Lava Jato

Na primeira reunião da CPI depois da lista, deputados ficam ‘em cima do muro’

Líderes pediram saída de deputados citados, mas eles foram retirados da comissão pelo seu próprio partido, o PP. Presidente da CPI dá a entender que nenhum parlamentar envolvido será convocado

Luis Macedo/Câmara dos Deputados

Mota afirmou que a CPI não vai procurar deputados caso eles mesmos não se manifestem

Brasília – Os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras começaram a discutir, pela primeira vez, como ficará a situação dos 22 deputados e 12 senadores que são alvo de investigações pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Aproveitando a iniciativa do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos investigados – que solicitou sua ida para prestar esclarecimentos à CPI na quinta-feira (12) –, o presidente da comissão, deputado Hugo Mota (PMDB-PB), afirmou que os 34 parlamentares “podem procurar a CPI, que terão uma audiência agendada”. Mas deu a entender que a comissão não vai procurá-los caso eles mesmos não se manifestem.

A declaração irritou parlamentares – que questionaram a postura de Mota e ameaçaram entrar na Justiça para pedir a retirada, do colegiado da CPI, dos deputados investigados pelo STF. Sandes Júnior (PP-GO) e Lázaro Botelho (PP-TO), constantes da lista, integravam a comissão, mas foram substituídos no final do dia por decisão da liderança do PP. Foram substituídos por Beto Rosado (RN) e Covatti Filho (RS). O pai deste último, Vilson Covatti (RS), tem o nome na lista.

Mota ressaltou que “a CPI está aberta para receber os deputados”. Ele, entretanto, sem se prolongar no assunto, afirmou várias vezes que não considerava que caberia à comissão retirar deputados indicados para fazer parte da sua composição porque, a seu ver, isso deveria competir aos partidos políticos, que fizeram as indicações.

‘Sem cabimento’

O pedido de afastamento dos dois deputados foi feito pelas lideranças do Psol, DEM, PSDB e PSB. “Nós temos que cobrar as lideranças dos partidos que afastem os listados nos inquéritos. Não tem o menor cabimento eles continuarem participando desta CPI”, ressaltou o líder do PSB na Câmara, Júlio Delgado (MG). A reação do PP terminou sendo rápida, como forma de evitar mais um desgaste para a sigla, uma vez que Delgado e outros líderes, como Ivan Valente (SP), do Psol, acenaram com a possibilidade de recorrer à corregedoria da Casa ou, até mesmo, interpor uma ação junto ao STF sobre o caso.

Os parlamentares também questionaram a participação do deputado Cacá Leão (PP-BA) na CPI. Ele não foi citado na lista, mas é filho do atual vice-governador da Bahia, ex-deputado João Leão (PP-BA), que é investigado. Com a entrada de Covatti Filho na composição da CPI, agora são dois os parlamentares considerados sob suspeita para votar e fazer parte da apreciação sobre os trabalhos da comissão.

Como a reunião desta terça-feira teve como objetivo principal ouvir o depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, a discussão do tema não chegou a uma conclusão. Está definido, porém, que o depoimento de Eduardo Cunha será feito na sessão de quinta-feira, conforme pediu o próprio presidente da Casa.

Na audiência, aberta ao público, o ex-gerente confirmou o que já havia dito: que o esquema de propina feito pelas empresas que possuíam contrato com a estatal remonta a 1997. Mas Barusco se recusou falar sobre qualquer negociação que tenha sido anterior a 2004.

Delação premiada

Embora o ex-gerente tenha sido alvo de várias perguntas dos deputados e senadores, muitos integrantes da CPI destacaram o fato de as informações terem sido obtidas por meio de delação premiada, sendo necessária a existência de provas para comprovação das acusações. “Não é um réu confesso, em delação premiada, que vira juiz. Então, ouvi-lo não significa que quem ele citar está condenado. Significa que quem ele cita tem direito a defesa. Temos de encarar isso com parcimônia, sem ‘espetacularizar’”, ponderou o deputado Afonso Florence (PT-BA).