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Tucanos evitam falar em impeachment, mas sugerem término precoce do governo Dilma

Em sua 12ª convenção nacional, partido reconduziu Aécio Neves à presidência e elegeu nova executiva. Tema impeachment só foi abordado indiretamente e de forma cautelosa

psdb.org

Aécio, reconduzido ao cargo de presidente do partido, e Alckmin, seu adversário na disputa interna para 2018

Brasília – Com o slogan “Oposição a favor do Brasil”, o PSDB realizou hoje (5) a 12ª convenção nacional, que reelegeu o senador Aécio Neves como presidente nacional da sigla. O evento, do qual participaram perto de 2 mil pessoas em um centro de convenções de um hotel em Brasília, teve a presença de políticos de todos os estados e de vários partidos (até mesmo o PR, que integra a base de sustentação do governo). Foi marcado por críticas ao Executivo e mensagens de ligação da legenda com temas que dizem respeito aos direitos fundamentais dos brasileiros, numa forma de justificar atos defendidos pelos tucanos nos últimos meses que fugiram dos ideais da época da fundação do partido – como o apoio ao fim do fator previdenciário, à redução da maioridade penal e ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Os principais pontos dos pronunciamentos foram queixas a Dilma, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alertas de que o atual governo pode acabar antes do previsto, referências à corrupção e à crise política instalada no país, além de reclamações sobre a reforma política aprovada pela Câmara, que institucionalizou o financiamento privado de campanhas. Dentre as bandeiras defendidas, foram lembradas várias vezes ações históricas do PSDB, como a estabilidade econômica (permitida pelo Plano Real), benefícios das privatizações e a importância de mulheres, jovens e negros, bem como o “combate a todo tipo de intolerância”.

Cuidado com impeachment

O tema do impeachment da presidenta Dilma, cuja defesa pelos tucanos tem sido alvo de questionamentos por parte de juristas e cientistas políticos, não teve como ser escondido, mas foi abordado de forma discreta pelos seus dirigentes nacionais e levantou aplausos por parte dos representantes de caravanas de militantes que ocuparam o local. Ficou nítido, no entanto, certo constrangimento dos políticos sobre a divisão dentro do PSDB a respeito do assunto. Assim como dúvidas em relação à forma como deve ser tratada a questão, de modo a evitar desgastes para a legenda.

“Precisamos de uma saída para o Brasil que está aí, mas com absoluto respeito à Constituição Federal e ao devido processo legal”, afirmou o ex-presidente FHC, que já se manifestou contrário à defesa de impeachment por parte do partido. “O governo vai retroceder em 2% da sua economia este ano e pode acabar, talvez, antes do que se imagina”, disse Aécio Neves, ao mencionar as pedaladas fiscais e a iminência de julgamento das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), numa fala que provocou a plateia sobre o assunto, mas ao mesmo tempo não mencionou a palavra impeachment.

“A situação do Brasil anda ingovernável a um ponto que pode ser que a presidenta não termine o mandato. Não é este o desejo de ninguém aqui, mas pode ser que caminhemos para isso”, destacou o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), que defendeu “uma intervenção das forças democráticas do país para fazer frente à gestão de Dilma”.

Antecipação de debates

O que mais chamou a atenção, porém, foram as acusações de ingerência e incompetência por parte do governo e lembranças de que a sucessão presidencial de 2018 praticamente já começou para o principal partido da oposição. Muitos dirigentes do partido deixaram claro que o caminho para chegar lá passa pelas eleições municipais do próximo ano, caso do ex-senador e atual prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (AM). “Os prefeitos não aguentam mais o pacto federativo da forma torta como existe hoje, porque os municípios ficam à mercê do governo. Existe um mensalão por obras municipais também e só consegue receber recursos quem fica de joelhos, quem baixa a cabeça para o Executivo”, acusou.

Fernando Henrique Cardoso, por sua vez, disse que o Brasil precisa de uma saída e que é necessário “que se puna aqueles que roubaram para que o país volte a ter a cara decente que sempre teve”. “O PSDB já mostrou que sabe governar. Ouvi silenciosamente, durante alguns anos, o Lula usar a frase ‘nunca antes’. Pois agora sou eu quem digo que nunca antes se roubou tanto, o rumo foi perdido”, ressaltou o ex-presidente, ao acrescentar que “o voto no PSDB é o voto na democracia, na decência e no desenvolvimento”.

O senador José Serra (SP) abordou mais a questão da economia e acentuou que “o PT torrou recursos em consumo”, fez o que chamou de “uma aloprada política de controle de juros” e levou o país à recessão hoje observada. “Esse processo de retomada de desenvolvimento que precisamos construir passa pela retomada da indústria do petróleo. Houve megalomania e escândalos, gerados pela administração petista”, salientou.

Ao falar sobre o ajuste fiscal, Serra chamou as medidas de “ajuste desajustado” e acentuou que as medidas consistem “num ajuste mal feito e desligado do programa de crescimento para o país”. “A crise brasileira não é só econômica, é política, de valores. Temos hoje um governo fraco, incapaz de resolver essa situação. Perto de Dilma, Jango (ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar em 1964) era um gigante na administração. O governo que aí está nem sabe mais o que está acontecendo no Brasil”, frisou.

Aécio Neves, mencionado por vários presidentes de diretórios nacionais como futuro candidato à presidência em 2018, procurou dar à sua fala um caráter de união entre os vários líderes da sigla. “Neste partido jamais houve espaço para um pensamento monolítico ou a hegemonia de um líder por maior que ele tenha sido”, afirmou – numa forma de se referir a Lula e, ao mesmo tempo, pedir união entre os tucanos.

‘Unidade e maturidade’

“Temos unidade e maturidade política para conduzir o país. Tenho absoluta convicção de que não podemos pensar no futuro sem relembrar o passado, e o PSDB pode fazer isso. O PSDB passou a se organizar ainda mais nos últimos anos, é um partido reformador. A história não se reescreve nem é referência de circunstâncias. O que foi construído nos governos do partido está aí para provar”, ressaltou.

O senador também lembrou políticas levantadas pela sigla, como a valorização do salário mínimo, a universalização da educação fundamental e o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) como méritos do governo FHC e destacou que “os tucanos não fugiram dos compromissos firmados ao longo da sua história”.

Sobre os argumentos apresentados pelo Executivo de que é preciso cuidar do desenvolvimento social e da redução da desigualdade – que termina rendendo em desgaste para os programas observados pelos governos tucanos –, Aécio afirmou, de modo implícito, que a preocupação também está nos programas da sua legenda e reiterou: “Para nós, desenvolvimento econômico e social são irmãos gêmeos, estão indissociáveis”.

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