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Desagravo ao presidente da Câmara esvazia depoimento na CPI da Petrobras

Deputados se dividiram entre os que louvaram Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e os que criticaram falta de questionamentos

Pedro Ladeira/Folhapress

Cunha disse aos parlamentares que se for preciso coloca seus sigilos à disposição

Brasília – Elogios, defesas, felicitações e pedidos para que seja dado “tratamento isonômico” aos nomes citados na lista da Operação Lava Jato foram os principais pontos abordados no depoimento do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concedido nesta quinta-feira (12) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras. Com o apoio de deputados de vários partidos, Cunha negou todas as acusações contra ele e disse que houve “utilização política” por parte do procurador-geral da Republica, Rodrigo Janot, para colocá-lo na lista.

O presidente da Câmara colocou seu sigilo à disposição dos parlamentares, mas tanto o seu depoimento como as declarações de apoio a ele irritaram deputados presentes à CPI, que consideraram a sessão de hoje muito mais um ato de desagravo do que propriamente uma prestação de esclarecimentos à comissão.

“A sucessão de louvores começou com o PSDB e desfilou por todos os partidos, à nossa exceção. Antes mesmo do início da fala de Eduardo Cunha, alertei ali que não poderia acontecer uma sessão laudatória, de mera manifestação de apoio ao presidente sob investigação, mas não teve jeito. Não é essa a função de uma Comissão Parlamentar de Inquérito”, reclamou o líder do Psol, deputado Ivan Valente (SP).

‘Tratamento diferenciado’

A sessão foi dividida em dois temas específicos. De um lado, as críticas feitas por Cunha, por aliados peemedebistas e por deputados de outros partidos de que houve tratamento diferenciado em relação aos critérios estabelecidos para a inclusão dos nomes na lista. Posição que foi defendida também pelo líder do PSB na Casa, Júlio Delgado (MG).

“A crise política atinge o Parlamento, e não só Poder Executivo. O Legislativo tem co-responsabilidade com isso e não vamos fechar os olhos, porque a sociedade está acompanhando. Mas é preciso separar o joio do trigo”, acentuou Delgado.

Outro item bastante discutido foi se os demais deputados citados na lista da PGR deverão tomar ou não a atitude de depor na CPI, além da forma de tratamento a ser dado aos integrantes da comissão que receberam doações de campanha de empresas que estão sendo processadas por participação na Lava Jato.

A posição crítica por parte de Cunha e Delgado ao procurador-geral foi rebatida pelos deputados Sibá Machado (PT-AC) e Maria do Rosário Nunes (PT-RS), que disseram não acreditar em politização por parte da PGR.

Mas quanto à situação dos demais deputados, não se chegou a um consenso sobre o que fazer. O presidente da comissão, deputado Hugo Mota (PMDB-PB) repetiu que, a princípio, os políticos citados na lista vão ter as portas abertas para dar esclarecimentos, se assim desejarem, mas não serão feitas convocações a eles.

Eduardo Cunha também ressaltou, ao ser mencionado sobre isso, que não gostaria de constranger ninguém com sua ida até a CPI, mas sentiu-se na obrigação de comparecer por ser o presidente da Câmara e ter tido amplo apoio dos colegas durante a eleição que o consolidou no cargo. Vários integrantes da comissão destacaram, ainda, a importância de se entender que as investigações ainda indicam que ninguém tem a culpa comprovada e que são necessárias apurações e provas mais contundentes para que venha a ser aberto um processo ao longo do período.

‘Execração pública’

“Espero que ninguém seja submetido a um julgamento de exceção. Temos que arrolar provas e essas provas têm que estar nas petições de abertura de inquérito. Não vamos permitir a execração pública”, ressaltou o deputado Afonso Florence (PT-BA).

Para a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ), filha de um inimigo histórico de Eduardo Cunha, o ex-governador fluminense Anthony Garotinho (PR), o resultado da sessão foi “vergonhoso”. “O que vi aqui foi uma reunião de felicitações quando, na verdade, cabe a esta comissão indagar, perguntar, questionar, inquirir”, ressaltou.

No início da tarde, logo após o depoimento de Cunha, começou a prestar depoimentos o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Segundo Gabrielli, era impossível para a companhia descobrir o esquema de corrupção antes da investigação policial ter sido realizada, uma vez que, além das comissões terem sido decididas em contratos muito bem feitos, desde antes das suas assinaturas, auditorias internas do Tribunal de Contas da União não chegaram a detectar anormalidades.

Além disso, explicou o ex-presidente, os ex-diretores que operavam o esquema agiam sempre de forma particularizada neste caso de corrupção, o que ajudava a encobrir tais crimes. A audiência prossegue.