Estado de atenção

Base aliada terá atenção voltada para postura do PMDB daqui por diante

Em meio à crise gerada pelas defesas do impeachment pela oposição e as acusações de golpe pela base aliada, parlamentares consideram imprescindível avaliar, agora, a posição do partido do vice-presidente

Alex Ferreira/Câmara dos Deputados/fotos públicas

Temer pediu aos partidos que, em vez de falarem em impeachment, “procurem se unir pelo bem do país”

Brasília – Um dia após a entrevista da presidenta Dilma Rousseff sobre a crise política, de toda a repercussão das manifestações do PSDB para que o mandato de Dilma seja antecipado e das acusações de que a oposição tenta um “golpe”, por parte da base aliada, os olhos e ouvidos dos deputados e senadores ficaram voltados hoje (8) para a postura que terá o PMDB daqui para a frente. Os peemedebistas têm feito, nas últimas semanas, várias negociações com os tucanos para a votação de matérias – como no caso da PEC da redução da maioridade penal –, sem falar que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu recentemente a saída do vice, Michel Temer, da articulação política do governo.

Somem-se a isso constantes derrotas do governo na Câmara e no Senado capitaneadas pelos seus presidentes, respectivamente, os peemedebistas Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros (AL). “A situação não é fácil. Muitos apostam que dependerá do sucesso dessa articulação a sustentabilidade da base aliada a partir de agora, já que se o PMDB se afastar ainda mais do governo, ficará difícil conter a reação em cadeia das bancadas de outras legendas”, disse o líder de uma legenda da base.

Em conversas reservadas, os parlamentares dão como certo que, antes de Dilma viajar para a Rússia, ela teve uma conversa dura com o vice-presidente e lhe pediu para aproveitar os próximos dias para conversar e assumir o controle dos integrantes do partido que integra (do qual Temer é, também, o presidente).

‘Bem do país’

Ao sair, no início da tarde, de uma sessão solene no Congresso que homenageou o ex-deputado e ex-senador Paes de Andrade, falecido recentemente, Michel Temer tratou de minimizar a crise política e, de certa forma, fazer um apelo aos deputados. Segundo o vice-presidente, o Brasil vive um momento de “situação institucional extraordinária”. Ele pediu aos partidos que, em vez de falarem em impeachment, “procurem se unir pelo bem do país”.

Michel Temer disse ainda que o momento deveria ser de todos procurarem discutir e trabalhar, no Congresso, pela aprovação das matérias que permitirão dar início ao ajuste fiscal do governo, “que ajudará o Brasil a sair das dificuldades econômicas” (a última matéria referente ao ajuste está em tramitação no Senado Federal).

“Temos que pensar no Brasil, fazer uma grande unidade nacional, pensar que mais do que nunca é necessário um pensamento conjugado dos vários setores da nacionalidade, portanto, dos vários partidos políticos para que caminhemos juntos em benefício do Brasil. Não vale a pena levar adiante qualquer discussão a respeito deste assunto”, acentuou, ao falar na possibilidade de impeachment.

Uma das preocupações da base aliada também diz respeito a conversas que teriam sido observadas entre caciques do PMDB e do PSDB nos últimos dias, para discutir uma possível participação de peemedebistas à mobilização pró-impeachment.

‘Clima ruim’

O líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que engrossa o coro dos que consideram golpe qualquer tentativa de impeachment, embora sem tocar no tema diretamente, afirmou que o problema é a base do governo ter voltado a ficar fragmentada e isso tem provocado dificuldades nas votações.  “Com esse clima ruim, fica difícil prever os ânimos dos partidos”, afirmou.

Picciani defendeu a atitude de Cunha de pedir a saída de Temer da articulação do governo, na última semana. Logo depois das declarações do presidente da Câmara sobre o tema, o líder destacou que também achava que existe um processo de sabotagem ao PMDB por parte de petistas próximos à presidenta Dilma Rousseff.

Hoje, Eduardo Cunha evitou tocar no assunto. “Fiz as declarações no momento em que houve motivo e achei que deveria fazer. Não vou ficar reiterando isso várias vezes aqui”, desconversou, dando a entender que não vai mais insistir nisso.

Reuniões com parlamentares

Para integrantes de outros partidos governistas, as reuniões realizadas por Michel Temer têm sido muito boas para aproximar os parlamentares do Palácio do Planalto num período difícil, de votação de matérias impopulares como as do ajuste fiscal e, ao mesmo tempo, diante da constatação dos deputados e senadores de que continua distante a aproximação prometida pela presidenta Dilma Rousseff com o Congresso.

Pensando por esse prisma, muitos consideram importante restaurar o apoio dos peemedebistas no momento – tido como delicado. Mas há os que não esquecem do passado fisiologista da legenda e destacam que pode haver uma saída em massa de políticos do partido do governo. “Eles têm o vice-presidente, mas sempre é bom lembrar que o PMDB que está aí há décadas está bem distante do histórico PMDB dos anos 70 e até 80”, lembrou um senador que pediu para não ser identificado – dando bem o tom dos questionamentos existentes sobre a questão.

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