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Em meio a polêmicas de Marta Suplicy, petistas lotam posse de Juca Ferreira

Transmissão do cargo para ministro foi marcada por referências implícitas à senadora, que deu entrevista no domingo (11) criticando o partido

elza fiúza/abr

Juca Ferreira afirmou confiança na sensibilidade da equipe econômica à necessidade de recursos para a pasta

Brasília – Passado um dia da entrevista da senadora Marta Suplicy (PT-SP) para o jornal O Estado de S. Paulo sobre o PT, ninguém do diretório nacional da legenda se pronunciou oficialmente sobre as críticas feitas por ela aos seus principais dirigentes. Formalmente, apenas. Porque informalmente o episódio transformou a posse do novo ministro da Cultura, Juca Ferreira, hoje (12), em uma espécie de ato político de apoio à pasta e à nova gestão do Executivo no setor.

Na entrevista, a senadora chamou o presidente nacional do partido, Rui Falcão, de “traidor’, disse que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) é “inimigo do Lula” e acentuou que “ou o PT muda ou acaba”. As colocações ampliaram a crise que já estava instalada entre Marta Suplicy e o governo desde dezembro passado, quando ela entregou o cargo de ministra da Cultura e depois, quando criticou a indicação de Ferreira para sucedê-la no posto.

A solenidade contou com a participação de nove ministros do governo e vários parlamentares da base aliada. Mercadante disse que não falaria no assunto, mas destacou que Ferreira possui uma bela história em defesa da cultura e alfinetou: “O discurso dele diz tudo”.

Ferreira agradeceu o amplo apoio que tem recebido pelo governo para seu retorno ao cargo por ele ocupado entre 2008 e 2010. Em entrevista concedida antes da posse, o novo ministro da Cultura afirmou ainda que se sentiu agredido com as declarações da senadora, qualificou a atitude como “revanchismo” e chamou de irresponsabilidade “a forma como ela tratou uma pessoa honesta, com quase 50 anos de vida pública que não tem um desvio sequer”.

A fala foi uma resposta à formalização de denúncia por Marta Suplicy à Controladoria Geral da União (CGU), nos últimos dias. Na denúncia, são citadas supostas irregularidades em convênios firmados por Ferreira no período em que foi ministro (assumiu o cargo logo após a saída de Gilberto Gil), com uma entidade que presta serviços à Cinemateca Brasileira. O montante envolvido nas irregularidades seriam, conforme acusou a senadora à CGU, de aproximadamente R$ 105 milhões.

‘Não tão boa’

Juca Ferreira ressaltou que vai esperar a apuração da controladoria para se pronunciar a respeito, mas que “põe a mão no fogo” pela gestão da Cinemateca durante o período em que ocupou a pasta. Enfatizou que o problema de Marta Suplicy não é com ele e que ela “não foi tão boa como ministra da Cultura da forma como foi quando prefeita de São Paulo”.

O secretário-geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, salientou que Juca Ferreira é um “excelente ministro”. “Temos uma confiança enorme nele, que fará um mandato inovador, aberto, valorizando a cultura brasileira. É um excelente companheiro de governo”, acrescentou.

O mesmo tom foi repetido pelos demais integrantes do primeiro escalão do governo, como os ministros Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Eleonora Menicucci (da Secretaria de Políticas para Mulheres), Nilma Lino Gomes (Igualdade Racial), Arthur Chioro (Saúde), Tereza Campello (Desenvolvimento Social), Vinícius Lage (Turismo) e Carlos Gabas (Previdência Social).

O vice-presidente do PT, José Guimarães (PT-CE), afirmou que a legenda deverá tratar do assunto em reunião nos próximos dias, mas a princípio, ninguém deverá se pronunciar sobre as declarações da senadora.

Já o secretário-geral nacional do partido, deputado Geraldo Magela (DF), deu a entender que não haverá posicionamento público sobre o caso, porque se trata de um conflito interno do partido. “O PT é uma metamorfose ambulante, nós estamos sempre mudando, sempre melhorando”, frisou, dando a entender que esse tipo de confronto é natural dentro da sigla.

Caminho sem volta?

Nos bastidores, lideranças acham que o rompimento da senadora com o PT entrou num caminho sem volta e que isso poderá ser observado nos próximos meses, com a saída dela para alguma outra legenda. Mas, a princípio, há uma preocupação na cúpula petista no sentido de evitar confrontos, para que a própria senadora tome a iniciativa de se afastar.

“O entendimento feito entre os petistas, principalmente no Senado, é de que ela (Marta) está querendo um motivo para se vitimar, está agindo como um empregado que não trabalha porque está louco para ser despedido pelo patrão. A intenção é não reagir e aguardar o desenrolar dos acontecimentos”, disse um parlamentar petista.

Declarações do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), veiculadas em sites e veículos de comunicação, surpreenderam. Ex marido de Marta, mesmo estando separado da senadora há mais de dez anos, Suplicy não costuma falar a respeito de problemas que envolvam a ex-companheira. Desta vez, reagiu às críticas feitas pela senadora e enfatizou que não vê motivos para ela estar magoada com o PT, acrescentando que a ex-ministra foi mais prestigiada por Lula e pela presidenta Dilma Rousseff do que ele.

“É fato que há problemas no partido como divulgado e isso machuca a todos nós, que somos do PT, inclusive eu, que sou fundador do partido. Precisamos reconhecer nossos erros, mas ela foi reconhecida pelo partido quando foi ministra do presidente Lula e da presidenta Dilma, bem mais do que eu. Pedi uma audiência com a presidenta há um ano e meio e espero ser atendido antes do fim do meu mandato, em 31 de janeiro”, frisou Suplicy.

As declarações de Marta foram consideradas desastrosas para outros parlamentares do PT que se aventuraram a comentar a crise, como o deputado Vicente Cândido (SP). “É um desastre saído de alguém que teve todas as portas abertas pelo partido e que, justamente por isso, não deveria jogar para cima tudo o que a legenda lhe proporcionou.”

Juca Ferreira, por sua vez, afirmou que além do apoio da presidenta, está confiante na sensibilidade da equipe econômica à necessidade de recursos para o setor. “Ainda que desafiada a prover ajuste fiscal em nosso país”, disse em seu pronunciamento – em meio à repercussão dos cortes de gastos a serem feitos no Orçamento da União para este ano.

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