Congresso

Aumenta temperatura na disputa às presidências da Câmara e do Senado

Candidatos trocam farpas, percorrem o país pedindo apoio e partidos se articulam para ajudar nomes indicados por PT, PMDB e PSB

montagem/agência câmara

Delgado, Cunha e Chinaglia aperfeiçoam estratégias de busca de votos de parlamentares

Brasília – Faltando 18 dias para a eleição que definirá as presidências e mesas diretoras da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o clima esquentou entre o PT e o PMDB. Os candidatos Arlindo Chinaglia (PT) e Eduardo Cunha (PMDB) passaram a ampliar as estratégias de busca aos votos dos parlamentares com performances dignas de quem disputa uma chapa majoritária para concorrer a cargos como governador ou prefeito, e trocam acusações. Nos bastidores, o que se afirma é que ministros petistas estão ajudando a pedir votos para Chinaglia em reservado, o que levou a executiva nacional peemedebista a divulgar uma nota de apoio a Cunha, numa atitude que há 15 anos não era observada por parte da legenda.

Correndo por fora está o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), em terceiro lugar nessa concorrência e fazendo um trabalho de formiguinha, em busca dos que ainda não se decidiram. Mas num país em que várias vezes o terceiro lugar terminou sendo vitorioso, tudo pode ser esperado. “Esta será uma das maiores eleições já vistas no Congresso”, antecipa-se um deputado do PSB pernambucano, que preferiu não se identificar porque está na dúvida entre o candidato do seu partido e o líder do PMDB.

O aumento da temperatura eleitoral, que foge de todos os prognósticos e contradiz muito do que foi dito nas últimas semanas, mostra a importância que terá a presidência da mesa diretora das duas Casas na legislatura a ser iniciada em fevereiro. Uma vez que 2015 será um ano difícil para o Legislativo, no qual os parlamentares assumirão seus postos cheios de trabalhos antigos para apreciar – com um estoque pesado de anos anteriores – e prestes a receber um pacote de matérias polêmicas, que serão objeto de articulação e debates acalorados.

“O governo não vai se meter em questões administrativas da Câmara e do Senado”, chegou a afirmar o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, numa de suas primeiras entrevistas à frente do cargo. “É muito diferente a disputa para as mesas diretoras e o período eleitoral no país em si. Ninguém pense que a disputa tem semelhanças com outras eleições, porque não tem, inclusive entre os eleitores. Os parlamentares costumam mostrar divisão na hora de decidir pelos seus candidatos e fazem prevalecer a posição individual”, completou Chinaglia.

“Existe uma preocupação nítida com minha candidatura que as denúncias infundadas feitas a mim, nos últimos dias, comprovam. É o que chamo de alopragem”, disse o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha, defendendo-se de acusações de que ele teria recebido propina no esquema da Operação Lava Jato, já desmentida pelo advogado do doleiro Alberto Youssef. Cunha considera-se já eleito.

Dúvidas no Senado

Nesse jogo de críticas e plataformas de campanha, os dois candidatos da Câmara têm se dedicado, desde a última semana, a percorrer os estados brasileiros para conversar com os deputados que não têm vindo a Brasília neste período de recesso.

Já no Senado, apesar do atual presidente Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato à reeleição, não ter ainda se pronunciado oficialmente, embora esteja costurando a candidatura nos bastidores, está sendo articulada a apresentação de um segundo nome. Seria uma contraposição a Calheiros – ideia capitaneada pelos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Cristovam Buarque (PDT-DF).

Os possíveis candidatos para enfrentar o cargo com Calheiros são Ricardo Ferraço (PMDB-ES), atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa, que tem feito um bom trabalho legislativo, e Luiz Henrique Soares (PMDB-SC), ex-governador e com atuação destacada no último ano na negociação de projetos voltados para revisão das dívidas dos estados e municípios com a União.

Mas a temperatura subiu, mesmo, a partir da última segunda-feira, com a descoberta de interferência de líderes partidários na disputa. Por parte do governo – que não aceita ver Eduardo Cunha, tido como um adversário antigo do Palácio do Planalto na presidência da Câmara – foi dada aos ministros com bom trânsito no diretório nacional do PT e com o Congresso, como Jaques Wagner (Defesa) e Ricardo Berzoini (Comunicações), a missão extra e reservada de tentar buscar apoio para Chinaglia.

A cúpula do PMDB se reuniu duas vezes. Inicialmente, no gabinete do vice-presidente Michel Temer ontem (13), e hoje, durante encontro da executiva nacional, para formalizar o apoio oficial do partido a Cunha, como forma de evitar a observação de divisões entre os peemedebistas.

