Coalizão

PMDB deixa para depois do recesso decisão ante rompimento de Cunha

Nota do líder Leonardo Picciani, um dos mais ligados a Cunha, diz que posição fica para agosto. Muitos parlamentares temem envolvimento do presidente da casa na Operação Lava Jato

Brasília – O líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), divulgou nota há pouco informando que a bancada peemedebista na Casa só vai se manifestar sobre que posição tomar em relação ao rompimento do presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o governo após o retorno dos parlamentares do recesso, em agosto. “Em respeito à posição expressa de forma pessoal pelo presidente da casa (Cunha), a bancada do PMDB, tão logo termine o recesso parlamentar, se reunirá para, dentro da suas atribuições estatutárias, demandar retaliação de reunião das instâncias superiores do partido, de modo a deliberar acerca da posição partidária”, deixou claro.

Picciani é um dos deputados mais ligados a Eduardo Cunha e foi conduzido à liderança do partido na Câmara por intermédio dele. A divulgação da nota, para muitos parlamentares do PMDB e do PT, foi vista como uma forma de transparecer que, se por um lado a legenda considerou a posição de Cunha de caráter pessoal, mantendo a aliança com o Executivo, muitos deputados peemedebistas pensam diferente e querem discutir a questão dentro da executiva nacional do partido.

“Eles podem até engrossar o coro por uma saída da base aliada, mas é difícil acreditar nisso, diante das denúncias que cercam Cunha pondo em risco o seu cargo como presidente e diante da ânsia que o PMDB sempre teve por cargos dentro do governo”, avaliou um ex-líder governista, para quem o recado foi dado nas entrelinhas, mas não deixou dúvidas.

‘Nada mais correto’

No sentido oposto, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP) repetiu o apoio já manifestado pelo seu partido a Cunha pela decisão. “O Solidariedade foi um dos principais fiadores da sua candidatura à presidência da Câmara e afirma que nestes cinco meses ele (Cunha) comandou a casa de maneira absolutamente democrática e transparente. Não será uma denúncia sem qualquer tipo de prova que irá abalar a nossa confiança em seu trabalho. Nada mais correto do que se afastar de um governo trapalhão, incompetente e que apaga fogo com gasolina”, destacou.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que desde o início da manhã tenta atuar como bombeiro de mais essa crise, falou outra vez com os jornalistas depois das declarações de Cunha. Guimarães negou que o governo federal tenha ingerência sobre as instituições do país, como é o caso da Polícia Federal, que conduz a Operação Lava Jato – que tem Cunha como um dos envolvidos.

O líder governista chamou de relevante o papel dos peemedebistas para sustentação do projeto em curso no país e afirmou que um exemplo disso é o bom trabalho realizado pelo vice-presidente, Michel Temer, nas articulações com os parlamentares para a aprovação das medidas de ajuste fiscal no Congresso.

Cardozo, Edinho e Mercadante

Por parte do Executivo, já se sabe que as primeiras discussões sobre o rompimento de Eduardo Cunha foram tidas entre os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, da Comunicação Social, Edinho Silva, e da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Os três conversaram sobre uma melhor estratégia a ser adotada antes de levar à presidenta Dilma Rousseff – que estava no Itamaraty, participando de reunião da cúpula do Mercosul – a notícia da formalização anunciada pelo deputado.

Teria sido Cardozo, conforme informações de bastidores, quem traçou os termos da nota oficial, divulgada pouco tempo depois, reforçando a importância da coalizão dos partidos da base aliada para garantir a governabilidade do país.

Outro ponto que chamou a atenção de vários parlamentares e ainda está repercutindo no Senado foi a postura do presidente daquela Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), diante de todo o episódio. Calheiros criticou o ajuste fiscal e afirmou que este caminha “celeramente para ser um desajuste social com a explosiva combinação de recessão, inflação alta, desemprego e juros pornográficos”.

O senador cancelou entrevista que faria para anunciar o balanço das atividades do Senado no primeiro semestre. Embora sem falar sobre o rompimento de Cunha propriamente, expressou sua insatisfação com o governo: “Até aqui só o trabalhador pagou a conta e não há ainda horizonte após o ajuste”. Segundo ele – que também está na lista de políticos que estão sendo investigados pela Lava Jato –, existe uma crise recorrente “e é desnecessário reiterar que não há mais espaço para soluções de força e fora da lei”.

Leia também

Últimas notícias