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Marta e Haddad fazem os primeiros lances no tabuleiro político de 2016 em São Paulo

Críticas de Marta ao PT e decisão do prefeito paulistano de convidar Gabriel Chalita para comandar Secretaria de Educação indicam que luta pelas eleições de 2016 já começou

Brazil Photo Press/Folhapress

Ex-secretário de Alckmin, quando estava no PSDB, Chalita, agora PMDB, aceita comandar Educação na gestão Haddad

São Paulo – O convite do prefeito Fernando Haddad para o peemedebista Gabriel Chalita ocupar a secretaria de Educação da capital paulista e a entrevista da ex-prefeita e ex-ministra da Cultura Marta Suplicy ao jornal O Estado de S. Paulo ontem (11), em que critica correligionários e o governo da presidenta Dilma, foram os primeiros lances importantes no tabuleiro político com vistas à eleição de 2016 entre lideranças de São Paulo. Chalita já teria aceitado o convite de Haddad. O secretário municipal de Educação, Cesar Callegari, apresentou hoje (12) o pedido de exoneração “para deixar o prefeito à vontade” para promover as mudanças político-administrativas necessárias na gestão.

Detalhe: Callegari entrou no governo no inicio de 2013 na cota do então aliado PSB e permaneceu fiel a a Haddad mesmo quando o partido de Eduardo Campos rompeu com a administração petista para que o ex-governador de Pernambuco, morto em agosto, buscasse candidatura solo.

As consequências dos ataques de Marta Suplicy e sua saída quase certa do PT no processo eleitoral do ano que vem vão depender de muitos fatores. “Inclusive do desempenho do governo Dilma, que ela converteu no centro dos seus ataques”, avalia Valter Pomar, integrante da corrente Articulação de Esquerda do partido. Para ele, a postura de Marta revela uma maneira “principesca” de encarar a política, visão também conhecida como “caciquismo” e da qual Marta não é a única representante no PT, na opinião de Pomar.

As avaliações segundo as quais Marta é uma ameaça à candidatura do prefeito Fernando Haddad à reeleição pelo PT são ainda prematuras, na opinião de Maria do Socorro Sousa Braga, professora de Ciências Políticas da Universidade Federal de São Paulo (UFScar). “Aparentemente, o objetivo dela pode ser esse mesmo, buscar através da entrevista divulgar sua insatisfação interna e lutar por espaços de poder em outros partidos para concorrer na eleição em 2016. Mas ela não ameaça Haddad tanto assim”, acredita.

Para a professora, a ex-prefeita vem se desgastando e pelo menos na cidade de São Paulo perdeu muito espaço. “Está desgastada independentemente de ser petista ou não.” Um dos fatos que teriam ajudado a minar a popularidade da senadora do PT, além de questões administrativas, como a taxa do lixo, que ela adotou quando governou São Paulo (2001-2004), foi seu conselho para as pessoas “relaxarem e gozarem” diante de problemas nos aeroportos em 2007, quando era ministra do Turismo. Marta disse que recebeu convites de vários partidos. Ela poderia ir para o PDT, Solidariedade e até PSB.

Maria do Socorro cita algumas “variáveis” das quais vão depender as chances de Marta Suplicy. Uma delas é a própria entrada em cena do deputado federal Gabriel Chalita como secretário de Educação de Haddad, sinal de estreitamento da relação entre PMDB e PT, que teria sido costurada pelo ex-presidente Lula e dificultaria a opção de por Marta no partido. “O PT conseguiu o que queria. Mas, para sabermos se ela ameaça de fato o próprio Haddad, precisamos ver essa outras variáveis, a composição do quadro.”

Outras “variáveis”, de acordo com ela, seriam um possível aumento da popularidade do governo Haddad na segunda metade do mandato, o candidato a ser apoiado pelo governador Geraldo Alckmin e a nova tentativa de Celso Russomanno, que deve se candidatar novamente pelo PRB, além do antipetismo verificado em São Paulo nas eleições de 2014. Maria do Socorro observa que, nas últimas eleições, o PT perdeu espaço para o PSDB em regiões da Grande São Paulo consideradas tradicionalmente redutos do partido, como Itaquera, São Miguel Paulista e Capão Redondo. Russomanno também tem inserção nas periferias.

Mas se a crise da água se agravar, como especialistas preveem, vai complicar para os tucanos. “Vai ser difícil, por mais que fale que a culpa é da meteorologia. Se a água acabar, eles vão ter um prejuízo muito grande nessa eleição”, diz a professora.

Para o vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, a posição assumida por Marta “é muito ruim” e mira claramente 2016. “Não parece: é um ato eleitoral. Não tem outra justificativa.” Cantalice entende que Marta não tem motivos para reclamar de não ter tido espaços no partido. “Ela foi deputada federal, senadora da República, prefeita de São Paulo. Foi candidata à reeleição (para a prefeitura, em 2004) e perdeu; para governadora, e perdeu. Por que não abrir espaço para outros? O partido por acaso tem dono?”, questiona.

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