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Por trás do racha entre Renan e Cunha pode estar Michel Temer, diz analista

Cartada mais recente no embate iniciado dias antes foi a crítica do presidente do Senado à forma e ao conteúdo do PL da Terceirização aprovado na Câmara

PMDB/Romério Cunha/Anderson Riedel

Embates entre lideranças do Congresso expõem disputas internas no PMDB, do vice da República Michel Temer

São Paulo – As consequências do embate entre os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ainda são incertas. Mas o movimento de Renan pode ser interpretado como uma não muito sutil influência de Temer, a quem pode interessar isolar e minar a liderança de Cunha, além de refletir a atuação do vice-presidente da República como articulador político de Dilma Rousseff, tarefa que assumiu no início do mês

O ataque mais recente no embate foi de Renan, que em entrevista na quarta-feira (22) criticou a terceirização tal como aprovada na Câmara dos Deputados. “Não pode ser ampla, geral e irrestrita”, declarou. Depois disso, o senador tem ameaçado retardar a votação no Senado e faz circular a possibilidade de até mesmo engavetar o PL 4.330 até 2017, quando se encerra a gestão de Eduardo Cunha como presidente da Câmara.

Uma das interpretações do movimento de Renan é o de que, diferentemente de Eduardo Cunha, cuja base eleitoral é principalmente o capital privado, o senador alagoano tem uma base mais fragmentada e heterogênea – apesar de sua forte ligação com usineiros e outros setores empresariais –, e portanto mais sensível à terceirização da atividade-fim sem restrições, como prevê o PL 4.330 da forma que saiu da Câmara.

Na opinião da professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Renan poderia estar sensível à divisão que o PL da Terceirização pode causar a seu eleitorado. “Provavelmente fizeram pesquisas qualitativas que mostram a impopularidade da proposta. É possível também que Renan esteja fazendo algum acordo com Temer. São especulações, mas nessa disputa Renan estaria vendo a aproximação com o Executivo como trunfo”, diz a professora. “Estando junto com Temer, que se fortalece como articulador político, ele também se fortalece”, avalia.

Além disso, uma possível intenção oculta por trás da divisão entre Eduardo Cunha e Renan Calheiros seriam as ambições do próprio Temer, seja como postulante à presidência da República, seja como principal líder do PMDB. Nesse sentido, as posições recentes de Renan poderiam ser influência do vice-presidente e fruto de sua atuação na nova função de articulador do governo.

Embora negue tal intenção, Temer é um nome forte do PMDB para a sucessão de Dilma Rousseff.  Nessa hipótese, Renan seria parte da estratégia de isolar Eduardo Cunha. “Quanto mais apoio Temer tiver, mais perto do consenso, para evitar divisão em torno de outro potencial candidato à presidência, o próprio Cunha. Quanto mais isolar Eduardo Cunha, mais próximo ele fica de ser o candidato. Talvez a intenção de Temer seja atrair Renan para o lado dele”, especula Maria do Socorro.

Para Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Renan Calheiros “está querendo estabelecer no Senado a situação sob controle dele”. Renan teria captado os apelos dos trabalhadores, para estabelecer freios a Eduardo Cunha, ‘protegendo” o Congresso do açodamento de Eduardo Cunha, fruto de sua trajetória de compromissos com o setor privado e querer honrar tais compromissos a qualquer custo.

Há outras razões para o conflito entre Cunha e Renan, como a indicação, pela presidenta Dilma Rousseff, de Henrique Alves para o Ministério do Turismo, tirando do posto o afilhado político de Renan, Vinícius Lages. Mas, para Queiroz, a questão do ministério não chega a configurar um rompimento. “Criou um atrito, mas não leva a rompimento. Por enquanto está no plano na disputa.”

Temer é aliado do novo ministro do Turismo,  Henrique Alves (PMDB-RN), que por sua vez teve a nomeação aprovada por Eduardo Cunha, com o qual tem ótima relação. Embora o presidente da Câmara tenha se manifestado favoravelmente à indicação, sua atuação na Câmar continua a ser hostil ao governo na Câmara depois dela.

No Planalto

Se Temer é o vice-presidente da República, no tabuleiro estariam claramente colocados, também, os interesses de Dilma Rousseff. Para a professora da Ufscar, a divisão das duas principais lideranças peemedebistas no Congresso fortaleceria o Executivo, num momento conjuntural difícil.

Se houver qualquer mudança no Senado, o PL da Terceirização volta à Câmara, que tem a palavra final. Sendo assim, vai sobrar para Dilma sancionar ou vetar o PL total ou parcialmente. Ao contrário de avaliações segundo as quais isso seria um ônus, a professora acredita que pode ser uma oportunidade para o Palácio do Planalto recuperar parte da popularidade perdida no início deste segundo mandato.

“Penso que, para Dilma, é um trunfo. Porque seria uma forma de ela se reaproximar do eleitorado mais à esquerda, dos trabalhadores. Ela tomaria uma decisão que vai desagradar setores do empresariado que estão fazendo lobby por trás de Eduardo Cunha, mas, de outro lado, ela ganha ao se reaproximar dos trabalhadores.”

Segundo Maria do Socorro, essa “especulação” poderia equilibrar o desgaste que Dilma terá com o ajuste fiscal, “do qual o PSDB se apropria para criticar o governo”. “Entendo que Dilma está sendo realista ao assumir o ajuste, mas sabe que isso afetará os setores de médios para baixo, os trabalhadores. Também por isso, penso que ela não sanciona o PL 4.330 como está”, diz.

Porém, se sancionar no atual formato, ela não terá como justificar-se  ao seu eleitorado. ‘Se ela soma a terceirização ao ajuste fiscal, aí acho que é dar adeus a qualquer projeto petista de continuidade.”

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