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‘Maioria da Câmara não está interessada em combater a corrupção’, diz Vannuchi

Analista político da RBA questiona se haverá ambiente político para tramitação de pacote proposto pela presidenta, e cobra mobilização social contra a corrupção

Roberto Stuckert Filho/PR

Para analista, combate à corrupção deve ir além da criação de leis, e depende de toda a sociedade, inclusive da mídia

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi, em comentário na manhã de hoje (19) na Rádio Brasil Atual, lembrou que a maior parte das medidas anticorrupção apresentadas pela presidenta Dilma Rousseff ontem, como a criminalização do caixa 2 eleitoral e do enriquecimento ilícito, o confisco antecipado de bens de envolvidos em investigações por corrupção, dentre outras, dependerá de aprovação da Câmara. Porém, segundo ele, dada a elevada temperatura do debate político e de “interesses difusos”, pode não haver ambiente favorável para a sua aprovação. “Os deputados da Câmara, em sua maioria, talvez não estejam interessados em enfrentar a corrupção”, observou Vannuchi.

Vannuchi também comentou o fato de, no mesmo dia em que a presidenta apresentava as medidas, o candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) liderava um bloco de políticos em visita ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, para insistir no pedido de investigação da presidenta no caso de corrupção na Petrobras, quando o ministro já havia negado, no dia anterior, tal possibilidade, dada a inexistência de provas.

Para o analista, a ação faz parte da estratégia anunciada dias atrás pelo senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) de ‘fazer Dilma sangrar’. “Se Dilma sangra, sangra a vontade da maioria dos eleitores. Sangra, portanto, o país. Isso não é bom para ninguém.” Vannuchi acrescentou que até o PSDB, se e quando voltar a governar, pode encontrar um país “ingovernável”.

Ainda no mesmo dia, acontecia outro “espetáculo” na cena política brasileira, quando o ainda ministro da Educação Cid Gomes declarou na Câmara que a Casa tem de 300 a 400 “achacadores”, que se utilizariam da estrutura política atual para conseguir vantagens pessoais e partidárias. Em vez de se desculpar, Cid “foi para cima e disse poucas e boas”.

“É provável que Cid Gomes não tenha dito nenhuma mentira”, diz Vannuchi, mas, para ele, “no momento, isso não ajuda”, dado o clima de tensão entre o Executivo e o Legislativo.

Também ontem, apareceram novos nomes de brasileiros envolvidos nas denúncias de contas secretas da filial do HSBC no paraíso fiscal na Suíça. Constam da lista Armínio Fraga, presidente do Banco Central do governo Fernando Henrique, e o empresário Benjamin Steinbruch, que apareceu com destaque no processo de privatização, também nos anos FHC. A menção também mereceu comentário de Paulo Vannuchi.

Ele disse que o combate à corrupção não depende apenas da atitude do governo ou de iniciativas legislativas, mas também do envolvimento de toda a sociedade, em especial, da mídia, que segundo ele, tem “efeito danoso”, ao dar tratamento seletivo à questão.

Ouça o comentário completo da Rádio Brasil Atual:

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