Na primeira reunião da CPI depois da lista, deputados ficam ‘em cima do muro’
Líderes pediram saída de deputados citados, mas eles foram retirados da comissão pelo seu próprio partido, o PP. Presidente da CPI dá a entender que nenhum parlamentar envolvido será convocado
Publicado 10/03/2015 - 18h19
Brasília – Os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras começaram a discutir, pela primeira vez, como ficará a situação dos 22 deputados e 12 senadores que são alvo de investigações pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Aproveitando a iniciativa do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos investigados – que solicitou sua ida para prestar esclarecimentos à CPI na quinta-feira (12) –, o presidente da comissão, deputado Hugo Mota (PMDB-PB), afirmou que os 34 parlamentares “podem procurar a CPI, que terão uma audiência agendada”. Mas deu a entender que a comissão não vai procurá-los caso eles mesmos não se manifestem.
A declaração irritou parlamentares – que questionaram a postura de Mota e ameaçaram entrar na Justiça para pedir a retirada, do colegiado da CPI, dos deputados investigados pelo STF. Sandes Júnior (PP-GO) e Lázaro Botelho (PP-TO), constantes da lista, integravam a comissão, mas foram substituídos no final do dia por decisão da liderança do PP. Foram substituídos por Beto Rosado (RN) e Covatti Filho (RS). O pai deste último, Vilson Covatti (RS), tem o nome na lista.
Mota ressaltou que “a CPI está aberta para receber os deputados”. Ele, entretanto, sem se prolongar no assunto, afirmou várias vezes que não considerava que caberia à comissão retirar deputados indicados para fazer parte da sua composição porque, a seu ver, isso deveria competir aos partidos políticos, que fizeram as indicações.
‘Sem cabimento’
O pedido de afastamento dos dois deputados foi feito pelas lideranças do Psol, DEM, PSDB e PSB. “Nós temos que cobrar as lideranças dos partidos que afastem os listados nos inquéritos. Não tem o menor cabimento eles continuarem participando desta CPI”, ressaltou o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). A reação do PP terminou sendo rápida, como forma de evitar mais um desgaste para a sigla, uma vez que Delgado e outros líderes, como Ivan Valente (SP), do Psol, acenaram com a possibilidade de recorrer à corregedoria da Casa ou, até mesmo, interpor uma ação junto ao STF sobre o caso.
Os parlamentares também questionaram a participação do deputado Cacá Leão (PP-BA) na CPI. Ele não foi citado na lista, mas é filho do atual vice-governador da Bahia, ex-deputado João Leão (PP-BA), que é investigado. Com a entrada de Covatti Filho na composição da CPI, agora são dois os parlamentares considerados sob suspeita para votar e fazer parte da apreciação sobre os trabalhos da comissão.
Como a reunião desta terça-feira teve como objetivo principal ouvir o depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, a discussão do tema não chegou a uma conclusão. Está definido, porém, que o depoimento de Eduardo Cunha será feito na sessão de quinta-feira, conforme pediu o próprio presidente da Casa.
Na audiência, aberta ao público, o ex-gerente confirmou o que já havia dito: que o esquema de propina feito pelas empresas que possuíam contrato com a estatal remonta a 1997. Mas Barusco se recusou falar sobre qualquer negociação que tenha sido anterior a 2004.
Delação premiada
Embora o ex-gerente tenha sido alvo de várias perguntas dos deputados e senadores, muitos integrantes da CPI destacaram o fato de as informações terem sido obtidas por meio de delação premiada, sendo necessária a existência de provas para comprovação das acusações. “Não é um réu confesso, em delação premiada, que vira juiz. Então, ouvi-lo não significa que quem ele citar está condenado. Significa que quem ele cita tem direito a defesa. Temos de encarar isso com parcimônia, sem ‘espetacularizar’”, ponderou o deputado Afonso Florence (PT-BA).