PMDB

Aproximação entre líder do PMDB e Planalto atrai apoio e desconfiança

Leonardo Picciani, antes ligado a Eduardo Cunha, tem mudado de postura, e prega diálogo e apoio ao governo. Adversários questionam se 'fidelidade' é consistente e se será duradoura

Luis Macedo/Câmara dos Deputados/fotos públicas

Afastamento de Picciani de Cunha é comentado desde julho, quando presidente da Câmara foi citado na Lava Jato

Brasília – Olhos e ouvidos estiveram voltados para o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ) nesta terça-feira (8). Apontado durante o fim de semana como pivô da crise entre o vice-presidente Michel Temer e o Palácio do Planalto, o deputado não confirma, mas tem se distanciado do presidente da Casa, Eduardo Cunha (RJ) – que o tinha como “discípulo” até o mês passado – e sido cortejado para encontros sobre a bancada peemedebista com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e a própria presidenta Dilma Rousseff.

Para um parlamentar que é ligado ao ex-governador fluminense Sérgio Cabral e que nas últimas eleições apoiou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência, a posição de Picciani tem sido avaliada como mais dúbia entre os colegas.

O líder do PMDB, no entanto, se defendeu hoje negando as acusações. Por meio de sua assessoria, disse que apesar das matérias veiculadas sobre queixas feitas nos bastidores por Temer, não pediu cargos para a diretoria da Caixa Econômica Federal. Segundo notícias circuladas na semana passada, um indicado por Temer para uma das vice-presidências da Caixa teria sido preterido por outro, sugerido por Picciani.

O deputado afirmou que as conversas mantidas com a presidenta Dilma e o ministro Mercadante são reuniões programadas costumeiramente pelo Executivo com líderes partidários, assim como ocorre com outras legendas. Destacou, também, que nem o vice-presidente da República, nem o presidente da Câmara reclamaram da sua posição.

Apesar disso, em entrevista no final de semana, o líder deixou claro que é um deputado “independente”, numa referência a Eduardo Cunha (com quem sempre demonstrou ampla afinidade) e explicou sua atitude de aproximação com o Executivo chamando a atenção para a importância de se buscar o diálogo com o governo. Enfatizou que, se por um lado apoiou o candidato que fez oposição a Dilma Rousseff, por outro lado, tem consciência que “o momento é de as lideranças políticas se unirem para ajudar o país a sair da crise”.

O afastamento de Picciani de Eduardo Cunha passou a ser comentado desde julho, quando foram abertas investigações contra o presidente da Câmara por envolvimento na Lava Jato e este, no dia seguinte, anunciou seu rompimento com o governo. Na ocasião, a liderança do PMDB, sob o comando do parlamentar fluminense, divulgou que iria reunir a bancada para discutir o assunto, em vez de apresentar uma nota de apoio formal ao presidente da Casa.

‘Governismo no DNA’

Para o líder do Psol, deputado Chico Alencar, que também é do Rio de Janeiro, a posição não causa surpresa. “Ele (Picciani) faz parte de um clã político que tem como sinal congênito o governismo. O pai (deputado estadual Jorge Picciani, atual presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) sempre atuou vinculado a governos: foi assim com Garotinho, Sérgio Cabral (ex-governadores) e agora, com Pezão (Luiz Fernando Pezão)”, diz Alencar. “Eles preferem ficar do lado do governo, para terem a caneta na mão e imagino que sua posição conte com o apoio da maior parte da bancada peemedebista. Só não sei até quando isso será bom para o Palácio do Planalto nem até quando essa fidelidade irá durar.”

Um parlamentar do PT disse reservadamente que o momento é de buscar apoios para a tramitação e votação do Orçamento Geral da União para 2016 e de a base aliada buscar a união maior de forças. Neste sentido, a estratégia de ter Picciani como aliado seria correta. “Mas ninguém se engana sobre o que está por trás desse apoio”, ponderou. Para esse mesmo deputado, o próprio Planalto deveria “ir com calma” nas articulações que têm Picciani à frente, de forma a evitar estremecimentos com outros setores peemedebistas. “Ele é o líder da legenda na Câmara, mas todos sabem que foi moldado por Eduardo Cunha. Se essa aproximação minar os contatos com o Temer e outros articuladores, a estratégia pode dar errado, por isso é preciso prudência”, observou.

Já o deputado Wadih Damous (PT-RJ) disse que vê como positiva a aproximação. Damous lembrou que Picciani é um político pragmático e lembrou dos pedidos de afastamento da presidenta que têm sido feitos pela oposição, incluindo peemedebistas. “Acho importante que ele esteja disposto a conversar e entender que o mandato conquistado nas urnas é legítimo e tem de ser respeitado. Se ele está envolvido nessa conversa, sua conduta pode ajudar a isolar o Eduardo Cunha, o que é bom para a democracia, e a desarmar pautas bombas no Congresso, o que é bom para o equilíbrio financeiro do país.”

Aproximação com cariocas

Em conversas reservadas, as informações são de que a presidenta Dilma Rousseff já teria dito que ela mesma se encarregaria de tentar aproximar mais o PMDB do seu governo, por meio do bom contato que possui com o atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e parlamentares do PMDB daquele estado. A equação, por outro lado, é complicada, uma vez que é notória a ligação de Picciani e seu pai, Jorge Picciani, com o ex-governador Sérgio Cabral, que articula nomes para a chapa a ser formada para a prefeitura do Rio de Janeiro no próximo ano. Além disso, o PMDB tem no prefeito carioca Eduardo Paes um postulante à candidatura presidencial em 2018.

Em seu quarto mandato como deputado federal, com 35 anos, Leonardo Picciani é carioca da gema, morador da Barra da Tijuca. E apesar do domicílio eleitoral no Rio de Janeiro, se autointitula “profissionalmente” como agropecuarista – é administrador de uma fazenda da família, localizada no Mato Grosso. Já chegou a demonstrar, no final do ano passado e início deste ano, segundo políticos ligados a ele, interesse em disputar a prefeitura do Rio de Janeiro nas próximas eleições.

Picciani defende a volta da CPMF como forma de ajudar o governo a equilibrar as contas públicas e, mostrando que fez bem os deveres de casa do padrinho Eduardo Cunha, que sempre destaca o caráter institucional do seu trabalho, tem costumado enfatizar que sua postura representa a posição da maioria da bancada do PMDB.