Grupo do Ceará

Pros atua para que Cid Gomes seja substituído por técnica ligada a ele

Políticos aliados dos Gomes se reúnem na próxima semana para decidir se continuam como estão ou se vão trabalhar pela formação de um novo bloco parlamentar na Câmara

governo do estado do ceará

Cid Gomes, em 2013, então governador do Ceará, e sua secretária de Educação, Izolda Cela (d), com aluna

Brasília – Parlamentares e políticos ligados a Cid Gomes pretendem se reunir na próxima semana com o ex-ministro da Educação, em Fortaleza, para discutir sobre como ficará a atuação do grupo no Congresso Nacional, daqui por diante, e sobre as articulações para que sua substituta na pasta seja a educadora Izolda Cela, ex-secretária cearense de Educação e atual vice-governadora do Ceará.Durante conversa com deputados federais, o ex-ministro adiantou que a decisão compete à presidenta Dilma Rousseff e não lhe cabe mais, diante da situação, fazer qualquer pedido nesse sentido. Porém, Gomes, que foi governador do Ceará de 2006 a 2014, já teria falado no nome de Izolda quando deixou o cargo.

A vice-governadora também tem sido lembrada, nos últimos dias, pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Izolda Cela é considerada uma técnica dinâmica e bem preparada. Foi quem implementou no Ceará o chamado Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), que norteou a criação do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), pelo governo federal. Tido como uma experiência bem-sucedida, o programa consiste num trabalho de cooperação e gestão educacional entre governo, municípios e entidades diversas para fazer com que os alunos sejam alfabetizados até o segundo ano do ensino fundamental.

A entrada de uma técnica do mesmo grupo político na pasta que foi de Cid Gomes seria considerada um aceno positivo para os cearenses do PT e Pros, que apoiam o governo Dilma Rousseff. Os deputados do estado na Câmara, entretanto, avaliam se não poderia haver resistência ao nome de Izolda por parte de outros partidos da base aliada e também pelo Pros, legenda do grupo. Isso porque, até hoje, a sigla considera a indicação do ex-governador para o ministério uma iniciativa pessoal da presidenta Dilma e não um agrado ao partido.

“Izolda é uma técnica, como deseja a presidenta, entende da área, tem experiências bem-sucedidas e perfeitas condições de contribuir para o governo na Educação. A escolha é da presidenta Dilma, mas podemos garantir que se trata de um excelente nome”, afirmou Guimarães ao ser questionado sobre o assunto.

Enquanto não há uma definição, as bolsas de apostas aumentam cada vez mais sobre quem será o sucessor do ex-ministro e se a entrada do novo titular da pasta representará um remanejamento dentro do primeiro escalão do governo. Já se falou na volta do atual ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e há pouco tempo no nome do ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini. Caso isso ocorra, as substituições poderão ajudar a beneficiar políticos que ficaram insatisfeitos com o ministério do novo governo, contribuindo com uma pequena reforma – apesar da declaração de Dilma, ontem (19), de que o que acontecerá no Ministério da Educação “será uma troca pontual”.

Novo bloco ou partido

Quanto ao segundo tema que está previsto para ser discutido na próxima semana pelo grupo do Pros no Ceará, as articulações dentro do Congresso Nacional, a expectativa se dá em torno da ideia levantada pelo ex-ministro, no início do ano, de criar um bloco parlamentar para se contrapor ao bloco liderado pelo PMDB. A iniciativa terminou sendo deixada de lado a pedido do Palácio do Planalto, mas depois do confronto público com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliados dele não acham que ficará no escanteio.

Outra possibilidade é dos irmãos Ciro e Cid Gomes partirem para a criação de um novo partido, como também pensaram em fazer até o início de fevereiro. De acordo com parlamentares ligados ao ex-ministro, desde a última quarta-feira até agora ele tem preferido ficar recluso ao lado da família. Gomes tem concordado com aliados na opinião de que viveu, durante a audiência da Câmara dos Deputados, na quarta-feira (18), um dos momentos mais difíceis da sua vida pública, por ter enfrentado ambiente hostil à sua pessoa. E tem dito, a todos que o procuram, que considera ter saído do episódio de cabeça erguida.

“Ele está tranquilo que fez o que tinha de fazer, mas não consegue esconder o desapontamento por suas palavras terem vazado e pela repercussão do caso de um modo geral, pois gostaria de ter ficado no ministério até o final do governo”, contou um senador do PT com quem conversou.

Ontem, o deputado Cláudio Cajado (DEM-BA), procurador-geral da Câmara dos Deputados, anunciou que deu entrada em nome da Casa de uma ação na Justiça por danos morais contra o ex-ministro e uma representação contra ele na Procuradoria-Geral da República (PGR). Na peça jurídica enviada à PGR, é destacado o pedido para que seja avaliada a prática de crime, por Cid Gomes, de “responsabilidade”, por ter deixado a sessão antes do término; “condescendência criminosa”, por não apontar quem são os deputados que chamou de achacadores;  e improbidade, porque “ele não teria cumprido os princípios de lealdade e honestidade”.

O líder do Pros na Câmara, Domingos Neto (CE), e o vice-líder da legenda na Casa, Valtenir Pereira (MT), defenderam o ex-ministro e afirmaram que ele não tem nada a temer em relação às medidas. Domingos Neto disse que, a seu ver, Gomes expressou suas desculpas quando reiterou que não tinha falado como ministro. Segundo o deputado, o clima hostil feito a ele tinha como pano de fundo “outros interesses políticos”. Já Valtenir Pereira ressaltou que não acredita que o PMDB deixaria a base do governo caso Gomes não deixasse o ministério, como ameaçaram seus caciques.

Relações ‘conturbadas’

Há um bom tempo o relacionamento do ex-governador e ex-ministro com o PMDB é calcado em desgastes. Em outubro do ano passado, Cid Gomes acusou o partido de ser “um mal que precisa ser combatido”. “O PMDB é um mal terrível, que tem que ser combatido organizadamente, racionalmente e inteligentemente. É um ajuntamento de seções regionais que não têm nenhuma identidade, mas um interesse em comum: chantagear governos”, destacou.

Na mesma época, seu irmão, Ciro Gomes, então secretário estadual do Ceará, referiu-se a Cunha, durante uma entrevista, como “picareta mor”. “Esse cara deve ser assim, entre mil picaretas, o picareta mor. Eu conheço esse cara desde o governo Collor. Ele operava no escândalo do PC Farias na Telerj. Depois tava enrolado no fundo de pensão da Cedae do governo Garotinho e aí vem vindo. Depois tava enrolado no governo Lula com Furnas e agora enrolado até o gogó em tudo quanto é canto. E ele é o que banca os seus colegas, todo mundo sabe disso. Antigamente, o picareta achava a sombra, procurava ali o bastidor, ia fazendo as picaretagens dele escondido. Agora não! O picareta quer ser o presidente da Câmara”, destacou.

A ideia dos irmãos Gomes até bem pouco tempo era criar uma bancada formada por 50 a 60 deputados de partidos que apoiam o governo com o objetivo de se contrapor aos peemedebistas no Congresso Nacional. É esse o ponto que os aliados dos Gomes mais querem discutir na próxima semana. “Caso decidam ir adiante com o projeto, por conta própria e de forma desatrelada do Palácio do Planalto, o país corre o risco de ver mais uma disputa de blocos dentro do Congresso, mas não se sabe se será bom, nem se o governo ganhará exatamente com isso”, afirmou o cientista político e analista legislativo Alexandre Ramalho.