Protestos

Deputados discutem abertura, na MP 668, para obra de shopping na Câmara

Parlamentares de várias siglas ameaçam entrar com medida judicial para cancelar sessão, caso seja mantido esse item no texto, tido como ‘manobra’ de Eduardo Cunha

Arquivo pessoal / Facebook

Alencar disse que entrará com ação junto ao Supremo quanto à questão da PPP do shopping

Brasília – A Câmara retomou há pouco a votação de emendas à Medida Provisória (MP) 668, que aumenta as alíquotas de duas contribuições sobre as importações: o PIS/Pasep-Importação e a Cofins-Importação, respectivamente, de 1,65% e 7,6% para 2,1% e 9,65%. A MP teve seu texto-base aprovado na noite de ontem (19), mas apesar de já ter tido cinco emendas votadas, os parlamentares discutem no momento sobre regras regimentais e acusam a mesa diretora de utilizar manobras para aprovar determinados itens que têm pouca relação com o teor da matéria, os chamados “jabutis”.

Isso porque o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou, ao abrir a sessão, que anulou um destaque apresentado pelo Psol, com o propósito de retirar do texto o item referente à parceria público-privada (PPP) para construção de um shopping center na Câmara dos Deputados. Dessa forma, o texto base da MP fica mantido com a inclusão do shopping. Vários deputados protestaram.

“Quero que cada um dos que aqui estão prestem atenção para o que está acontecendo e que merece uma explicação. Ontem vários deputados votaram a favor da MP porque o anúncio feito pela mesa foi de que estavam ressalvados os destaques e não foi bem assim”, disse o deputado Glauber Braga (PSB-RJ).

“Votei pelo texto base da MP por entender que a alteração do PIS-Cofins seria importante para a indústria nacional em relação aos importados. Mas hoje fiquei sabendo que um destaque incluído como válido não mais é válido. A partir do momento em que a mesa diz isso altera o teor do texto e quem queria votar contrariamente à PPP para construção do shopping center não mais poderá fazê-lo. Votamos tendo a certeza de que seríamos contrários a essa matéria e não concordo com isso. Sinto-me ferido enquanto parlamentar e aviso que vou recorrer à Justiça”, avisou Braga.

‘Inconstitucional’

A mesma crítica também foi feita por Alessandro Molon (PT-RJ), para quem o texto da MP, pela forma como foi votado ontem, “não tem condições de seguir para apreciação do Senado”. “É inconstitucional”, acrescentou Molon.

O líder do Psol, Chico Alencar (RJ), anunciou que o partido entrará com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à questão do shopping center pelo que ele chamou de “vício formal no processo legislativo”. “Votamos o texto base da MP ressalvando os destaques e o presidente da Casa surrupiou a apreciação da matéria. Isso foi uma atitude golpista e quem tem dignidade neste parlamento não pode se submeter a isso”, acusou.

Também o líder do PSDB, Marcus Pestana (MG), pediu para a discussão sobre o tema ser ampliada. “Onde passa boi, passa uma boiada e queremos que isso fique esclarecido”, acentuou Pestana. Ouviu do presidente que a votação aconteceu na noite de ontem e que “o regimento está sendo cumprido”.

Ampliação de gabinetes

O texto que está sendo objeto de tamanha confusão é referente ao item que autoriza a Câmara dos Deputados e o Senado a celebrarem PPPs para a realização de obras. O objetivo é permitir a construção de novos prédios para ampliação de gabinetes e a construção do famoso shopping center dentro da Câmara – uma promessa de campanha de Eduardo Cunha feita aos deputados em janeiro passado.

“Essa PPP vai viabilizar R$ 1 bilhão para se construir um shopping. Não vamos aceitar”, disse também o deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA). “Isso não guarda relação com o objeto da MP 668”, acentuou também o líder das minorias, Sílvio Costa (PSC-PE).

De acordo com Eduardo Cunha, o novo prédio “não será um shopping” e sim, um complexo de gabinetes e serviços – onde poderão ser instalados escritórios políticos e partidários, e cedidos ao parceiro privado espaços para pequenas lojas comerciais, restaurantes, lanchonetes e empresas prestadoras de serviços (como bancos e companhias aéreas).

Outro que também saiu em defesa de Cunha e da proposta de construção de novos prédios foi o 1º secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP). Segundo Mansur, as PPPs já existem e vão permitir, apenas, que a Casa amplie o espaço dos gabinetes sem gasto público.

Adiamento

Em meio à troca de acusações em torno do tema, foi anunciado pelo líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), que o Projeto de Lei (PL) 863, outro também incluso no pacote de ajuste fiscal do governo, não será mais votado esta semana e sim no dia 10 de junho. O PL reduz a desoneração da folha de pagamentos concedida a diversos setores.

Hoje pela manhã, o relator da matéria, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), aventou a possibilidade de precisar fazer alterações no seu relatório, mas a mudança da data foi vista com expectativa pela base aliada, pelo fato de vir a representar atrasos na implantação do ajuste por parte do Executivo.

O líder petista, no entanto, ao confirmar o adiamento da votação, afirmou que a avaliação feita durante reunião no início da tarde foi de que não haverá prejuízos ao ajuste o fato da matéria ficar para o próximo mês. Em meio  à confusão, deputados discutem a possibilidade da sessão ser obstruída, o que emperraria a apreciação da MP 668.

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