acreditaram nisso. O noticiário foi que o Brasil acabou, não tem mais jeito, é mau pagador”, ressaltou.

“Fico ouvindo o que a oposição fez com esses dados, mas eles esquecem que dizer que durante oito anos o Brasil nunca ultrapassou dois degraus abaixo do nível em que se encontra o governo Dilma. Ou seja: mesmo em seu pior momento, o governo Dilma está dois itens acima do que passou o país no governo de Fernando Henrique Cardoso. O Brasil é muito grande, não pode depender do crivo de agências de risco que não são isentas politicamente”, acentuou.

Mudanças tributárias

Já o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) defendeu mudanças da estrutura tributária brasileira, que classificou como “injusta”. “É necessário começarmos a inverter essa política e dar outro sinal”, afirmou, ressaltando que existem diversas aplicações financeiras que não são tributadas atualmente, como a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e a Letra de Crédito Imobiliário (LCI). “Se essas letras tivessem sua tributação feita, com certeza aumentariam a arrecadação do governo. Além disso, não há cobrança do Imposto de Renda sobre lucros e dividendos, que é uma coisa que acontece praticamente só no Brasil.”

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi num movimento contrário e afirmou que a Casa não pode nem deve ser considerada responsável pela perda do grau de investimento do país. Ao chegar ao Congresso, Cunha disse que todas as propostas do ajuste fiscal foram aprovadas, sem lembrar que várias manobras foram feitas para atrasar votações ou mudar itens referentes a desonerações de empresas, que nos bastidores foram atribuídas a articulações capitaneadas por ele.

“Qual é a proposta que o governo mandou este ano que não foi apreciada pela Câmara?” indagou, acrescentando que o que falta, a seu ver, é o Executivo “fazer a própria parte”.  “O governo não tem a confiança hoje do mercado, dos investidores e dos consumidores para manter a atividade econômica. É isso que precisa ser restabelecido”, salientou.

‘Saída do PT’

No Senado, a situação não é menos tensa. A briga inicial partiu dos senadores Ataídes Oliveira (PSDB-TO) e Donizeti Nogueira (PT-TO). Adversários do mesmo estado, os dois discutiram depois que Oliveira criticou o rebaixamento e disse que “a única saída para o país é a saída do PT do governo”.

Donizeti fez um comparativo com a situação econômica observada em governos anteriores e enfatizou que “tanto a oposição quanto a situação têm suas responsabilidades” no atual quadro. “Agora é reconhecer a crise, como o nosso partido, o nosso governo tem reconhecido, e encontrar alternativas, como vem buscando, para superá-la. E eu acredito que tanto a oposição quanto a situação têm as suas responsabilidades”, afirmou.

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