'mal interpretado'

Dilma defende Levy e afirma que jornal utilizou frase fora de contexto

Presidenta afirma que fala do ministro da Fazenda, que pareceu crítica a ela, foi retirada do contexto pela 'Folha de S.Paulo'. Em almoço com empresários hoje, Levy disse que tem 'enorme afinidade' com Dilma

Roberto Stuckert Filho/ PR

Dilma: “O que o Levy falou está dentro de um contexto; se você pegar fora do contexto, vai entender e distorcer”

São Paulo – Ao entregar hoje (30) 1.032 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida em Capanema, cidade da região nordeste do Pará, a 150 quilômetros de Belém, a presidenta Dilma Rousseff defendeu o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmando ter convicção de que ele foi mal interpretado em comentário que fez em São Paulo, na semana passada, na escola de negócios da Universidade de Chicago, instituição em que obteve seu PhD em economia. “Eu também tenho o discernimento, tenho clareza de que ele foi mal interpretado”, afirmou a presidenta.

“Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil … Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno”, disse o ministro durante a palestra, que foi gravada e reproduzida pelo site do jornal Folha de S.Paulo.

“O que o Levy falou está dentro de um contexto; se você pegar fora do contexto, vai entender e distorcer. Ele falou que nós, e agradeço o elogio dele, nós fazemos um imenso esforço para fazer o ajuste, e em política, vocês sabem que às vezes eu não posso seguir o caminho curto, porque eu tenho de ter o apoio de todos aqueles que me cercam. Então, tem uma questão de construir o consenso, é nesse sentido que ele falou. E não tem por que criar maiores complicações por isso, ele já explicou isso exaustivamente”, disse a presidenta durante entrevista coletiva.

Após a matéria publicada no jornal paulista, a assessoria de comunicação do Ministério da Fazenda se manifestou dizendo que Levy “lamenta a interpretação dada à sua frase”. Segundo a assessoria, a fala dele expressa que “aqueles que têm a honra de se encontrarem ministros sabem que a orientação da política do governo é genuína, reconhecem que o cumprimento dos seus deveres exige ações difíceis, inclusive da Excelentíssima Senhora presidente, Dilma Rousseff, e eles têm a humildade de reconhecer que nem todas as medidas tomadas têm a efetividade esperada”.

A assessoria de comunicação ressaltou que a contestação não é uma nota oficial da Fazenda, mas uma manifestação pessoal de Levy, e destaca que o ministro proferiu a fala em uma conversa informal, na qual procurava “transmitir os principais pontos do ajuste econômico em face da evolução da economia global e da exigência de crescimento do Brasil e a importância de executá-lo rapidamente”.

Assunto repercute em almoço

Hoje, em São Paulo, o ministro Joaquim Levy disse que tem uma “enorme afinidade” com Dilma na visão de longo prazo da economia. “Não há nenhuma desafinação”, enfatizou, ao comentar as declarações da última semana.

Durante almoço promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide) para 600 empresários, Levy voltou a negar que tenha criticado Dilma. “A presidenta tem sido absolutamente explícita e genuína sobre seus objetivos”, ressaltou.

Segundo o ministro, na ocasião ele quis dizer que, mesmo com a vontade da presidenta, às vezes é difícil colocar em prática algumas medidas. “A gente nem sempre consegue tudo o que a gente deseja em um processo democrático, e isso é bom.”

O ministro acredita que as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo serão aprovadas pelo Congresso. “A gente tem tido sucesso em conversas que, em um primeiro momento, não pareciam que estavam encaminhadas”, informou ao explicar as negociações do governo com os parlamentares para aprovação das propostas.

De acordo com Joaquim Levy, o objetivo do governo é reduzir os próprios gastos ao patamar de 2013. “A gente não tem discutido quantidade, quantos bilhões vamos cortar. Mas que fique claro que, com relação à programação financeira, aquele gasto que a gente pode controlar, o objetivo é trazer para o nível de 2013. Isso exigirá grande disciplina”, esclareceu.

Para o ministro, isto representa uma redução de aproximadamente 30% dos empenhos feitos pelo Executivo. Apesar de defender a redução de gastos, Levy admitiu que não será um processo simples. “Cortar na carne é importante, mas não é fácil, porque não tem muita carne.”

Levy ressaltou a importância do planejamento dos gastos e desonerações de tributos, de modo que as contas continuem equilibradas. “Não podemos criar novas despesas que venham a exigir novos impostos. Ou sair cortando impostos, sem ter ajustado as despesas”, concluiu.

Com informações da Agência Brasil