Paulo Vannuchi

Lava Jato é uma operação de espetáculo para atacar o sistema político brasileiro

Analista político critica tendência golpista da mídia ao noticiar informações da operação e a ocultação do nome de Aécio Neves quando ele surge na investigação

Tânia Rêgo/Agência Brasil

Investigação da Polícia Federal: para Vannuchi, sentido golpista articulado por Moro está muito declarado

São Paulo – A nova fase da Operação Lava Jato, deflagrada ontem (15), investiga os senadores Fernando Collor e Renan Calheiros, mas a imagem dos carros esportivos apreendidos na casa de Collor virou a imagem emblemática do dia na operação, segundo o noticiário da grande mídia.

Em comentário hoje (15) à Rádio Brasil Atual, o analista político Paulo Vannuchi afirmou que se trata de uma atuação voltada ao espetáculo. “É uma operação que foi calculada pelo juiz Sérgio Moro e suas articulações na própria mídia, com a Globo, com a Veja, com os grandes jornais das famílias que controlam a comunicação no Brasil, no sentido de que é preciso fazer um ataque ao sistema político brasileiro, sempre na linha de que o Estado é corrupto, e que políticos são corruptos. Tanto é que os delatores premiados são todos do setor da empresa privada, eles são todos grandes capitalistas, milionários ou bilionários, e quase sempre são tratados como heróis por estarem delatando”, afirmou.

Na opinião de Vannuchi, por trás do espetáculo há um problema, grave, que é lançar suspeita e descrédito sobre a vida política como um todo e sobre o Estado. “E aí é a receita neoliberal, privatizadora, quanto menos Estado melhor. O tratamento que a mídia dá é escandalosamente enviesado a ponto de se você abrir a página do UOL agora (pela manhã), você vai ver que o portal estava jogando todo o noticiário de ontem no sentido de que agora vai haver uma guerra entre Eduardo Cunha e Dilma Rousseff. Não que não houvesse essa guerra, que já está declarada, mas é todo um esforço e entendimento, seja pelo Michel Temer ou o próprio Lula, no sentido de que ele é presidente da Câmara, ela é presidenta da República e tem de criar alguma forma de entendimento.”

Para Vannuchi, o que aconteceu ontem foi uma operação espetacular, que rendeu sete minutos no Jornal Nacional, que não usou nem sequer dois segundos para lembrar que Fernando Collor só existe na vida política brasileira por causa da própria Globo, “pois foi o velho Roberto Marinho que inventou a candidatura Collor, o quanto pode, assim como defendeu a ditadura militar”. O comentarista acredita que os jornais exercem “esse malefício para o próprio jornalismo brasileiro”.

“Por outro lado, é evidente que quando você invade a Casa da Dinda, do Collor de Melo, o ex-presidente derrubado pelo impeachment, e apreende três automóveis importados, entre eles, uma Ferrari que custa mais de R$ 1 milhão, você cria mesmo uma comoção popular que alimenta esse ciclo.”

Vannuchi disse que ontem, andando pela Avenida Paulista no começo da noite, viu uma passeata de 30, 50 pessoas no máximo, interrompendo o trânsito de um lado da avenida, e repetindo só ‘O PT roubou’, e também ‘Viva Sergio Moro’, ‘Viva a Operação Lava Jato’. “Nesse sentido, não há uma investigação policial, judicial centrada em combater a corrupção. Se fosse isso, não haveria por que fazer reparos a ela, e todos teríamos de aplaudir. E por que nós não aplaudimos? Porque o sentido golpista fica muito evidente.” Vannuchi diz que a mídia protege o nome do senador tucano Aécio Neves. “Toda a especulação é de que o Aécio iria entrar na lista do Janot. Quando finalmente saiu a lista, o nome dele não entrou.”

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