Reforma política

Para Júlio Delgado, Cunha quer impor reforma que a sociedade não deseja

Deputado do PSB diz que presidente da Câmara empurra votação 'que ele quer' e critica: 'Quando liderança é transformada na coação, líder vira déspota'

Lucio Bernardo Jr./Câmara dos Deputados

Para Delgado, derrotas de Cunha na terça podem ser “início de que a gente chama de freio de arrumação”

São Paulo – As derrotas do presidente da Câmara dos Deputados ontem, nas votações em que o “distritão” e o financiamento privado foram rejeitados, decorrem tanto da prepotência de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Casa, como como de um sentimento de solidariedade ao relator da reforma política na comissão especial, Marcelo Castro (PMDB-PI), alijado do processo às vésperas da votação. A opinião é do deputado Júlio Delgado (PSB-MG). “Ele (Cunha) começou pelo ponto polêmico para depois ir para o que poderia ter consenso. Deveria ter começado pelo consenso e concluir pelo dissenso”, afirma. “A forma com que ele colocou comprometeu a reforma e o responsável (pelas derrotas) é ele mesmo. Tem também uma parcela de sentimento de solidariedade ao Marcelo Castro e também pela forma com que tratou a comissão especial da reforma.”

Para o parlamentar, Eduardo Cunha está “querendo impor ao Congresso não a reforma que a sociedade deseja, mas a que ele queria”. “Um líder se impõem quando se coloca pelo respeito mesmo às posições divergentes. Quando essa liderança é transformada na coação, na chantagem e na ameaça, esse líder deixa de ser um líder para ser um déspota, que tenta impor aos seus vassalos sob medidas de coação. E isso não funcionou aqui e comprometeu a reforma política, que nós vamos tentar salvar pelo bem da sociedade, não pelo bem dele”.

O deputado do PSB contesta a declaração Eduardo Cunha ontem, após as rejeições do “distritão” e do financiamento privado. O presidente da Câmara disse que, ao se negar a decidir pela reforma, a casa está optando pelo que já existe. “Nós queríamos optar por algumas mudanças que fossem substanciais em cima do que é consenso. Em que existia consenso maior? Fim da reeleição, coincidência eleitoral, mas ele começou pelo caminho mais difícil”.

Para Delgado, as derrotas de Eduardo Cunha ontem podem representar “o início do que a gente chama de freio de arrumação, para encontrar uma nova configuração” na Câmara.

Delgado votou contra o “distritão” e a favor do financiamento privado. Neste último caso, segundo ele, “por estratégia”. “Mas hoje votarei ‘não’ se voltar a ser deliberado”, afirma.

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