ENCONTRO

Fórum quer debate permanente sobre rumos da esquerda no país

Com nome ainda provisório de Fórum de Ideias Progressistas, grupo pretende 'não perder a energia' ganha na eleição de Dilma e definir o que é possível unificar no campo progressista brasileiro

Arquivo RBA

Faixa no centro de São Paulo pede a principal reforma em debate no país desde os protestos de junho de 2013

São Paulo – Representantes de entidades, coletivos, mídia progressista, blogueiros e militantes se articulam com objetivo de promover debates políticos permanentes sobre questões fundamentais à esquerda brasileira a partir da reeleição da presidenta Dilma Rousseff. Foi esse o assunto de reunião realizada na manhã de hoje (3), no Sindicato dos Bancários de São Paulo, de um grupo – com nome ainda provisório de Fórum de Ideias Progressistas – em que se discutiram diretrizes e princípios de atuação.

Bandeiras históricas como reformas política, tributária e agrária e democratização das comunicações estão entre os temas que os organizadores pretendem manter em discussão a partir da criação oficial do fórum, marcada para dia 15 deste mês, no Sindicato dos Engenheiros de São Paulo.

“Nosso objetivo é não perder a energia que se ganhou na eleição e tentar definir o que é possível unificar do pensamento de esquerda no Brasil, considerando que o segundo turno cristalizou uma frente de esquerda para além do PT, das organizações tradicionais, o que garantiu a vitória da Dilma e, mais do que isso, a derrota do campo conservador”, explica o jornalista e blogueiro Rodrigo Vianna.

“Pretendemos que as lideranças de todos os movimentos emergentes estejam conosco, incluindo os partidos progressistas”, afirma Joaquim Ernesto Palhares, diretor da Agência Carta Maior. Segundo ele, a participação dos partidos políticos é importante para dar um caráter representativo ao fórum. “As manifestações de junho de 2013 mostraram que, sem partidos políticos, que em alguns momentos foram escorraçados das ruas, um movimento sem direção se transformou numa grande articulação de direita.” Segundo ele, o silêncio das ruas sobre a crise hídrica em São Paulo é emblemática. “Vinte centavos (das passagens de ônibus, mote dos protestos) são mais importantes do que a água? Cadê junho?”, questiona.

O diretor da RBA, Paulo Salvador, defende a articulação de conteúdos, de forças diferentes e diversas, com pessoas de mídias, de partidos, de movimentos, para discutir e desenvolver propostas no campo progressista. “O fórum é, além de um coletivo de formulação de propostas afirmativas, um contraponto aos grupos extremistas reacionários que pedem impeachment da presidenta Dilma e golpe militar e também um instrumento de luta para aprovar propostas de luta incluindo bandeiras como reformas tributária e da mídia, agrária e outras do campo progressista”, diz.

Também participaram da reunião no sindicato o professor e sociólogo Laurindo Lalo Leal, a professora de jornalismo Ivana Bentes, representantes da União Nacional dos Estudantes, Mídia Ninja e MST, entre outras entidades.

Nem contra, nem a favor

As diretrizes e opções do segundo mandato da presidenta Dilma estarão em discussão permanente. Mas, para os organizadores do grupo, não se trata de reunir forças ou ideias necessariamente contra ou a favor do Palácio do Planalto.

“Ser governista não significa ser acrítico. Estamos pobres de polêmicas atualmente. Queremos discutir, por exemplo, desenvolvimento sustentável. Queremos desenvolvimento, mas a que preço?”, resume o deputado federal eleito Orlando Silva (PCdoB-SP), partido da base e fiel ao Palácio do Planalto desde o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na visão de Rodrigo Vianna, o questionamento dos rumos das políticas governamentais são inerentes ao fórum. “O PT abriu mão de fazer o debate de ideias, desde o primeiro governo Lula, e esse espaço tem de ser ocupado. A centro-esquerda tem tido vitórias eleitorais acompanhadas de derrotas ideológicas de médio e longo prazos”, observa.

Questões relativas aos direitos humanos (como respeito à orientação sexual e descriminalização das drogas), trabalhistas (como redução da jornada de trabalho sem redução de salário) e regulação da mídia estão entre as pautas mais importantes que o governo tem deixado sem definição nos três mandatos petistas.

“Criticaremos o governo quando necessário e apoiaremos e nos mobilizaremos quando ele tomar decisões positivas no campo progressista”, acrescenta Paulo Salvador. “O governo tem contradições inerentes a uma governança com forças diferentes, com forças conservadoras e progressistas.”

“Dilma foi eleita e ela forma o governo que quer, e a nós cabe debater”, afirma Palhares sobre as opções da presidenta na área econômica, principalmente a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda.