Sucessão no Legislativo

Câmara vive dia de bocas de urna e últimas reuniões para eleição

Movimento intenso contou com bandeiras, cabos eleitorais, balcões com instruções para deputados e muitas articulações. Corrida por votos ainda continua à noite, em jantares organizados por candidatos

Brasília – A Câmara dos Deputados viveu um sábado de intensa movimentação nos seus corredores. Em clima de campanha eleitoral, dezenas de militantes vestidos com camisetas e bandeiras dos candidatos à presidência passaram o dia concentrados nos corredores, em frente ao espelho d’água, na entrada da chapelaria e nas áreas que dão acesso ao salão verde. Ao mesmo tempo, mesas e balcões diversos montados em frente ao anexo 2, para orientação aos deputados que estão sendo empossados pela primeira vez neste domingo (1) e seus assessores, passaram o dia sendo bastante procurados.

Até o início da noite, não pararam de entrar e sair pessoas dos gabinetes e lideranças partidárias, desde parlamentares, entre servidores concursados da Casa, correligionários, parentes dos deputados, assessores que vão integrar a nova equipe e assessores que estão entregando os cargos, numa rotina que se repete a cada quatro anos. Fazem parte desse movimento, a entrega de crachás e documentos, o repasse de informações sobre o funcionamento dos trabalhos e as instalações do Congresso, além de procedimentos diversos a serem tomados.

Também foram distribuídos folders e folhetos sobre os mais variados temas por grupos que estão, desde a última sexta-feira, mobilizados no Congresso Nacional para receber os parlamentares, embora o foco pouco tenha fugido das articulações para a eleição dos presidentes e mesa diretora.

Novatos e reeleitos

Na disputa para a presidência da Câmara, tida como a mais emblemática dos últimos 20 anos, o resultado contará com 198 novos deputados que chegam à Casa pela primeira vez. Além deles, também tomam posse e votarão no seu candidato outros 289  deputados reeleitos e 26 que estão de volta à Casa, mas já tiveram mandato parlamentar em algum momento. São estes nomes que farão a diferença no resultado, na noite deste domingo – motivo pelo qual o dia foi de muita reunião nas lideranças partidárias.

No final da manhã, durante um encontro promovido com os quatro candidatos sobre reforma política – Arlindo Chinaglia (PT), Eduardo Cunha (PMDB), Júlio Delgado (PSB) e Chico Alencar (PSol) – eles aproveitaram para desfazer mal entendidos.

Chinaglia negou a versão divulgada nos últimos dias de que o PT teria procurado o PMDB com o intuito de fazer um acordo, de forma que seria retirada a sua candidatura para apoio dos petistas a Cunha e garantido espaço da legenda na mesa diretora. Em troca, na eleição de 2017 o candidato teria de ser alguém do PT, apoiado pelos peemedebistas.

O candidato do PT disse que a notícia consiste em “mais uma tentativa de atrapalhar o jogo sucessório” e que esse acordo não ocorreu. Numa referência ao deputado Darcício Perondi (PMDB-RS), apontado como a fonte que divulgou a possível manobra, Arlindo Chinaglia afirmou que propõe a Perondi “falar na minha frente se me autoriza, porque também estou disposto a contar tudo o que sei sobre a campanha do PMDB”, num tom de confronto.

‘Governista e independente’

Já Eduardo Cunha, circulou mais em reuniões externas entre os parlamentares e evitou fazer comentários a respeito. Mas, em suas declarações, deu como certa a vitória e ressaltou não acreditar na realização de segundo turno. Num dos depoimentos, repetiu a frase que tem utilizado quase como um mantra nos últimos meses: “não serei um presidente contra o governo, mas terei uma atuação independente”.

Durante encontro entre os quatro candidatos, a reforma política foi utilizada como brecha para a troca de ironias sobre as candidaturas. Chinaglia acentuou que independentemente do tema, é importante sintonizar a Câmara com a sociedade para que seja criada uma pauta do interesse do cidadão, não necessariamente para a reforma política, mas também questões como saúde e educação, entre outras que correspondam a anseios populares. Falou como um típico candidato.

