discurso de ódio

‘Não é atitude de um senador, é atitude de um pitbull’, diz Juca Kfouri sobre Aloysio Nunes

Jornalista critica fala de tucano, que disse querer 'ver a presidente Dilma sangrar'. Ele também reafirma a necessidade de combater o discurso de ódio e diz: 'Corrupção não começou em 2002'

Jaílton Garcia/Arquivo RBA

‘Não estou preocupado com quem foi para Miami (…). Estou preocupado com o trabalhador’

São Paulo – Em entrevista à Radio Brasil Atual ontem (12), o jornalista Juca Kfouri criticou o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que afirmou que “quer ver a presidente Dilma sangrar”, e cobrou limites: “Alguém dizer, como o senador da República, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), que quer ver a presidenta sangrar? Epa, para tudo! Um político que esteve exilado, porque foi da luta armada, da ALN, a exemplo do que foi a presidenta Dilma, e agora quer vê-la sangrar? Não é atitude de um senador, é atitude de um pitbull, e não dá para fazer política com um pitbull”.

Na entrevista, o jornalista repercutiu o artigo, publicado em seu blog, intitulado Panelaço da barriga cheia e do ódio, em que critica a maneira como a classe média protestou, das varandas ‘gourmets’, contra a presidenta Dilma Rousseff, durante pronunciamento oficial, no último domingo, Dia Internacional da Mulher.

Chamar uma presidenta da República, legitimamente eleita em outubro passado, de vaca não cabe em dia nenhum do ano, nunca, muito menos no Dia Internacional da Mulher”, indigna-se Juca, e explica: “Houve quem não entendesse o sentido daquilo que escrevi, foi basicamente um texto contra o ódio. Não contra a oposição, não contra a manifestação de descontentamento, mas contra o ódio classista, o ódio dos ricos em relação aos pobres.”

Sobre os casos de corrupção, fonte de descontentamento dos que protestaram, Juca Kfouri comenta: “Não que o fato de que se roubasse antes justifica que se roube agora, mas vamos parar de hipocrisia. Agora, está havendo punição. Estamos vendo empresários na cadeia. Estamos vendo políticos que pagaram pena, ou estão pagando. Isso tudo tem que ser medido. Está é uma novidade, não era assim que acontecia, no Brasil. A corrupção no Brasil não começou em 2002.”

Preocupado com a conjuntura econômica, Juca afirma que quando há crise, quem mais sofre é quem tem menos. “Rigorosamente, não estou preocupado com quem foi para Miami pensando em gastar R$ 18 mil e gastou R$ 25 mil. Estou preocupado com o trabalhador que, eventualmente, perca o seu emprego, que tenha dificuldade de pagar suas contas no final do mês.”

Contudo, para o jornalista, não há nada que justifique o tratamento dispensado à presidenta: “Uma classe favorecida profundamente mal-educada, até para se manifestar politicamente. Aquela gente que é capaz de ir ao estádio, na abertura da Copa do Mundo, e, na frente de chefes de estado do mundo inteiro, mandar a presidenta do país anfitrião da Copa, legitimamente eleita, tomar naquele lugar, ou como se fez domingo, chamando a presidenta de vaca, dentre outras palavras menos publicáveis.”

Juca Kfouri reafirma a necessidade de combater o discurso de ódio e usa o futebol como exemplo: “É o mesmo discurso que faço em relação às torcidas de futebol. Sou corintiano e olho para o são-paulino como meu rival, como adversário, que quero ganhar no campo, mas não como inimigo, porque inimigo você quer matar. Se eu tratar o São Paulo como inimigo, não vou tê-lo mais para ter o prazer de ganhar dele”.

Sobre as manifestações de hoje (13), o jornalista acredita que não é o momento oportuno, frente ao quadro de polarização com os protestos antigoverno convocados para o domingo, mas apoia a defesa do processo democrático. “Já vivi o suficiente para saber como essas coisas começam, esse tipo de movimentação golpista, e como é que elas terminam, e quanto tempo se leva para conseguir recuperar a democracia.”

Ouça a entrevista completa da Rádio Brasil Atual: