cruz e espada

Presidenta agradece rosas, mas sabe que nem tudo é flor no Planalto

Governo admite gravidade da instabilidade política. E acena mudança de postura junto à base social e aliados por um segundo semestre mais próximo de “agenda de outubro”

paulo donizetti de souza

Governo viu sua popularidade despencar – num ambiente temperado por elevado grau de hostilidade da oposição social, partidária e da mídia

Brasília – Quando a presidenta Dilma Rousseff iniciou sua fala ontem (28), no lançamento da plataforma Dialoga Brasil, algumas pessoas da plateia se aproximaram e espalharam pétalas de rosas em uma parte do palco. A presidenta agradeceu. “Diálogo com rosas é mais gostoso, ainda mais vermelhas”, brincou, em referência ao fato de que nem tudo são rosas desde o início de seu segundo mandato. Entre a cruz da crise econômica e a espada da crise política entre os três poderes, o governo viu sua popularidade despencar – num ambiente temperado ainda por um elevado grau de hostilidade da oposição social, partidária e da mídia.

Ao se permitir dizer, no início, que “não se governa um país deste tamanho” sem diálogo, a presidenta Dilma sinaliza ingressar numa nova fase de reação de seu mandato às intempéries por meio de uma agenda mais positiva, que a aproxime daqueles que lhe deram a vitória em outubro passado. A falta de diálogo é um dos principais focos de reclamação contra a presidenta, dos partidos aliados aos movimentos sociais, passando por lideranças empresariais e acadêmicas.

E se o cenário econômico adverso a afasta da plataforma de “iniciar um novo ciclo de desenvolvimento sustentável com inclusão social”, a falta de carinho a quem sempre lhe deu a mão nas horas difíceis também inibe a capacidade desses setores, sua base social, de ajudar a segurar o rojão da impopularidade agravada pela “crise conjuntural”, na expressão do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto.

O governo parece pretender mostrar que não está paralisado, que os programas sociais de criação de oportunidades e de redução das desigualdades – que fizeram do país vitrine internacional nos últimos 12 anos – seguirão de vento em popa. E que vai ouvir mais sua base política e social para sair das cordas. “Nossa geração ainda não assistiu a uma instabilidade política dessa gravidade”, admite o ministro, que consegue, no entanto, vislumbrar um segundo semestre mais “estável” do que o primeiro, com uma nova postura do Planalto em relação ao Congresso, aos partidos da base, aos governadores e prefeitos, empresários, trabalhadores e movimentos. Reunião com governadores está prevista para amanhã (30).

Rossetto observou as dificuldades enfrentadas desde janeiro e encontrou com lupa alguns saldos que considera positivos. Destacou três. O projeto que legaliza as terceirizações foi exposto a uma grande mobilização e “chegou morto” ao Senado, ele acredita. O grande debate nacional em torno da redução da maioridade penal também teria, na visão do ministro, conduzido o tema a um embate muito mais difícil do que o esperado pela maioria conservadora da Câmara, que achou que nadaria de braçada – para Rossetto, os defensores da medida terão muito mais dificuldade em prosperar. Ele lista ainda o financiamento empresarial de campanhas como outro item do conservadorismo que só conseguiu sair da Câmara aprovado depois de sofrer restrições. “Esperavam liberar, mas o nível de permissão ao financiamento privado encolheu”, avalia.

A pressão pelo impeachment também é minimizada pelo ministro da Secretaria-Geral. “É uma tese morta, apesar de alguns irresponsáveis insistirem nela”, disse. Diante de um grupo de jornalistas após o evento de ontem, ele foi questionado por que a plataforma Dialoga Brasil não se encaixa no cenário de polarização do ambiente político, ao não abordar, também, para o debate temas quentes como maioridade penal, desmilitarização das polícias ou mesmo o ajuste fiscal. Rossetto explicou que o sistema vem sendo construído há meses para colher contribuições de ordem estruturante e que estão sendo pensados meios de, mais adiante, abrir-se para temas polêmicos e conjunturais.

O ministro admitiu, por fim, que o governo peca na falta de regulamentação dos meios de comunicação. “O governo é devedor, nos últimos 12 anos, naquilo que é uma exigência constitucional, que é assegurar a pluralidade de informação e de opinião.”

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