Polêmica

A morte de JK: contestada, CNV não vê provas de crime

Posição da comissão nacional foi criticada por colegiado em São Paulo. Estudantes de Direito vão apresentar estudo

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Circunstâncias da morte de Juscelino seguem polêmicas. Comissão da Verdade paulistana discorda da nacional

São Paulo – A morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 22 de agosto de 1976, continua sendo um mistério para os pesquisadores e historiadores. No relatório divulgado hoje (10), a Comissão Nacional da Verdade acolhe a versão de acidente, contestada notadamente pela comissão da Câmara de São Paulo, coordenada pelo vereador Gilberto Natalini (PV). Amanhã, um grupo de trabalho formado por estudantes das faculdades de Direito da USP e do Mackenzie, fará audiência pública em parceria com a comissão da Assembleia Legislativa, para apresentar um relatório sobre o caso.

Segundo o grupo, o relatório é acompanhado de pareceres jurídicos que questionam o papel e a posição do Estado brasileiro na condução das investigações, além de reunir fatos, testemunhos e provas para elucidar o caso. A audiência será realizada na Faculdade de Direito da USP, no centro da capital paulista, a partir das 11h.

Presidente de 1956 a 1961, Juscelino foi cassado após o golpe de 1964 – perdeu os direitos políticos por dez anos. No exílio, participou das articulações da Frente Ampla, que reuniu ainda dois adversários, o ex-presidente João Goulart e o ex-governador Carlos Lacerda.  Os três morreriam em intervalo de meses, despertando suspeitas de complô.

No caso de JK, existem muitas contestações à versão oficial. Pesquisadores afirmam que o acidente que matou o ex-presidente e seu motorista, Geraldo Ribeiro, foi provocado. Em 2012, a CNV recebeu da seção mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) um conjunto de documentos para que fossem investigadas as circunstâncias do acidente, na rodovia Dutra. No relatório, o colegiado informa que sua equipe de peritos “coletou testemunhos e realizou pesquisas documentais, diligências e perícias para dar cumprimento a suas atribuições legais”. Mais adiante, afirma: “Assim, não há nos documentos, laudos, depoimentos e fotografias analisados até o momento, qualquer elemento material que, sequer, sugira que o ex-presidente Juscelino Kubitschek e o motorista Geraldo Ribeiro tenham sido assassinados, vítimas de homicídio doloso”.

A comissão informa ainda que “outros ditos indícios de assassinato alegados ao longo dos anos que sucederam a morte do ex-presidente” foram analisados pelo subprocurador-geral da República aposentado Wagner Gonçalves, assessor da CNV. Em seu parecer, ele também afirma que “não se justifica mais continuar afirmando que houve atentado e/ou assassinato”. Acrescenta que não se pode dizer que o regime militar não desejava a morte de Juscelino, mas “o imponderável ágil antes, para gáudio dos torturadores e assassinos de plantão”.

A comissão da Câmara paulistana vai reafirmar em seu relatório final que a morte de JK não foi acidental. O colegiado afirma que a CNV não ouviu testemunhas que poderiam acrescentar elementos importantes à investigação.