aberto ao diálogo

Governo diz que considera legítima indignação dos brasileiros com a corrupção

Recado foi passado pelos ministros da Justiça e de Minas e Energia, após reunião com a presidenta para avaliar impactos das manifestações. Segundo eles, Dilma falará até o final da semana

antonio cruz/abr

Mensagem foi transmitida pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de Minas e Energia, Eduardo Braga

Brasília – Depois de se reunir por aproximadamente três horas hoje (16) com o vice-presidente Michel Temer, nove ministros e seu assessor especial para avaliar os reflexos das manifestações realizadas ontem em todo o país, a presidenta Dilma Rousseff repassou à população, por meio de dois dos seus ministros, três recados específicos. Em primeiro lugar, o de que o governo está atento às manifestações e aberto ao diálogo. Em segundo, que a indignação dos brasileiros com a corrupção é legítima, e o combate a esta prática faz parte da agenda do Executivo. Por fim, de que existe um entendimento, entre a equipe governamental, de que desafios grandes ainda precisam ser superados e todos estão cientes disso.

A mensagem foi transmitida durante entrevista coletiva realizada no Palácio do Planalto, pelos ministros da Justiça e de Minas e Energia, respectivamente José Eduardo Cardozo e Eduardo Braga. Ele afirmaram falar em nome da presidenta, neste primeiro momento. Cardozo afirmou que Dilma deverá se pronunciar pessoalmente sobre as manifestações até o final da semana. Além disso, deverá ser anunciado, nos próximos dias, um pacote de medidas para combate à corrupção e à impunidade – programa este prometido desde janeiro passado.

De acordo com o ministro da Justiça, o governo adota como postura central em relação às manifestações, o “diálogo com todas as forças sociais”. “Pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo. O governo está ouvindo as manifestações”, destacou.

Combate à corrupção

A resposta a ser dada, segundo Cardozo, serão propostas de políticas públicas contra a corrupção, a serem implementadas após discussão com a sociedade e lideranças políticas. O ministro destacou ainda as adequações que estão sendo feitas pelo governo, voltadas para o ajuste fiscal e mudanças nos programas sociais. Ele também acentuou que o Executivo tem tido humildade ao reconhecer que existem desafios grandes a serem observados, motivo pelo qual tem feito esses ajustes.

Um dos desafios, acrescentou, está na área de infraestrutura. “É preciso humildade neste momento e estamos tendo essa humildade. Sabemos que precisamos de mais estradas, de mais ferrovias, mais portos e aeroportos mais eficientes. E tudo isso tem sido esforço do governo.”

Quando questionados sobre o estado emocional da presidenta diante das manifestações, muitas vezes com críticas pessoais contra ela, os dois ministros chamaram a atenção para o perfil democrata de Dilma Rousseff. Eduardo Braga lembrou sua história e a prisão na luta contra a ditadura e para que a democracia fosse retomada no país.

“A presidenta sofreu uma prisão lutando pela democracia. Por isso, ela, mais do que qualquer outra pessoa, tem valores democratas muito arraigados. Encara as manifestações com este sentimento”, disse o ministro de Minas e Energia.

Já Cardoso ressaltou que “um democrata não se constrange com manifestações”. “O Palácio do Planalto está aberto a dialogar com todas as forças sociais, pois a presidenta não governa apenas para a parte que a apoia, mas para todos os brasileiros.”

‘Fenômeno antigo’

O ministro da Justiça acentuou, ainda, que embora o fenômeno da corrupção seja antigo no país, hoje em dia existem garantias para sua investigação. E foram estas garantias, conquistadas junto com a luta pela democratização, que permitiram a descoberta dos escândalos que estão sendo apurados.

A reunião que avaliou as manifestações, comandada por Dilma, contou, além de Michel Temer, Cardozo e Braga, com a presença dos integrantes do conselho político do governo, do qual fazem parte o assessor especial Gilles Azevedo, o secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto, e os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante; da Defesa, Jaques Wagner; das Cidades, Gilberto Kassab; da Aviação Civil, Eliseu Padilha; da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo; e de Relações Institucionais, Pepe Vargas.