Poder econômico

Eduardo Cunha, que tem sido acusado de utilizar o poder econômico na sua campanha para angariar apoios e foi responsável por conseguir ajuda financeira do empresariado para vários dos deputados que estão assumindo sua candidatura nas últimas eleições,  lembrou o projeto de reforma política que foi elaborada por um grupo de parlamentares em 2013 (mas que contém itens criticados por muitos partidos e entidades da sociedade civil). E, em tom mais breve que os colegas, frisou que a discussão sobre a reforma deve começar por dois pontos: o modelo de eleição e o financiamento.

Chico Alencar, lançado candidato pelo PSol há poucos dias, foi mais contundente e, repetindo o discurso de Chinaglia, acentuou que principal problema das eleições é “o peso do dinheiro nas campanhas”. “Hoje, candidato competente é aquele competente em arrecadar e o candidato com chances é aquele que tem mais recursos”, afirmou, numa crítica implícita a Cunha.

Júlio Delgado, o candidato do PSB, fugiu um pouco do tema para reclamar da interferência do Executivo no trabalho dos parlamentares e o fato das atividades do Legislativo serem iniciadas este ano com duas medidas provisórias encaminhadas pelo governo, referentes a mudanças de regras em benefícios trabalhistas e previdenciários. “Quantos projetos de iniciativa legislativa não existem em tramitação na Casa que poderiam incluir estes itens? Já vamos começar tendo que apreciar medidas provisórias?”, questionou o socialista.

Reuniões nas lideranças

Após o encontro, o momento passou a ser de reuniões nas lideranças para a preparação das articulações com vistas aos lugares na mesa diretora da Casa. Os arranjos estão sendo discutidos desde ontem, mas nem todos foram divulgados.

No PSB, que teve grande número de deputados eleitos pela primeira vez, a reunião contou com a presença do governador Renato Casagrande, do Espírito Santo. Ficou definido que atuarão em forma de bloco parlamentar os seguintes partidos: PSDB, PSB, PPS e PV – conforme já tinha sido decidido provisoriamente em dezembro (e foi homologado hoje). Vão votar em Júlio Delgado (ao menos, oficialmente). O PRB também se reuniu, mas para formalizar apoio a Eduardo Cunha. E, em consequência, deverá ter alguns lugares na mesa diretora caso o candidato do PMDB seja o vencedor.

As articulações são importantes, ainda, para a definição sobre presidência e composição das 22 comissões técnicas da Casa, que será iniciada tão logo aconteça a posse do presidente e mesa diretora – e será definida ao longo da semana.

Mobilização de sindicatos

“É um espírito de festa e ao mesmo tempo de muita tensão. O Congresso que se inicia é mais conservador, apesar de tanta gente assumindo pela primeira vez com jeito e compromisso de trabalhar por uma boa legislatura. Precisamos ficar de olho”, disse Marluce Ferreira, do Sindicato de Trabalhadores em Empresas Terceirizadas do Distrito Federal. Ela chegou cedo com um grupo de colegas e passou o dia distribuindo panfletos para conscientizar os deputados sobre o PL referente às atividades de terceirização – matéria polêmica que tramita há cerca de dez anos no Congresso.

“Estamos aqui para recepcionar o pessoal que toma posse e chamar a atenção para a pauta dos trabalhadores. Esse movimento será realizado durante toda a semana, mas achamos que nossa presença no Congresso hoje e amanhã é fundamental”, destacou, da mesma forma, Robson Bonin Aragão, da CUT-DF.

E, ao contrário do período de véspera das eleições eletivas, no caso da Câmara, a campanha não acabou ainda: estão programados pelo menos três jantares entre parlamentares e candidatos do PT, PMDB e PSB em restaurantes da cidade. Ou seja, a posse deles acontece amanhã às 10 h, e a eleição às 18h, mas a busca pelos últimos votos será feita até o último momento. Disposição é o que não tem faltado para as bancadas.

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