Audiência da CPI

Jornalista diz que caso HSBC ajudará a solucionar antigos escândalos de corrupção

Segundo Chico Otávio, lista de contas secretas tem nomes de envolvidos em escândalos famosos das últimas décadas. Trabalhos poderão resultar na conclusão destes processos e repatriamento dos recursos

Edilson Rodrigues/Agência Senado

Fernando Rodrigues (d) disse que apenas quatro apresentaram documentos comprovando que as contas são declaradas

Brasília – Durante a primeira audiência pública realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga o caso das contas secretas de brasileiros existentes no banco HSBC da Suíça, o jornalista Chico Otávio, de O Globo, um dos primeiros a se debruçar sobre as investigações e na divulgação de alguns dados – depois do jornalista Fernando Rodrigues, do portal UOL – afirmou que uma das principais constatações das apurações feitas por ele e sua equipe tem sido o nome de pessoas envolvidas em escândalos de corrupção observados anos atrás no país.

Chico Otávio disse que a lista de correntistas do HSBC inclui, por exemplo, o nome de três dos quatro réus no escândalo de desvio de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) comandado pela técnica Jorgina de Freitas, na década de 1990, que foi condenada em 1992 e cumpriu cinco anos de prisão. O esquema desviou um total de R$ 550 milhões dos cofres públicos, valor equivalente, na época, a mais de 50% de toda a arrecadação do INSS.

Outro caso citado pelo jornalista, que evitou dar mais detalhes desses nomes, refere-se a pessoas envolvidas num caso referente à Justiça eleitoral do Rio de Janeiro e os denunciados possuem, todos, contas secretas também no HSBC fora do país.

Para o jornalista, constatações como estas mostram a evidência de que, independentemente do repatriamento de recursos para o Brasil e da apuração de ilícitos de sonegação fiscal e evasão de receitas por brasileiros, as investigações ajudarão a polícia e a Justiça a concluir casos que ainda não conseguiram ser totalmente desvendados a partir destas contas ou descobrir rescaldos que se julgava totalmente esclarecidos. Em sua maior parte, ligados a escândalos de corrupção.

Critérios acertados

Chico Otávio, porém, ressaltou que os jornalistas que estão trabalhando nesta investigação “estão longe de chegar ao total das 8.667 contas”. Explicou que a apuração consiste numa operação detalhada e que requer uma série de compromissos firmados por ele com a agência internacional de jornalismo investigativo, entidade que procurou e com a qual assinou um compromisso formal de só divulgar as informações obtidas mediante os critérios acertados.

Otávio contou que o jornal O Globo garantiu sala especial e uma equipe de três repórteres que saíram da reportagem diária para ficar trabalhando com ele, exclusivamente, no caso do HSBC, com o intuito de “passar um pente-fino” na lista e entrar em contato com os nomes que estão mencionados entre os correntistas.

Acrescentou, também, que como assumiu compromissos de não divulgar tais nomes sem uma investigação sólida, não pôde pedir ajuda a profissionais que poderiam colaborar nesse trabalho, como procuradores ou auditores, como desejava. O que torna as investigações ainda mais difíceis.

Somente quatro

Já o jornalista Fernando Rodrigues explicou que dos nomes que compõem a lista de brasileiros clientes do HSBC na Suíça, apenas quatro apresentaram documentos comprovando que as contas são oficialmente declaradas: o ex-presidente do banco central Armínio Fraga, a família do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB), o escritor Paulo Coelho e a família Chimentti, dona da incorporadora JIF.

A reunião da CPI foi iniciada por volta das 8h30 e realizada em duas etapas. Antes da tomada dos depoimentos dos jornalistas, os senadores que integram a comissão também aprovaram um plano de trabalho para nortear as atividades do grupo, durante os próximos 180 dias.

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