Rompimento

‘Eu cheguei no meu limite’, diz Alessandro Molon sobre resistência a mudanças no PT

'No Rio de Janeiro, o PT já vem se tornando uma linha auxiliar do PMDB há algumas eleições', diz deputado que sai da legenda em que militou por 18 anos para se filiar à Rede, de Marina Silva

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

“É fundamental para o Brasil que a eleição de 2014 termine”, afirma parlamentar, agora na Rede

São Paulo – O deputado federal Alessandro Molon, que anunciou ontem (24) sua desfiliação do PT depois de 18 anos de militância, afirma à RBA que a saída do partido se deu por uma série de fatores que acabaram por revelar a “convicção de que é muito difícil conseguir fazer mudanças de que o PT precisa pelas resistências do grupo dirigente interno”.

Criticado por militantes, agora ex-correligionários, por ter escolhido a Rede, cuja principal dirigente, Marina Silva, apoiou Aécio Neves em 2014 (embora a opção tenha dividido o partido), Molon diz que a eleição de 2014 precisa finalmente acabar para quem perdeu e para quem ganhou.

Sua decisão de sair do PT surpreendeu muita gente.  Objetivamente, quais foram os problemas?

Olha só: 35 deputados do PT, de uma bancada de 63, escrevemos um texto chamado “Mudar o PT para continuar mudando o Brasil” (apresentado no 5° Congresso do partido em Salvador, em junho). Levamos este texto para lá e tentamos aprovar as propostas. Nenhuma foi aprovada. Defendíamos um congresso constituinte para que o PT pudesse atualizar seu programa, fazer um novo estatuto. Para, enfim, fazer um reencontro com sua história. Rejeitado. A única mudança aprovada foi para piorar o PED (Processo de Eleição Interna), acabando com a exigência de contribuição partidária para participar das eleições internas.

Não é possível voltar de um congresso como esse imaginando que você vai conseguir ter chances de fazer as mudanças de que o PT precisa. Reaproximando sua militância. O partido está distante de sua militância. A direção partidária, o grupo dirigente vem tomando decisões que o afastam cada vez mais da militância. Os parlamentares estão muito insatisfeitos.

Então, depois dessa convicção de que é muito difícil conseguir fazer essas mudanças pelas resistências do grupo dirigente interno, eu cheguei no meu limite. Acrescente a isso a grave situação do Rio de Janeiro, em que o PT já vem se tornando uma linha auxiliar do PMDB do Rio há algumas eleições, e essa tendência agora vai ser reforçada com o lugar estratégico que o PMDB do Rio está ocupando nessa suposta estabilização do governo.

Então, o PT do Rio vai continuar se ausentando do cenário como alternativa real.

E por que a escolha pela Rede?

Eu se achasse que deveria ir para outro partido, que já existia em 2014, eu teria disputado eleições por ele. A Rede é um partido que não existia, que está sendo construído, que está recebendo militantes que defendem muitas causas que eu defendo também, de justiça social, de fortalecimento da democracia, de desenvolvimento sustentável. Gente do PT, gente do Psol, gente do PSB, gente do PDT. Então, eu acho que é um lugar, uma construção que tem tudo para ser bem-sucedida para de alguma maneira resgatar esses sonhos, esses ideais que levaram à fundação do PT e que me trouxeram para a política.

Algumas pessoas criticam o fato, segundo elas contraditório, de sua escolha ter sido por um partido que apoiou Aécio Neves ano passado, por meio de Marina.

É fundamental para o Brasil que a eleição de 2014 termine. Quem perdeu a eleição tem que aceitar o resultado e respeitar a democracia brasileira. Por isso, é inaceitável a tentativa de impeachment contra a presidente. Agora, quem ganhou a eleição tem que virar essa página também, não tem que ficar olhando para trás e remoendo cada coisa que aconteceu na eleição. A eleição foi vencida. Ponto. Vamos para a frente. A sensação que eu tenho é que há uma eternização da eleição de 2014. Ela já acabou e temos que deixar que ela acabe para o Brasil seguir em frente.

Você tem boas chances de se candidatar para a prefeitura do Rio. Pensa nisso?

Eu acabei de chegar na Rede e já percebi que ela tem um cuidado muito grande. Primeiro discutir programas para a cidade e depois discutir nomes. Essa discussão de nomes para 2016 ainda está muito distante para a Rede, então o foco tem que ser discutir programas para o Brasil, que tem graves problemas. Mobilidade, saneamento, qualidade de vida, esse tem que ser o foco, o nome vem depois.