REUNIÃO NO PLANALTO

Governadores do PSB prometem apoio para manter vetos; racha na sigla continua

Câmara, Coutinho e Rollemberg fazem parte da ‘ala moderada’ do partido, que defende aproximação com o governo, mas têm de enfrentar bancada do Congresso, que prefere postura oposicionista

Câmara, Rollemberg e Coutinho: mais um passo no sentido de aproximação com o Palácio do Planalto

Brasília – Os governadores do PSB que são contrários à decisão do partido de deixar de ser independente para se formalizar como oposição, Paulo Câmara (Pernambuco), Ricardo Coutinho (Paraíba) e Rodrigo Rollemberg (Distrito Federal), deram mais um passo no sentido de aproximação com o Palácio do Planalto hoje (30).

O trio foi chamado para uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff, na qual ela pediu para que passassem a atuar como interlocutores junto à bancada da legenda neste momento difícil para que o ajuste fiscal seja aprovado. Dilma também pediu para que eles insistam com os parlamentares da sigla para votarem pela aprovação dos vetos a matérias consideradas “pautas-bomba”, em sessão programada para se realizar hoje.

Embora sabendo que é forte entre os deputados e senadores do PSB no Congresso o interesse de fazer com que a sigla passe a ser oposicionista, segundo assessores que participaram da conversa, os governadores demonstraram concordar com a aprovação dos vetos e disseram que vão procurar formas de ajudar o Executivo para ajudar na situação econômica do país. Mas uma das expectativas que vinha sendo comentada nos bastidores, de que fosse oferecido por Dilma, de volta à sigla, o Ministério da Ciência e Tecnologia (que antes pertencia ao PSB), num possível retorno do PSB à base aliada, não foi tratado no encontro.

A situação, no entanto, é de impasse, já que apesar das divergências entre o grupo do Congresso e o que é capitaneado pelos três governadores, a legenda já começa a evitar falar no assunto antes de tomar uma decisão colegiada – a partir de reunião da executiva, programada para se realizar em 15 de outubro. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira (que é um dos mais enfáticos no discurso oposicionista), já recua em suas declarações e afirma que mesmo sem fazer parte da base aliada eles podem vir a ajudar o governo “caso a presidenta apresente uma proposta para tirar o país da crise”.

Situação dos estados

Nas entrelinhas, a briga interna no PSB tem outro foco: a situação crítica dos estados de Pernambuco e Paraíba, além do Distrito Federal, grandes concentrações eleitorais da legenda, onde os governadores sentem os efeitos da crise econômica e tendem a sofrer desgaste nas próximas eleições junto à população. O DF, por exemplo, enfrentou uma greve geral na última semana, que promete ser repetida pelos servidores nos próximos dias, diante de atrasos de pagamentos de salários e aumentos de impostos anunciados como forma de conter o déficit do governo.

O governador Rodrigo Rollemberg, que antes de assumir era senador, é tido no Congresso como um dos negociadores da sigla com o Palácio do Planalto, mesmo nos momentos de maior embate do PSB com o governo. Rollemberg tem feito pedidos ao governo federal para liberar recursos que ajudem a situação da sua gestão.

Câmara, que é hoje o vice-presidente nacional do PSB, disse, pouco antes de viajar a Brasília, que se depender dele, a legenda deve se unir “em torno dos interesses nacionais, deixando de lado as questões políticas e partidárias”.

“O que tenho colocado para a presidenta Dilma e também para nossa bancada é que precisamos nos unir para reunir condições a fim de que o Brasil volte a funcionar. É um desafio muito grande e nós temos que ter sensibilidade neste momento”, ressaltou, acrescentando que “a crise é gravíssima”.

‘Sem irresponsabilidades’

Uma das alternativas que tem sido proposta pelos governadores é de que a legenda continue como se encontra, atuando com independência e sem ligações mais fortes com o governo, mas sem a pecha de oposicionista. É uma posição difícil, uma vez que parte dos integrantes da bancada no Congresso afirma textualmente que apoia o pedido de impeachment de Dilma, ao lado das bancadas da oposição, como DEM, PPS e PSDB.

Para Paulo Câmara, “o PSB não pode fazer uma oposição irresponsável”. O governador, que ao lado dos colegas de partido saiu do encontro sem falar com os jornalistas, antecipou que levaria para a presidenta alternativas comuns aos estados nordestinos, como operações de crédito para obras hídricas e propostas na área de saúde.

“Vamos procurar ouvi-la (Dilma) e também trazer sugestões. Vou aproveitar para levar a pauta que acho importante tanto para o Nordeste como para o Brasil. Tem a questão das operações de crédito que ela já sinalizou para 2016, a saúde, desafio de qualquer governante, e também queremos discutir recursos hídricos, já que tudo indica que vamos para o quinto ano de seca em 2016”, destacou ele, em Recife.

Contatos diretos

Os contatos entre PT e PSB, no entanto, estão sendo feitos há duas semanas e não têm previsão de acabar. O primeiro deles foi por meio de um encontro entre o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o presidente nacional do partido, Carlos Siqueira.

Uma segunda reunião teria acontecido, de acordo com um secretário do Governo do Distrito Federal, entre o governador Rodrigo Rollemberg e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. E o de hoje é coordenado pela própria presidenta.

Ou seja: oficialmente, sabe-se que a pauta da reunião foi a discussão de questões nordestinas e do DF e formas de os governadores ajudarem o Executivo federal a superar a crise econômica, com medidas que também os ajudarão, e o apoio desses governantes, reforçado junto às bancadas dos seus estados na Câmara e no Senado, para a manutenção dos vetos presidenciais. Na prática, o que foi discutido nesse “acordo implícito” pode vir a ter consequências políticas bem mais amplas.