Atos de ódio nas manifestações em SP reforçam discurso de classe e antidemocracia
Para filósofo e sociólogo ouvidos pela TVT, direita se aproveita de descontentamento justo e com razão para manifestar preconceitos sociais e coloca instituições sociais em risco
Publicado 20/03/2015 - 11h15
São Paulo – As palavras de ódio, intolerância e preconceito estampadas em cartazes das manifestações do último domingo (15) em várias cidades do país – mas com mais intensidade na capital paulista – mostram a volta de um discurso de classe que pode prejudicar a democracia, segundo especialistas ouvidos peloSeu Jornal,na edição de quinta-feira (19),na TVT.
Toda essa virulência pode ser explicada pelo preconceito de classes sociais, diz o sociólogo Paulo Silvino. “Isso é a evidência de um tipo de preconceito de classe, que nem sempre é admitido, mas existe, logo é velado. E esse preconceito faz com que as classes mais abastadas possam rechaçar qualquer outro grupo que não faça parte do dele.”
Para o professor de Filosofia Vladimir Safatle, a intolerância demonstrada nas passeatas não é um fato novo e lembra que o mesmo discurso raivoso foi visto, por exemplo, em manifestações que precederam o golpe de 1964. Segundo ele, trata-se de um embate histórico entre direita e esquerda. “Uma direita extremada, hidrófoba sobre vários aspectos, que se aproveita de um descontentamento popular real, efetivo e com razão, para conseguir colocar a sua versão do descontentamento e expor todos os seus fantasmas em relação à política brasileira”, analisa.
Além do discurso de ódio em meio a protestos contra a corrupção, grupos de manifestantes também pediam o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e até a intervenção militar. Para os professores, esse discurso não pode ser tratado com naturalidade.
“Quem está pedindo o golpe militar pede tortura, pede terrorismo de Estado, pede assassinato, pede censura. Quem quer as causas, quer as consequências”, lembrou o professor.
Silvino também ressaltou os riscos e os avanços dos últimos 30 anos de regime democrático: “Eu vejo isso como um retrocesso, como um desserviço à democracia. Dentro desses 30 anos, mesmo a gente tendo alguns percalços, a gente avançou muito.”
Existe um descontentamento popular generalizado com o governo Dilma, concordam os professores, mas acreditam que as manifestações de domingo foram explicitamente convocadas pela grande mídia, que fez uma cobertura tendenciosa.
“A manifestação do dia 15 foi a manifestação mais anunciada da história da República”, disse Safatle sobre a intensa cobertura da mídia, na semana que precedeu e no dia do evento. “Já era notícia antes de ser fato. Nunca tinha visto isso.”
Silvino finalizou a reportagem, afirmando que a grande mídia relata os fatos conforme os interesses dos seus consumidores, que são, em sua maioria, pertencentes a grupos de elites.
Assista a reportagem completa do Seu Jornal,da TVT: