sem divergências

Com ‘parceiro’ Chalita, Haddad prega construção coletiva da educação

Prefeito afirma, em evento de posse, que agenda da Educação deve ser estabelecida por uma 'política de Estado, não de governo', e que não haverá 'saia-justa' com petistas descontentes

Jorge Araújo/Folhapress

Haddad, com Chalita: “Dobradinha para 2016 depende dos partidos que fazem aliança. Não discutimos sobre isso”

São Paulo – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), disse hoje (15), na cerimônia de posse do novo secretário municipal de Educação de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB), que as diretrizes da política educacional de seu governo e a construção de uma agenda de Estado, e não de governo, são os pontos a se destacar na nomeação do novo auxiliar. Haddad refutou possíveis divergências político-partidárias entre ele e o novo secretário e negou que o fato de Chalita ter sido secretário do governo de Geraldo Alckmin (2003 a 2007) possa ser uma “saia-justa” ao seu governo. “Acredito que não (haverá saia-justa com setores do PT críticos à nomeação). As pessoas amadurecem. Ninguém é o mesmo dez anos depois.”

“Aqueles que buscarem divergência de pontos de vista entre mim e Chalita vão semear em solo infértil”, disse o prefeito. Segundo ele, o objetivo da nomeação é a continuidade do projeto educacional de sua gestão e a construção de um sistema educacional mais sólido. “A educação é uma construção coletiva”, afirmou o prefeito em discurso. Ele lembrou o relacionamento “republicano” com Chalita quando ele foi secretário de Alckmin e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), época em que Haddad era ministro da Educação do governo Lula.

Questionados sobre a aproximação entre PT e PMDB em São Paulo com a nomeação e uma suposta dobradinha para a sucessão municipal em 2016, prefeito e secretário desconversaram. “Isso é uma discussão para o ano que vem. Uma dobradinha depende de uma série de fatores, dos partidos que fazem aliança. Não discutimos sobre isso. Discutimos uma aproximação maior para trabalhar pela educação de São Paulo”, afirmou Chalita. “Esse tipo de especulação por parte de analista é compreensível. Mas (o analista) não falou comigo nem com Chalita”, disse Haddad.

Haddad afirmou outra vez que houve conversas com o ex-presidente Lula sobre a nomeação de Chalita, mas que a decisão foi tomada antes. “Nos frequentamos. As famílias se conhecem. Nossa amizade é antiga. Quando decidimos por esse passo, procuramos o presidente Lula e o presidente Michel Temer (do PMDB) para apresentar a eles nosso ponto de vista sobre o rejuvenescimento da política, necessidade de novos quadros para revitalizar o debate político sobre políticas públicas”, disse. “Recebemos dos dois votos de êxito e de sucesso.”

O prefeito negou que os movimentos da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy tenham influenciado politicamente a solução adotada na Educação. “Eu nem sabia da movimentação da Marta quando conversava com Chalita. Essa conversa com Chalita tem meses.” Ele novamente não quis comentar as declarações recentes da senadora atacando o PT. “Já comentei sobre isso. Participei do governo da prefeita, não cabe a mim me manifestar sobre pessoas que gosto. Desejo que a questão se supere e a gente possa avançar.”

Haddad voltou a defender que as políticas de educação devem ser de Estado e propôs o resgate do conceito que, segundo ele, foi desenvolvido no Ministério da Educação, por ele comandado a partir de 2004. “Havia no país um ambiente que deveríamos resgatar, reconstruir, aquele que separa as políticas de Estado das de governo. Tratamos a educação sempre como política de Estado.”

De acordo com o prefeito, algumas das prioridades nesse sentido são  fazer com que o governo seja “voltado para o educando, e para aquele menino da periferia que não tem outra alternativa a não ser se emancipar pela educação pública”. Ele negou que a substituição do antecessor de Chalita, Cesar Callegari, tenha sido motivada por problemas de gestão e ressaltou afinidades com o novo titular da pasta. “Nem sempre a mudança se dá a partir dessa ótica”, disse.

“Chalita é parceiro também na política, por que não dizer? Não vejo nenhuma razão para não agradecer mais uma vez o apoio que recebi no segundo turno de 2012, e o esforço que ele fez em 2010 para não permitir que teses obscurantistas dominassem o debate político da eleição presidencial. Elevou o padrão e o nível do debate”, lembrou. O apoio do novo secretário em 2012 foi considerado fundamental para a vitória de Haddad contra José Serra (PSDB) no segundo turno da eleição municipal.

Em 2010, Chalita, que é católico, deu declarações defendendo a então candidata Dilma Rousseff dos boatos espalhados pelo tucano Serra de que a petista era favorável ao aborto. “A tentativa de desconstruir pessoas com boatos é ruim. Dilma nunca disse ser a favor do aborto. Ela abordou o tema como uma questão de saúde pública”, afirmou na época, quando era membro do PSB.

Muito concorrida, a posse de Chalita teve a presença de personalidades como, entre outras, o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini; o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer; o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha; a escritora Lygia Fagundes Telles, e o secretário de Segurança Pública do estado, Alexandre de Moraes, entre outros.

Creches

O novo secretário prometeu que priorizará o problema da falta de vagas em creches em sua gestão. “Meu empenho prioritário vai ser resolver essa questão das vagas de creche”, disse. Segundo ele, as parcerias com entidades civis poderão ser uma parte da solução. “Há áreas em São Paulo que não têm terreno. Nesse caso, o caminho é unir com quem tem equipamento no local: conveniadas, faculdades, igrejas, federações e sindicatos. Se esperarmos pela burocracia, vamos passar dois, quatro anos e as crianças vão continuar esperando”, disse Chalita

O prefeito disse discordar das avaliações segundo as quais há 187 mil crianças sem vagas. “Não concordo com esse número. O número que entendo como fila é aquela que resta depois da matrícula. Antes da matrícula esse número vai ser sempre maior, o número que interessa é depois da matrícula”, afirmou Haddad. Ele apontou tanto construções como convênios, dependendo do caso, como soluções para a criação de vagas. “E também com uma política de planejamento para dez anos.”

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