Aliança em risco

Uma das estratégias que está sendo utilizada pelos que trabalham pela candidatura de Cunha junto aos deputados é pedir o voto nele para que seja feita uma gestão mais livre do governo – que, na visão deles, não prestigiou o partido da forma como era esperado durante a reforma ministerial.

Como essa estratégia enfraquece o vice-presidente, mostrando desprestígio de Temer na indicação dos novos ministros, o vice tratou de buscar uma conversa com o ministro Pepe Vargas, das Relações Institucionais, para pedir que o governo evite interferências nessa disputa. Foi um modo de evitar que a eleição enfraqueça ainda mais a melindrosa aliança firmada entre PMDB e PT.

Reforma política

Chinaglia promete construir um novo anexo na Câmara e fala em valorização dos deputados, mas com um tom de quem será presidente representando a base aliada. Tem uma pauta mais voltada para a aprovação de matérias que vão, a seu ver, melhorar a imagem dos parlamentares junto à sociedade, como a reforma política e a reforma tributaria, mas evita falar no projeto de democratização da mídia. E costuma destacar, durante os encontros nos quais pede votos, sua passagem pela presidência, uma vez que já ocupou o cargo.

Cunha promete fazer uma atuação independente do governo. Além disso, tem uma pauta cheia de projetos corporativistas com o mote de valorizar mais os deputados, ampliar gabinetes, colocar equipes da TV e Rádio Câmara para fazer cobertura sobre as atividades dos parlamentares nos seus estados e construir um edifício anexo para a Casa.

O peemedebista afirma que não apoia o projeto de democratização da mídia que o Palácio do Planalto pretende discutir e encaminhar ao Congresso. E reforça que assim que forem retomados os trabalhos, tratará de atuar por uma nova Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para reinvestigar a Petrobras.

Sobre uma nova CPI, Chinaglia sai em defesa do governo. Enfatiza que não se pode criar uma outra comissão sem fatos concretos, sob o risco de desgastar ainda mais o parlamento. E chegou a alfinetar que, em tempos passados, “já houve senador brigando para instalar uma comissão e terminou envolvido nas denúncias”, numa referência ao ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO), cassado por envolvimento no esquema de fraudes e evasão de divisas montado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira e comparando-o a Eduardo Cunha.

Júlio Delgado frisa que sua candidatura é diferente das outras duas e que tem o objetivo de conduzir os trabalhos com isenção, sem o radicalismo de Eduardo Cunha e sem o apoio fechado do PT ao Palácio do Planalto. “Trabalharemos pelo país, sem radicalismos nem revanches”, enfatiza, ao lembrar que postula o cargo há algum tempo – chegou a ser candidato em anos anteriores.

No Senado, as alternativas que estão sendo discutidas evitam falar nas candidaturas de forma tão enfática quanto os postulantes à Câmara, mas não escondem o contato iniciado. Ricardo Ferraço confirmou que foi procurado, mas disse que muita coisa ainda vai acontecer e é cedo para construir a sua candidatura. E Luiz Henrique da Silveira tem preferido evitar o assunto, embora, para parlamentares ligados a ele, tenha demonstrado simpatia pela ideia.

Na presidência do PMDB fala-se também que um outro nome estaria sendo costurado pelo próprio Renan Calheiros, caso ele não venha a ter condições de concorrer à reeleição. Algumas informações incluíram Calheiros na lista de políticos que podem ser citados pelo Ministério Público Federal por envolvimento na Operação Lava Jato. Caso isso ocorra, senadores peemedebistas têm dito a aliados que os mais antigos no partido pensam em indicar o senador Romero Jucá (PMDB-RR), atual vice-presidente do Congresso, para a vaga.

Placar oscilante

Conforme o placar observado em meio às conversas entre deputados e senadores e a partir dos prognósticos de petistas e peemedebistas, na Câmara, se a eleição fosse hoje, a situação estaria da seguinte forma: Eduardo Cunha teria entre 260 a 270 votos, Arlindo Chinaglia, entre 170 e 180 votos, e Júlio Delgado, entre 80 e 100. No Senado, essa conta ainda não foi feita, até porque as candidaturas não foram postas em definitivo.

Mas pode haver significativa mudança nesta contagem. A começar pelo quadro a ser formado pelos parlamentares da nova legislatura. Somente na Câmara, dos 513 deputados que serão empossados em fevereiro, 198 estão assumindo pela primeira vez o mandato de deputado federal, 24 estão retornando à Casa depois de terem passado quatro anos fora e 290 foram reeleitos.

No Senado, serão 17 novos nomes empossados e cinco reeleitos. A experiência política tem mostrado que em meio a este cenário, muito ainda pode ocorrer nas próximas três semanas. E a temporada é de plenos embates e caça aos votos.

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